15 | Linha do tempo

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Perdi a noção de quanto tempo fazia que o celular do Spencer estava repetindo o mesmo vídeo sobre mistérios não desvendados enquanto ele dormia tranquilamente ao meu lado. Em algum momento da conversa, ele arrastou a sua poltrona para cá e pegou no sono.

— Ei, folgado — resmunguei ao afastar a cabeça dele que foi escorregando até o meu ombro. Apesar do xingamento, prestei atenção para ver se não tinha o acordado, depois continuei a mexer no computador.

Quase que cem por cento do conteúdo lá provinha dos casos da agência, era tudo nomeado e organizado para que não existisse dificuldade em encontrar pastas, arquivos e todo o resto. Nisso eu e Spencer éramos muito parecidos, tanto que era muito fácil me achar por ali.

Abri a pasta na qual estavam listados os desaparecimentos, passei os olhos por centenas de nomes e dados de pessoas desconhecidas por mim, então troquei a página e o aplicativo reorganizou as informações em um tipo de infográfico: por meio dos dados registrados, a plataforma entregou o resultado na forma do mapa do nosso estado, havia cores distinguindo as porcentagens.

Nenhuma das pessoas desaparecidas em Lincoln foram encontradas, elas sumiam sem deixar algum rastro; a única vez que chegamos perto de encontrar um corpo sofremos um atentado atípico em meio à floresta. O que o Spencer acreditava fazia total sentido para mim — embora não houvesse um modus operandi e nem mesmo um padrão físico ou social entre as pessoas sumidas, a conexão que o detetive via era exatamente a aleatoriedade e a falta de informação sobre todas elas.

Lincoln não foi a única cidade e Colorado não foi o único estado assolado pelos desaparecimentos. Antes de acontecerem aqui, algumas pessoas sumiram no Texas anos atrás, mas o número era tão insignificante que, anos depois, quando tudo começou aqui, ninguém interligou os casos, não havia razão para isso aparentemente.

A agência só estava, inicialmente, responsável por uma parcela de sumiços inexplicáveis, todavia Spencer e eu trabalhamos, não oficialmente, por meses em uma lista detalhada com todos que sumiram dentro das fronteiras do estado. Ele queria ter certeza de que nossa suposição não era descartável. Policiais de outras unidades colaboraram e conseguimos completar os dados afinal.

Mas não havia padrão, não havia justificativa plausível, não havia sequer um período de tempo semelhante entre o desaparecimento de um e do próximo — nada que interligasse tudo.

Pensei em Zayn e na possibilidade de que ele fosse uma das pessoas dessa teia de aranha enorme. Se fosse, teria sido como se tivéssemos encontrado uma agulha no palheiro. Eu acreditei que estava bem perto de provar que sim quando mandamos a equipe à Nebraska, no entanto os resultados não atingiram a expectativa.

Abri novas páginas de pesquisa que falavam sobre desaparecimentos em outros estados americanos. Não tínhamos como comprovar que, de fato, aquilo se tratava de um caso só, contudo, para chegar a algum lugar, tínhamos de partir de algum lugar, de um pressuposto. Supondo que estamos certos, a linha do tempo de sumiços aponta Texas como ponto de partida, Oklahoma em seguida, então Novo México e Colorado.

Tirei um print do mapa e fui riscando a ordem na aba do aplicativo de edição no notebook, anotando os nomes dos estados nas notas do celular.

Kansas e Arizona vieram depois.

Utah.

Nevada.

Cocei o início da sobrancelha enquanto checava os anos registrados para ver se estava montando corretamente a linha do tempo. Passei por mais alguns lugares antes de prestar atenção nas anotações feitas sobre Nebraska. Ajeitei o corpo na poltrona, esfreguei os olhos levemente e soltei um suspiro pela boca. Algo nas datas me fez lembrar do diário da esposa do Zayn: a única marca de tempo que ela havia feito naquelas páginas foi quando ele foi dado como desaparecido, em seguida como morto — havia um espaço de pouco menos de três anos entre as duas marcações.

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