Trauma

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Quando chegaram ao apartamento de Scaramouche, Lumine o ajuda a tomar um banho descente. Mesmo um pouco corada ela se concentrou em apenas fazer com que os curativos não se molhassem, viu que felizmente ele não estava muito machucado e que ficaria bem logo. Os olhos azuis dele ficavam concentrados nela de tal forma que ela quase se sentia tímida de novo ao lado dele, porém a intimidade que construíram era bem maior e ela logo superou qualquer traço de vergonha afinal já haviam se visto nus mais de uma vez mesmo que ela não se acostumasse com a beleza de Scaramouche.

Depois de vestido e confortável os dois vão pro quarto dele e se sentam um do lado do outro na cama, por algum tempo nenhum dos dois fala nem uma palavra sequer. Scaramouche tinha muito em mente, ele imagimava por onde começar a contar cada coisa que havia passado até aquele momento e se perguntava se Lumine entenderia "é claro que entenderia seu idiota... se ela não fugiu depois de você contar que é uma nomba relógio raivosa ela não vai fugir agora. Eu acho..." ele pensa. Respirando fundo, ele toma coragem pra começar a falar tudo o que tinha que falar.

- Bom... acho que tenho que começar pela minha infância - ele diz com voz séria - até os meus seis anos era tudo normal, minha mãe não tinha muito tempo pra mim mas minha tia sempre estava lá então era tudo feliz de certa forma. Minha tia Makoto era gêmea da minha mãe as duas eram muito ligadas e por mais que minha mãe trabalhasse muito ela dava um jeito de estar perto, sempre dizendo que eu estava ficando parecido com a minha tia.

Lumine ouvia com atenção e via tristeza nos lindos olhos azuis do namorado, infelizmente ela não era capaz de mudar aquilo.

- Quando estava perto do meu aniversário de sete anos eu me lembro que tia Makoto estava organizando uma comemoração pra mim, ela e eu estávamos muito animados pra fazer aquilo então saímos pra comprar algumas coisas - Scaramouche fica tenso e parecia agoniado aquela altura - estávamos voltando pra casa, já estava escuro quando um assaltante tentou nos roubar. Tia Makoto não tinha mais nenhum dinheiro na bolsa, tudo o que havia levado era o cartão que minha mãe deixou pra comprar as coisas da festa... o assaltante ficou irritado por isso e... atirou nela.

Lumine solta uma exclamação surpresa, o choque tomava conta de cada célula do seu corpo.

- Foram três tiros na cabeça, ele também iria me matar mas as pessoas começaram a aparecer nas janelas ligando pra polícia - Scaramouche percebeu tarde demais que o calor húmido que sentia no seu rosto eram lágrimas - eu lembro... lembro de tentar ajudar ela a acordar, lembro das minhas mãos sujas de sangue, lembro de chorar e pedir desculpas pra minha tia por não conseguir protege-la. Demorou um tempo até a polícia e ambulância chegarem... não fazia diferença já que minha tia não tinha como ser ressuscitada. Me levaram pra casa e informaram minha mãe, o funeral da minha tia é a coisa mais triste que eu me lembro... não só nossa casa mas nossa vida ficou muito vazia sem ela, eu também não comemorei mais meu aniversário desde aquela época.

O coração de Lumine apertou, não fazia ideia do quanto ele havia sofrido e como deveria ter ficado traumatizado.

- Minha mãe se afastou de mim e eu passava a maior parte do tempo sendo cuidado pela mãe de Sara que era nossa vizinha, eu achava que ela estava sofrendo demais e que precisava de espaço antes de voltarmos a ser uma família como tia Makoto teria desejado - ele faz uma pausa com uma raiva melancólica se agitando dentro dele - porém se passou um ano, dois, três... eu já tinha dez anos aquela altura e a minha mãe simplesmente continuava longe, quando se aproximava parecia me odiar e quando eu perguntei a ela o por que disso ela apertou meu braço com força e me disse que a culpa era minha e que não suportava olhar pra mim. Que era minha culpa ela ter perdido uma parte dela e que não me suportava, que eu havia destruído tudo de mais importante pra ela e que se não fosse pelo meu "maldito aniversário" minha tia ainda estaria aqui.

A dor nas palavras dele magoavam Lumine de tal forma, que ela sentia que iria sufocar. Ela desejava abraça-lo, porém sabia que deveria primeiro escutar tudo o que ele tinha a dizer.

