10 | Sangue nas mãos

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       Um suspiro de cansaço saiu pelos meus lábios assim que terminei de fechar o zíper daquele saco preto apoiado no chão do meu porão; minhas pernas estavam uma de cada lado dele enquanto eu mantinha minhas mãos no quadril, analisando o cadáver, agora guardado, de um garoto chamado Gilbert. Passei as costas da mão para limpar o suor do meu rosto, esquecendo completamente que poderia tê-lo sujado de sangue. Com rapidez, fui até o espelho mais próximo e limpei onde estava manchado.

Decidi não perder mais tempo. Seriam algumas poucas horas de viagem até o aterro mais próximo, no entanto, considerando que já passava da uma da manhã, não podia correr o risco de amanhecer e eu não ter voltado. Pensando nisso, ergui o corpo do jovem, arrumei-o sobre meu ombro e caminhei para fora de casa, sentindo frio imediatamente pela diferença de temperatura. Abri o porta malas do meu carro, coberto por uma lona, em seguida coloquei o cadáver ali.

Expirei de susto ao fechar a porta do bagageiro e enxergar o Alex parado do lado do automóvel. Minha reação foi resmungar com tédio. O que ele estava fazendo aqui a essa hora da madrugada? Não havia momento pior para aparecer.

— O que você está fazendo aqui? — Em passos apressados, mas, ainda assim, contidos, fui até a porta que dava acesso ao meu porão e a fechei antes que o policial inconveniente desse um jeito de dar uma olhada. Não tinha dado tempo de limpar lá dentro.

— Cheguei em má hora? — perguntou, exibindo um sorriso irônico na lateral do rosto.

Não deveria nem ter aparecido; a frase estava quase sendo proferida quando Alex continuou falando e me interrompeu. Concordamos que ele sumisse, não esperava vê-lo, muito menos agora.

— O que significa isso? — Apontou para minhas mãos sujas com o sangue do Gilbert. Seus movimentos eram lentos, ele insistia em exalar superioridade mesmo sabendo que não funcionava para cima de mim.

— Nada que importe a você saber.

O mais baixo assentiu, dobrou os lábios para baixo aparentemente despreocupado, então seguiu com o olhar até meu carro.

— Posso dar uma olhada no porta malas? — Indicou com a cabeça. Era nítido que estava brincando e ironizando a situação. Eu tinha certeza que não sabia certamente do que se tratava, apesar de saber, obviamente, que não era legal.

Bati com a mão na superfície mais próxima do veículo e apontei o indicador em sua direção, falando baixo:

— Não se mete nas minhas coisas, Alex. — Abaixei a mão. — O que é que você veio fazer aqui depois de todo esse tempo? Desembucha ou dá logo o fora daqui. Anda!

O comediante fardado ergueu os dois braços como forma satírica de rendição. Confesso que o motivo da sua presença estava me deixando curioso. Tentei captar alguma intenção em sua face, suas expressões, mas não consegui imaginar o que o traria até mim novamente. Da última vez, concordamos em sair um do caminho do outro e foi para valer.

— Quando o Roux resolveu levar o marido da sua irmã — iniciou, hesitante — e você o encontrou, qual era a situação dele?

— O quê? — Franzi o cenho, desviando o olhar brevemente ao imaginar o porquê dele ter retomado esse assunto agora, depois de anos. — Por que estamos falando sobre isso?

— Qual era a situação dele? — repetiu de maneira mais lenta. Devolvi olhar sério que me direcionou.

— Não lembrava de nada, nem ao menos me reconheceu. — Suspirei — Ele estava no amontoado de cobaias iniciais do Thomas naquela época: não desviou os olhos, não trocou de posição, nem sequer piscava.

Submersos | Z.MOnde as histórias ganham vida. Descobre agora