8 | Morto

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Zoe havia sujado o vestido inteiro com o sorvete de morango do parquinho. Por azar, eu a tinha vestido com uma peça de roupa clara. Ela não se importou muito como já era de se esperar, logo voltou a correr atrás de uma borboleta que circulava por perto do banco de madeira no qual eu estava sentada. Uma das mãos meladas com doce, a outra perseguindo a amiguinha colorida, isso bastava para entretê-la.

- Fico admirado com o quão espoleta ela é - o Tyler, sentado ao meu lado, iniciou o comentário sobre sua sobrinha. - Fosse você, ficaria no banco com algum tipo de livro entediante, mesmo com tão pouca idade.

Tive de revirar os olhos para a observação mal intencionada do meu irmão mais velho. Assim que acabei o gesto, eles se voltaram para minha filha.

- Para sua informação, Zoe adora ler.

- Eu sei bem. Só quero dizer que ela é menos cuidadosa do que você costumava ser.

- Bom, ela não tem só os meus genes - observei seu rosto por algum tempo antes de levantar e comprar um sorvete, na barraca próxima, para mim e para o Tyler. Ao voltar, perguntei: - A Emily não já deveria ter voltado de viagem? Faz tempo desde que nos falamos pela última vez.

Ele esticou os dois braços, apoiando-os no encosto do banco e colocando um dos tornozelos apoiado na própria coxa. Zoe chamou minha atenção enquanto meu irmão se preparava para responder.

- Mamãe, eu posso brincar com os patinhos?

- Claro. Só não muito perto do lago - disse alto devido à distância entre nós.

Mordi outra parte do sorvete de abacaxi, sentindo os cantos da minha boca adormecerem pelo gelado. Guiei o olhar para o Tyler.

- Era sobre isso que eu gostaria de falar.

Aquela cara. Ele estava com aquela cara de quem procurava o jeito certo de dizer alguma coisa terrível.

- Ah, não. O que foi? - Virei de lado a fim de vê-lo melhor. - Ela conheceu um italiano e resolveu se casar?

Meu irmão odiava a ideia da Emily se casar novamente por motivos que desconheço, entretanto imagino: um deles é o ciúme; o outro, a necessidade de adaptação. Dele, não dela.

- Seria uma realidade horrorosa, mas não.

- Então o quê?

- Nossa mãe quer que nos mudemos para Verona. Aparentemente, o tempo de férias dessa bagunça de Fort Collins fez muito mais do que apenas distraí-la.

Sua feição estava preparada, esperando uma reação desesperada de minha parte. De fato, internamente, eu me encontrava a beira do desespero. O que se passava na cabeça da minha mãe?

- O quê?

- É. Ela sugeriu de irmos eu, Allison, Zoe e você. Já está pensando até mesmo sobre casas e oportunidades de emprego na região.

Ainda tentava digerir a informação ao passo que o ouvia acrescentar mais algumas.

- Assim: de repente? - Tyler assentiu. - E por que ela não quer voltar?

- Talvez porque aqui haja muitas memórias, Barb, mesmo com a primeira mudança ainda estamos na cidade. Perdemos o nosso pai, você perdeu o Scott e, querendo ou não, seu processo de recuperação foi exaustivo para vocês duas, para toda a família. Não tem nada que a prenda a este lugar.

- O que você pensa sobre isso?

- Tenho responsabilidades aqui, porém a Allison adorou a ideia, gostaria de se mudar, então eu teria que pensar mais um pouco.

Submersos | Z.MOnde as histórias ganham vida. Descobre agora