- Pouco tempo depois minha mãe se casou com minha madrasta Yae, eu pensei que com o casamento minha mãe voltaria a ser feliz de novo e talvez tudo pudesse... voltar ao que era. Eu sentia muito a falta da minha mãe - ele enxuga uma lágrima teimosa do próprio rosto, odiava se sentir frágil e quebradiço - mas aconteceu o oposto, minha madrasta não gostava de mim e só piorou quando viu que minha mãe sofria por simplesmente me ver. Ao mesmo tempo eu tive o primeiro ataque com o meu transtorno, o que só aumentou meus problemas com minha mãe em casa já que foi na escola e eu acabei machucando um colega de sala e eu provavelmente continuaria tendo problemas se não fosse uma das minhas professoras que percebeu que tinha algo errado e me levou pra psicóloga e depois pro psiquiatra pra começar o meu tratamento.

- Scara... - Lumine sussurra com o peito ardendo de dor pelo sofrimento dele.

- Minha professora falou com a minha mãe e minha madrasta sobre o diagnóstico e tudo o que envolvia e minha mãe apenas dispensou ela o mais rápido possível, depois que ela foi embora minha madrasta disse que eu era um problema ainda maior naquele momento e minha mãe concordou - os olhos de Scaramouche não tinham mais nenhum brilho - minha mãe deixou claro que só não se livrava de mim por que não podia, que se pudesse me abandonaria pra não ter mais que suportar tudo aquilo. Depois desse dia, ano após ano eu me concentrei apenas em ser invisível e em estudar ao máximo. Eu queria provar pra minha mãe que eu podia ser útil pra ela, que podia ajudar porém um ano antes de entrar no ensino médio minha madrasta disse que eu deveria entrar pra uma faculdade e sumir... que minha mãe não me queria por perto de jeito nenhum. Então eu apenas foquei mais... mesmo com Mona piorando as coisas eu consegui me sair bem o suficiente e cheguei até aqui. Quando minha tia morreu eu perdi tudo.

Lumine era apenas lágrimas naquele momento, então decidiu apenas abraçar Scaramouche o mais forte possível. Ele apenas aceitou, se permitiu ser fraco nos braços dela pelo menos naquele momento.

- Scara... - ela diz segurando o rosto dele entre as mãos e enxugando as lágrimas que ali restavam - você é absolutamente perfeito e eu sinto muito por tudo o que passou, eu queria tirar toda a sua dor do passado mas eu não posso. Mas posso tentar te fazer feliz agora mesmo não sabendo exatamente como ainda.

- Parece que você não ouviu tudo o que eu contei - ele diz sorrindo de forma amarga - eu sou problema Lumine. Eu só vou te trazer problemas.

- Que seja - ela diz - venha até mim com todos os seus problemas, defeitos, traumas e tudo o que tiver e eu ainda vou estar aqui firme por você. Tudo isso por que eu te amo Scara, eu amo você acima de todas essas coisas.

Pela primeira vez na vida Scaramouche sentiu que tinha alguém de verdade do seu lado. Pela primeira vez em muito tempo se sentiu amado. "Eu amo essa mulher, eu não quero mais nada além dela" ele pensa agarrando ela e puxando pro seu colo, os olhos dos dois brilhando singelamente um pro outro.

- Eu sei que nunca consegui dizer isso - ele começa - mas eu te amo Lumine. Te amo com o tipo de amor que eu pensei que não existia.

Ela não teve tempo de ficar surpresa com as palavras dele por que logo sentiu seus lábios sendo tomados pelos dele, naquele momento a tragédia do passado já não importava por que ela era tudo. Eles estavam felizes.

💜💜💜

Oe oe oe babys tudo bem com vocês? Eu ia postar amanhã mas não aguentei segurar, aqui está o passado problemático do Scaramouche. Me perdoem Ei e Yae stans porém sendo bem sincera eu imagino as duas fazendo coisas do tipo e eu quis trazer isso, além disso quero pedir desculpas se algo aqui foi gatilho. Enfim se gostarem deixem a estrelinha e comentários beijinhos e até o próximo capítulo 💜

P.s pra quem queria ver minha cara, essa foto vai ficar aqui temporariamente. Quem viu, viu e o susto é de vocês.

*foto já retirada*

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