30 | Esse é o seu bebê

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Dias atuais, norte da Califórnia



Abre os olhos, ei! — Mãos finas balançaram meu rosto levemente. Forcei minhas pálpebras uma contra a outra ao tentar abri-las e sentir a luz do local queimar minhas vistas que, aliás, estavam embaçadas agora. Via um borrão loiro inquieto conforme minha cabeça balançava para lá e para cá. — O meu pai foi preso! Nós temos algum tempo.

Resmunguei, tentando impedir aquelas mãos de continuarem incomodando. Pisquei mais vezes até conseguir enxergar com nitidez. Quando isso aconteceu, senti uma dor forte no braço direito, em seguida o borrão loiro — o qual percebi ser Neal, bastante apressado — foi para meu lado esquerdo e puxou uma espécie de cabo enorme com uma agulha na ponta do meu outro braço. Doeu como da primeira vez.

— O que está fazendo? O que é isso? — Ele estava indo para meus pés. Tirou os acessos da minha panturrilha enquanto eu reclamava de dor. Meu corpo solto fraquejou e o garoto segurou-me firmemente em seus braços. — Onde estamos?

— Calma, eu estou te tirando da simulação. Você não move o corpo conscientemente há dias, vamos devagar com isso.

Minha respiração estava ofegante porque eu não podia sentir meus membros obedecerem, era como se estivessem todos tremendo. Neal abraçou-me por baixo dos braços, levou-me para fora do quarto de vidro e sentou-me em uma cadeira rolante estofada. Olhei ao redor. Agora, do lado oposto à jaula, eu a enxergava melhor: era uma caixa retangular envidraçada, bem iluminada e com cabos pendurados ao teto; estes estavam ligados em mim. Levantei os cotovelos, tentando notar algum ferimento.

— Aqui. — O loiro apareceu com uma seringa pequena em mãos. — Isso vai ajudar.

— Que isso? — Afastei-me. Esse lado do lugar parecia mais com uma sala de informática, mas sem computadores; havia uma tela flutuante e iluminada atrás do Neal, se é que eu podia chamar isso de computador.

— Soro pós simulação. É para o tremor e vai ajudar a recuperar sua força nos membros também. — Esperou, em silêncio, por uma permissão. — Posso?

Balancei a cabeça. Ainda um pouco desconfiada, deixei que movesse meu cabelo para trás, empurrasse meu pescoço para o lado e aplicasse o líquido naquela região. Era bem gelado, com certeza muito dolorido. Apertei os olhos até Neal acabar.

— Pronto, vai ficar tudo bem. — Deu meia volta, indo descartar a seringa metálica.

Encolhi o queixo para ver meus fios de cabelo apoiados em meu peito: estavam devidamente penteados; não sabia se era a luz ou alguma outra coisa, mas também parecia brilhar. Eu vestia o mesmo macacão justo e grosso com botas do meu tamanho exato. Enquanto analisava a mim mesma, lembrei do que o garoto tinha falado quando acordei.

— O que aconteceu? Por que você me desligou?

— O Thomas — Retornou para perto agora segurando uma balinha redonda verde-água —, ele foi preso.

— Preso? — A surpresa era evidente no meu tom de voz.

— Com fome? — Ofereceu a bala. Peguei ainda sem entender. Neal ficou em silêncio até eu colocá-la na boca. Conforme mordi, ela estourou em pedacinhos que mastiguei de bom grado, porque eram docinhos e agradáveis. — Bom, eu não sei como se chama isso na língua da lei de vocês, mas parece que ele está na sua unidade de polícia sendo vigiado.

Eu o ouvi ao mesmo tempo que senti meu estômago sentir-se aliviado. De repente, parecia que eu havia acabado de comer à beça.

— Isso não quer dizer que ele esteja preso — expliquei ao mais novo. — Espera. Você disse que seu pai estava preso.

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