1 | Criaturas da noite

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        Não sabia se era meu senso de percepção sofrendo pelo baque ou se as luzes da ambulância estavam realmente muito fortes

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Não sabia se era meu senso de percepção sofrendo pelo baque ou se as luzes da ambulância estavam realmente muito fortes. O frio era intenso, mas a manta ao redor do meu corpo ajudava. Eu estava sentada na parte de trás do carro enquanto observava, com os olhos semicerrados, o Reid caminhar por entre a multidão de policiais e chegar até mim. Ele estava segurando um bloco de notas, visivelmente nervoso, suas mãos tremiam. Interrompi os pensamentos para ouvi-lo.

— Quantos? — ousei questionar, após um momento de silêncio, ainda que não restasse vigor na minha voz. Não recebi a resposta que eu esperava.

— Só você e o Michael sobreviveram.

Eu congelei por alguns segundos, em seguida comecei a balançar a cabeça em negação. Não conseguia tirar os olhos do Spencer mesmo que pudesse sentir as lágrimas os inundarem e a necessidade de piscar incomodar. Uma equipe inteira de busca, inteira.

— Vocês não podem encerrar as buscas!

— Não tem mais ninguém lá, Barbara. Estamos nisso há horas. — dobrou os lábios. Estava doendo nele também — Todos eles estão mortos. Temos o registro de todos os policiais que estavam na operação, só sobraram vocês dois.

Desviei o olhar para a movimentação a nossa volta. O barulho das sirenes ainda me incomodava; não mais que a visão de uma maca dando lugar à outra em carros de emergência. Eu imaginava a situação de cada família representada por todos esses corpos.

— Foi uma armadilha. — concluiu ele. Conclusão essa que já havia obtido assim que o chamado fora realizado, se conheço Reid.

— É claro. — levantei rapidamente. A manta escorregou com o movimento, eu senti o frio e a fragilidade nas minhas pernas no mesmo instante, mas não sentei — É claro que foi. E nós caímos, feito marionetes.

Spencer discordou com um gesto.

— Era uma pista boa, apesar de não termos encontrado o corpo que viemos buscar em decorrência desse ataque repentino. Eu só não entendo... — caminhou de um lado para o outro, batucando a caneta em seu próprio queixo — uma coisa. Michael descreveu rosnados e ele disse ter visto um enorme cão de pelagem escura, bem diante dos olhos. Disse que eram vários, ou ele achava que era. Isso realmente bate com os ferimentos dos policiais: são mordidas, feridas provocadas por presas. Qual a ligação com os desaparecimentos? Do nada cães tomaram a floresta e exterminaram toda uma equipe de busca, o que tem por trás disso?

Paralisei, voltando a me sentar devagar. A citação do detetive à frente despertou as memórias na minha cabeça — as de quando eu ainda estava na floresta. Carregávamos lanternas por ser tarde da noite, estávamos rodeados de árvores, caminhando para onde achávamos que o corpo da Katherine, mais uma moça desaparecida e agora morta, estava. Em algum momento, ouvimos movimentação; a princípio, não parecia algo para se preocupar, até um dos agentes ser literalmente arrastado para longe por uma criatura. Eu ouvi os rosnados dos quais Michael falava, porque, seja lá o que fosse aquele animal, estava atrás de mim antes que eu conseguisse sair, estava atrás de todos nós. Grande demais para ser um cão comum.

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