Não Olhe Para Trás

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Lynae já estava encarando aquelas cartas há horas. Todas elas eram escritas em papel amarelado, possuíam o selo vermelho sangue com o brasão da Grã-Francia, começava com as palavras "Lady Lynae" e terminavam sempre com um vago "Até breve, Príncipe Ryland".

As cartas costumavam ser mais frequentes quando Ryland era mais novo, com muito mais palavras também, mas conforme ele envelhecia e crescia elas ficaram cada vez mais escassas. Desde que o príncipe fizera dezesseis anos, as cartas começaram a vir de quatro em quatro meses, depois de seis em seis, até que chegou ao ponto em que Lynae estava, há quase um ano, sem carta alguma.

Ele deve estar ocupado treinando para governar o país em um futuro não muito distante. Era o que Lynae dizia a si mesma para se convencer de que ela não ficara entediante.

Alguém bateu a porta, o que fez Lynae soltar as cartas que segurava e tentou como pode esconde-la por debaixo de outros papeis.

Sem sequer esperar que ela respondesse, a pessoa abriu a porta e entrou. Era Elin, sua mãe, parecia radiante.

– Ei, querida! Vamos ir para o aeroporto daqui há duas horas, você está... – Os olhos dela se desviaram para as malas de Lynae que permaneciam vazias em cima da cama. – Querida, você ainda nem arrumou suas malas?

– Eu não sei exatamente o que levar. Você mesma disse que quando eu chegar vão me dar tudo novo.

– Você tem que levar tudo o que vai te fazer falta e que não pode ser reposto. – Elin se sentou na cama da princesa e passou a mão em uma das malas vazias.

Lynae suspirou.

– Não dá pra eu colocar o castelo de Olsson na mala, mãe.

Elin riu calorosamente.

– Mas dá pra colocar seus livros favoritos, seu computador, seu caderno de desenho, suas roupas e jóias favoritas, o travesseiro que você não dorme sem, esse tipo de coisa. – Sua mãe deu de ombros. – Quem sabe fotos da sua família.

Os olhos castanhos escuros de Elin viram através de sua filha, ela olhou para a mesa, o que fez Lynae ajeitar a postura para esconder os papéis, mas sua mãe era inteligente.

– Você está lendo as cartas de Ryland?

– Não, eu só estava organizando uns papéis, então achei essas cartas no fundo do armário. – Lynae deu de ombros. – Eu só dei uma olhadinha.

Sua mãe se levantou da cama e andou até Lynae, colocando a mão gentilmente em seu ombro.

– Você está preocupada por que faz um tempo que ele não escreve?

– Não, claro que não. – Ela desviou os olhos de Elin. – Ele é o príncipe regente, deve ter mais o que fazer do que escrever cartas pra mim.

Elin não era do tipo de mãe que abraçava, que fazia discursos motivacionais para sua filha e nem que a bajulava incondicionalmente como as demais mães faziam. Mas ela sempre fora um apoio para Lynae, era como uma muralha para o castelo que Lynae era, sempre a protegendo, mesmo que não fosse exatamente perceptível. Ela não ganhou palavras de conforto de Elin, mas o aperto no ombro que sua mãe lhe dera fora o suficiente para deixa-la mais confortável.

O simples fato de pensar em viver uma vida em outro país, onde sua mãe não estaria, pertencer a outra família, deixou-a subitamente pesada. Seu coração de apertou como se alguém pisasse em seu peito.

Desde que soubera que se casaria com o futuro rei da Grã-Francia, a vida de Lynae girava em torno de se tornar uma boa consorte. Aprendera como se portar como uma futura rainha, noções de diplomacia, administração governamental, estratégias militares, além de dominar várias línguas.

A Rainha da NeveWhere stories live. Discover now