32 | Deus sabe que eu quero me libertar

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Fort Collins, U.A.C — horas mais cedo.






Quando outra policial entrou pela porta, eu desejei algum tipo de emoção. Os outros antes dela fizeram perguntas triviais o suficiente para reduzir minha expectativa de diversão a quase zero, no entanto uma pontinha de esperança nasceu ao notar que, antes do seu tempo acabar, fariam uma última tentativa. Eu me pergunto se é neste momento que vão citar o nome da sua parceira desaparecida que não fora lembrada até então por algum motivo.

Um pouco de emoção é o que eu suplico com a mente. Um pouco de diversão poderia compensar o almoço horrível servido há algumas longas horas e o tempo no tédio à frente de policiais diferentes a cada intervalo.

O que ela poderia ter para mim?

— Thomas Alphonse Mucha Roux.

A mulher de cabelos negros na altura dos ombros sentou-se confortavelmente na cadeira de plástico do outro lado da mesa que nos separava. Eu estava com os antebraços apoiados ali quando ela começou a zombar:

— Alguns pais não têm misericórdia mesmo.

Acompanhei a risada que saiu de sua boca, mordendo o chiclete enquanto isso. Estava curioso para ver o rumo que a conversa tomaria a partir desse comentário aparentemente despretensioso e verdadeiramente apelativo. Coloquei as mãos no bolso do terno ao observar a ficha jogada entre nós e cessei os risos aos poucos, assim como Iris.

— Minha mãe gostava de arte. — Dobrei os lábios para baixo brevemente.

Sei que, se ela tivesse tido a chance, teria colocado mais sobrenomes em mim, no entanto isso não é importante e a detetive em minha frente não está interessada nisso, é claro, só está enrolando para continuar o interrogatório. E está fazendo isso porque esgotaram-se suas intimações e eu quase posso sentir no seu jeito de me encarar que ela está implorando para que eu dê com a língua nos dentes antes que Teresa passe por aquela porta.

Por isso dou corda à sua tentativa de diálogo: até onde ela pode aguentar apenas cercando uma questão vencida?

— Algumas pessoas costumam dizer que, se você nasce com um certo nome, automaticamente está fadado a um tipo de destino; é por causa disso que os pais são... loucos atrás de nomes de significado valoroso para seus bebês. — Coloquei uma perna por cima da outra. — Devem existir outras milhares de personalidades chamadas Thomas com histórias muito diferentes da minha, mas sabe o que é interessante nisso tudo?

Estiquei-me sobre a mesa para ficar mais próximo dela.

— Quando me deram esse nome, ele veio sem referências, sem história ou um destino preestabelecido. E as referências que se perpetuarem no instante em que eu morrer, senhorita, serão aquelas que eu, e somente eu, construí... — Fiz um movimento de explosão com minhas mãos, encostando-me outra vez na cadeira. — Sou eu quem dou significado ao meu nome.

Soltei um riso despreocupado ante o silêncio da minha parceira de sala. Como se não estivesse mais tão afim de manter o papo, Iris empurrou as fotos já colocadas na mesa em minha direção.

— Esse é o significado que você está construindo? — rosnou. Eram algumas inofensivas fotografias minhas perto de experimentos voluntários do Atlas. Aquilo era tão pouco que nem ela mesma acreditava em alguma eficiência. — Um legado banhado em morte, assassinato e sequestro de inocentes?

Um suspiro longo deixou meus lábios ao passo que observei cada uma das imagens. Estou desistindo de algo emocionante enquanto as seguro.

— Devo reafirmar que a dona desse local do qual você tem registros ainda está a caminho. Eu sou apenas um engenheiro conhecido que foi ajudá-la com os voluntários desse promissor projeto genético. — Sorri de boca fechada. — Talvez eu precise repetir: sim, os nossos gentis voluntários. Com isso quero dizer que sua alegação de sequestro parece uma infeliz falta de profissionalismo.

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