4 | Os cães

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      Observei a Zoe colocar a mão no peito como todos os outros detetives e policiais presentes no funeral. Sua febre e dor de garganta havia passado com o medicamento. Eu estava segurando-a em um dos braços, o outro fazia o gesto de homenagem enquanto Holt fazia a gentileza de segurar o guarda-chuva acima de nossas cabeças, pois posicionou-se ao nosso lado.

Segurei o lábio inferior ao vê-la deixar sua pequena mão ali, como se soubesse e sentisse cada perda no íntimo; seus olhos mantiveram-se atentos ao discurso da Megan sobre a vida e o serviço daquelas pessoas que faleceram na busca pelo corpo na floresta, dias atrás. Não consegui impedir as lágrimas de escorrerem por minhas bochechas quando cobriram parte dos caixões com a bandeira do nosso país. A chuva impedia de ter uma ótima visão, mas doía como se tivesse.

— Você está triste? — escutei a voz da minha filha. Abaixei o olhar, encontrando o dela, bem curioso preocupado. Eu sorri sem mostrar os dentes, porém meu lábio inferior tremeu e eu assenti para ela que segurou meu rosto com as duas mãos, esticando um bico para beijar onde estava úmido. Minhas sobrancelhas ergueram-se com tamanha fofura, embora a garotinha parecesse séria e comprometida com o ato de consolar. — Estou aqui com você, mamãe.

Então Zoe deitou a cabeça em meu ombro, começando a enrolar os dedinhos em meus fios de cabelo alcançáveis; levei os olhos até o Holt que nos observava, ele deu um sorriso sincero, assim como o que eu abri em seguida, balançando-a no colo.

— Obrigada, meu amor. — sussurrei — Eu te amo.

Fiquei mais alguns minutos acompanhando a homenagem da Megan até que terminasse e a distribuição de pétalas por cima dos caixões começasse conforme eles iam sendo abaixados aos poucos. Havia uma música no fundo. Devagar, as pessoas foram dispersando-se no ambiente, outras deixaram o local.

Tempo depois, a chuva parou, no entanto ainda era difícil se equilibrar apoiada em um salto em meio à grama molhada e fofa. Estava prestes a voltar para casa antes de perceber o Spencer parar ao meu lado, olhando o espaço onde aconteceu o enterro. Olhei-o de soslaio.

— Podemos conversar?

Eu tinha um palpite sobre o assunto de seu interesse. Esperei que terminasse de acariciar as costas da minha filha como forma de dizer-lhe "olá" para responder:

— Spencer — Virei minimamente a cabeça em sua direção —, eu estendi a licença, você sabe.

— Sei. Mas ainda podemos ter uma simples conversa, não podemos? Sem maiores comprometimentos.

O detetive estava com suas mãos nos bolsos da calça preta — a mesma cor do resto de suas roupas e das minhas. Ele permaneceu me encarando até que eu reagisse à questão, logo voltando sua atenção para frente.

— Não na frente da Z-o-e. — soletrei a última parte a fim de que ela não compreendesse que estávamos excluindo sua participação no assunto. Reid assentiu.

Como se o universo estivesse a seu favor, minha filha levantou a cabeça e esforçou-se para me indicar que gostaria de ir para o chão. A princípio, eu não entendi, já que o lamaçal do solo não parecia mais convidativo do que o colo, contudo compreendi no momento em que ela exclamou:

— Tio Tyler!

Deixei que descesse ao visualizar a figura do meu irmão ao longe, vestido com um sobretudo e sapatos sociais. Era estranho vê-lo usando esse tipo de roupa. Cruzei os braços e observei-o agarrar sua sobrinha com saudade, fazendo que risse por algum motivo. Dei um sorriso quando se aproximou.

— Desculpa o atraso, problemas no paraíso. — Esse era o código para problemas com a Allison — Já estou pronto para ser babá! Vamos embora?

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