27 | Submersos

16 0 0
                                    





Tudo o que eu pude ver quando acordei foi o céu. Era dia, a luz forte entrava pelo vidro no teto e percebi que entrava pelas laterais também no momento que olhei ao meu redor ainda deitada. O colchão embaixo de mim era confortável, o edredom mantinha-me quente. Levantei o tronco rapidamente, sentindo uma pontada forte no meu lado esquerdo, na altura da costela. Reclamei com um gemido baixo.

— Bom dia! — Assustei-me com a saudação alta que desviou minha atenção de procurar o motivo da dor na costela. — Eu estava esperando ansiosamente que você acordasse.

Encolhi-me mais na direção da cabeceira daquela cama enorme ao olhar o rosto da mulher falando comigo. A sua voz, sua aparência, sua forma de se mover era idêntica à minha. Seu rosto era igual ao meu, tão fiel a este último como um reflexo no espelho seria.

— Não se preocupe com o corte — falou quando me viu colocar a mão em cima da minha costela. — Você acabou não sendo muito passiva no caminho até aqui, mas eu te coloquei um curativo e vai ficar tudo bem.

Ainda era difícil prestar atenção em algo que ela dizia, afinal eu estava olhando para mim mesma.

— Aqui. — Levantou, dedilhando a gaveta ao lado da poltrona onde sentava; de lá tirou um frasco pequeno, em seguida caminhou para perto. — Analgésico.

Não disse nada, porém também não peguei o comprimido tampouco o copo d'água. A outra Barbara então sentou-se na ponta da cama, próxima a mim.

— Não quer?

— Onde estamos? — perguntei, notando que os vidros ao nosso redor mostravam apenas o céu como se estivéssemos paradas entre as nuvens. Ela sorriu de lado ao esticar-se para colocar o copo na cômoda.

— Não confia em mim? — Diante do meu silêncio, voltou a falar: — Talvez assim seja melhor.

Num passe de mágica a mulher que era eu ganhou barba, cabelos negros, olhos castanhos e tatuagens; de repente, o Zayn estava em frente aos meus olhos, tocando-me as mãos. Fiquei assustada o suficiente para deixá-las nas dele.

— Meu amor — Passou a língua entre os lábios assim como Zayn costumava fazer; exatamente do mesmo jeito —, o analgésico vai fazer esse incômodo na sua barriga passar. Toma.

Observei a minha imagem em sua íris tão familiar. Ainda assim, sabia que não era quem eu pensava ser, mas também não sabia como aquilo era possível, afinal, há dois segundos, eu estava olhando para mim mesma.

— Onde nós estamos? — Minha voz saiu por um fio, quase inaudível — Quem é você?

Não esperava que ele fosse responder apesar de ter perguntado, no entanto Zayn levantou e caminhou em passos lentos até a parede de vidro à esquerda da cama. Segui com os olhos.

— Não precisa estar assim tão assustada — disse, olhando para fora. — Vem ver onde estamos.

Hesitei. Quando o homem continuou parado, fitando aquele céu, coloquei as pernas para fora da cama e levantei, indo até o vidro lentamente por causa das pontadas na minha costela. Notei que eu estava vestida numa espécie de macacão preto colado e confortável; e descalça.

De frente para o grande quadrado transparente, passei os olhos por toda a paisagem do lado de fora — o silêncio e a cor azul do céu traziam alguma calma. Fiquei imaginando o resto da estrutura desse lugar, de que maneira chegamos aqui e com qual objetivo; a cada segundo, mais perguntas surgiam dentro da minha cabeça.

— Olha! Lá vem o Matthew. — Zayn esticou a cabeça para ver o caça que vinha na direção paralela à nossa. Fiz o mesmo. Nesse momento, as mãos do homem ao meu lado foram espalmadas em minhas costas, o que foi suficiente para que meu corpo, de um jeito surpreendente, transpassasse o vidro em vez de bater contra ele. Um grito desesperado deixou meus lábios.

Submersos | Z.MOnde as histórias ganham vida. Descobre agora