2 | Eu sou ele

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        Enquanto adentrava novamente o corredor da agência, eu pensava sobre o caso que ainda estava em processo de investigação. Antes de sair para buscar café, eu havia olhado novamente as fotografias das pessoas desaparecidas, havia lido suas fichas e relembrado o depoimento dos familiares. Imaginei o motivo pelo qual parecia que estávamos sempre dando de cara com uma rua sem saída — nenhum padrão, nenhum rastro, nenhuma pista. A única pista encontrada sobre um dos desaparecidos levou a equipe para uma chacina.

Quando fechava os olhos, podia ouvir nitidamente a voz do Alex conversando comigo sobre os casos. Não fazia muito tempo desde o início da investigação, mas ele tinha o palpite de que estavam sendo mortos. Eu, por outro lado, não conseguia encontrar evidências que provassem isso, portanto não ousava presumir nada.

Virei à direita em outro corredor, cumprimentando algumas pessoas dentro das salas. Senti uma leve dor de cabeça incomodar, então comecei a pensar em que lugar havia guardado o remédio, porém as pontadas doloridas foram aumentando conforme eu andava, tomando tamanha intensidade que eu tive de parar no meio do caminho. Apertei os olhos e segurei firme o isopor em mãos.

Mortos. Acho que estão mortos. — De repente a fisionomia do Alex em minhas memórias tornou-se a da minha mãe em um passe de mágica. Ela me encarou, tocou o meu braço carinhosamente e conteve as lágrimas ao dizer: — Ele morreu.

Voltei à realidade com o som de burburinhos vindo do ambiente ao lado. Estava tudo em silêncio até então, não havia ninguém no corredor e, apesar de ainda tentar recuperar o ritmo da minha respiração, me aproximei para entender o que estava acontecendo.

— A situação de ontem já foi tensa o suficiente. Foram muitas mortes, não podemos dar esperança. Você quer saber a minha opinião? Não deviam tê-la deixado voltar. — Megan, uma das mulheres que trabalhava comigo, dizia a alguém cuja identidade não podia perceber — Não agora.

— O que você quer dizer? — a outra voz respondeu.

— Foi um trauma horrível, ninguém passa por isso e volta a ficar bem em alguns meses, Rich. Nós sabemos que está afetando a forma como ela trabalha.

— O Reid confia nela. Eles estão guiando a investigação juntos. — Os dois ficaram quietos por um momento, escutei alguns passos.

— Eu não confio.

Apressei o andar para sair do corredor mais rápido do que algum deles seria em deixar aquele cubículo. Ao chegar na minha sala, deixei a bebida em cima da mesa, próxima aos papéis que também estavam ali. Caminhei de um lado para o outro, imaginando o que eu deveria fazer. Não posso culpar meus colegas por duvidarem da minha eficiência como profissional, talvez Megan esteja certa e uma parceira que não tenha se esquecido da sua própria identidade seja o melhor para o Spencer. Tirei o celular do bolso e disquei o número dele.

— Spence, oi. — saudei quando atendeu — Eu sei que está com seu pai agora, mas podemos conversar rapidinho?

É claro, Barb. Demos uma pausa no pôquer, o velhinho quase levou todo o meu dinheiro! — ele riu, despreocupado, e o acompanhei — O que aconteceu? Está tudo em ordem na agência?

Hesitei. Por algum motivo hesitei em dizer. Talvez por saber que o Reid jamais me deixaria desistir do caso, ainda que eu implorasse, ou porque era mesmo muito difícil admitir que você não era suficiente. Aproximei-me da janela enorme que tinha no local, parcialmente coberta pelas cortinas, em seguida observei o movimento do outro lado.

Submersos | Z.MOnde as histórias ganham vida. Descobre agora