Nove: Aquele em que o Gerard narra.

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    Não trocamos uma palavra desde o momento em que entrei no carro até chegarmos em casa. Eu sentia o clima pesado mesmo quando Mikey, sentindo minha tensão, punha a mão em meus ombros e sorria amigável. Não conseguia evitar sentir culpa.

   Mamãe me lançava alguns olhares estranhos através do retrovisor interno, fazendo-me estremecer.

  Ele continuava aconchegante, mesmo que em alguns pontos de suas paredes a tinta já estivesse em falta e a fita de alguns posteres já não mais os segurasse contra parede. Aquele quarto sempre fora o meu lugar favorito no mundo, ele quem me viu gritar e chorar, sorrir e cantar, morrer e renascer, sozinho. Toda a minha história estava ali, no quarto em que eu e Mikey costumávamos a passar horas brincando juntos.

   Meus devaneios de adoração pelo local são interrompidos pelo batucar de meu irmão em nossa porta.

-Podemos falar um pouquinho? -Ele diz, adentrando o local e fechando a porta atrás de si.

-Claro.

-Já te disse que senti sua falta, não é? -Mikey abriu um sorriso, parecido com aquele que eu amava ver, mas ainda não era ele. Meu irmão se aproxima, envolvendo-me em um abraço.-É bom ter você de volta, irmão, tão bom!

-Não faz assim, Mikey, você sabe que eu sou bem emotivo.

   Gargalhamos juntos e ele passou a mão pelo canto de meus olhos como se limpasse uma lagrima.

-Vai por o seu pijama, descansar um pouco. Tô sentindo a porra do seu hálito alcoólico daqui.

-E-eu não bebi muito, Mikey, foram só dois copos que o Ray me deu e... -Fui interrompido pela mão de meu irmão em meu ombro e seu sorriso acolhedor.

-Tá tudo bem, você não me deve explicações alguma.

   Eu não pude evitar, o abracei forte, muito mais forte do que já havia feito qualquer outra vez. Sentia verdade em meu irmão, ele era e sempre seria o meu porto seguro e eu odiava o fato de que ainda não o havia salvado do inferno que é "nossa" casa.

Mikey se levanta, deitando-se em sua própria cama e respirando fundo.

-Lembra de quando éramos crianças e esse quarto virava uma Estação Espacial? Nós lutavámos contra aliens super poderosos. Sinto falta desse tempo, daquela inocência. -Ele diz melancólico, sorrindo fraco para o teto.

Me levantei, aproximando-me e me ajoelhando ao lado de sua cama. Me ocupei em acariciar seus cabelos descoloridos, ao que observava os traços de sua feição. Meu irmão era um homem, o tempo havia passado.

-Você merece o mundo, sabia? -Ele me encara.- Se eu pudesse, tiraria você desse lugar e daria a melhor vida do mundo e eu juro que tô tentando. E-e eu vou te retribuir todo esse apoio, eu prometo!

-Gerard, você sabe que essa coisa de irmão mais velho salvador da pátria é só uma lenda para filhos primogênitos dormirem, não é?

          Fiquei em silêncio. Era nítido que não sabia. Mikey sempre fora mais esperto que eu.

-Você pode me fazer um favor? -Ele questiona, deitando-se de lado de forma que ficava face a face comigo.- Me conta uma daquelas história para dormir, como fazia quando éramos crianças?

-Claro! -Levantei-me, cobrindo Mikey até a altura de seu peito com seu cobertor. -Era uma vez, um lindo menino chamado Mikey. Ele tinha um bom coração e amava unicórnios, mas todos sempre diziam que eles não existiam. Um dia, caminhando pela floresta, Mikey encontrou um lindo portal lilás brilhante que o deixou encantado e...-Fui interrompido.

Hig School For Bad Good Guys (Frerard, Livro 1)Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