Memórias de Um Urso de Guerra

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Harold Heikki já tinha sido general do exército de Norrland, ganhara uma medalha de honra e agora era o príncipe coroado do estado maior da Suécia. Ele era respeitado, querido e popular. O que Lynae não era.

Ela não seria general de nada, seria recruta e nem princesa coroada era.

Só conseguia pensar nisso, enquanto andava por aqueles corredores do quartel general da província de Oulu, que ficava muito perto da fronteira com a União Russa.

Markus decidiu que seria uma excelente ideia alista-la no quartel general mais próximo do conflito. Certamente queria assusta-la, mas Lynae sabia que se ela morresse, ele mais perderia do que ganharia, afinal, sua preciosa aliança com a Grã-Francia seria desfeita.

Lynae conhecia a reputação do exército da marinha da fronteira. Diziam que os soldados mais bem treinados, ferozes e eficientes vinham dali. Deveria ser verdade, porque apesar das investidas constantes da União Russa, eles jamais conseguiram passar pela fronteira. Não deveria ser atoa que eram conhecidos como ursos de guerra.

A princesa já tinha feito aulas de defesa pessoal, era um requisito para a realeza, saber se defender. Tinha recebido a melhor educação pelos melhores professores. Mas nunca, na vida, fizera nada parecido com o que aprenderia no exército.

Estava tentando entender porque Markus a designara para um lugar tão perigoso. Seus pais surtaram, mas o que podiam fazer? Markus era rei e o que ele dizia era lei.

Talvez ele quisesse testar o que sua preciosa arma de guerra podia fazer, antes de manda-la para um outro país para ser bibelô de um príncipe regente.

Assim que saiu do avião e se despediu de seus pais – tinha se despedido de Kate no castelo, já que ela não viajaria com ela –, um sargento chamado Koskinen a guiou pelo quartel general para seu quarto. Ele dera a ela dois uniformes de recruta, uma toalha e roupas de ginastica, que ela carregava nos braços, além da sua mala pendurada em seu ombro.

Gravado no seu uniforme estava E. Lindberg, que era o seu nome falso, para que os russos não soubessem de sua estadia ali. Se soubessem, ela seria um excelente alvo para eles.

Mesmo com um nome falso, Lynae sabia que seria impossível fingir ser Emma e não a princesa. Mesmo que não fosse muito conhecida e que não aparecesse muito na mídia snölesa, as pessoas sabiam quem ela era, no geral, por causa de seus olhos incomuns.

O quartel general era grande, parecia um enorme bloco de concreto no meio de uma floresta de pinheiros congelados. Ficava a apenas quatro quilômetros de uma porção de mar gelado que separava o país de Snöland da União Russa.

O lugar era todo cinza, azul escuro e branco. A bandeira com o brasão do reino nórdico aparecia o tempo todo, tremulando no vento gélido ou presa a alguma parede. A iluminação era fraca, o que deixava os corredores escuros e sinistros. O aquecedor não funcionava muito bem, de forma que mesmo dentro do QG uma fumaça de condensação se formava quando Lynae respirava; fora que em alguns pontos, havia cristais de gelo em forma de agulha presos ao teto.

O quarto de Lynae, na verdade, não era só dela.

O quarto não era muito grande e mesmo assim cabiam oito beliches, quatro de cada lado do quarto, separados por apenas cinquenta centímetros. As janelas ficavam no alto da parede, elas eram largas, mas pequenas em altura e eram gradeadas. No fim do quarto havia um banheiro com duas cabines, dois mictórios e duas pias.

Ela ficou horrorizada. Mictórios? Dormiria junto com homens?

– Hum... – Ela deixou sua mala e as roupas em cima de uma das camas e se virou para o sargento. – Os quartos não são separados para homens e mulheres?

A Rainha da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora