Capítulo 18. De volta ao passado

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Há 20 anos...

Londres, 23:45 P.M

— Ele é uma aberração! — A voz rouca gritou, o grito não conseguindo ser estridente o suficiente já que as paredes de tijolos e a porta de correr abafavam o som.

Os ombros do pequeno garotinho se encolheram, os olhos azuis e redondos cheios d’água com as palavras duras do pai. Ele não entendia o que significava a palavra aberração, mas com certeza não era um elogio, não tendo em vista que estava ouvindo seus pais discutirem por horas.

O pequeno Josh agarrou com mais força o seu ursinho de cor roxa, os pequenos lábios fininhos se comprimindo enquanto ele tentava não chorar alto. O corpo pequenino e rechonchudo estando vestido por um pijama azul marinho com estrelas douradas, as pantufas se perdendo no caminho pelo corredor já que a criança se encontrava sentada atrás da porta do escritório de seu pai.

— Não é pra tanto, Troy! — Ouviu a voz de sua mamãe o defender. — Ele é apenas uma criança, o que aconteceu no parque foi apenas um acidente e...-

Bom, o que Marta estava tentando explicar ao marido não era bem uma mentira, já que o pequeno Josh nunca machucaria outra criança ou qualquer outro ser vivo, então obviamente havia sido apenas um acidente.

Um acidente que, na verdade, nem o pequeno conseguiria explicar.

Mas havia acontecido, mais cedo, após a missa de domingo, os pais do pequeno Josh o levaram até o parque para que o garotinho pudesse brincar com os seus amiguinhos e aproveitar alguns minutos de lazer, como toda criança deveria.

O que Josh não esperava era que um outro garotinho, esse sendo inclusive maior que o pequeno, destruísse o castelinho de areia que Josh havia feito, logo em seguida roubando o ursinho preferido de Josh para si.

Os olhos azuis se encheram d’água no mesmo minuto, e Josh procurou por seus pais, que estavam ocupados demais conversando com outros adultos, e quando Josh se levantou e tentou pedir o ursinho de volta a outra criança, ele foi empurrado para a areia mais uma vez.

E o que aconteceu depois foi apenas um mistério, já que o outro menino foi empurrado por uma força quase que sobrenatural, a queda ocasionando em um braço quebrado.

O único instinto do pequeno Josh foi sair correndo em direção ao seu ursinho, e após pega-lo, voltou correndo até os seus pais. Aquilo havia sido extremamente assustador. E havia vindo dele.

— Não seja uma idiota, Marta. Na sexta-feira eu vi Josh fazendo carinho em uma cobra! — Troy exasperou e Josh se encolheu ainda mais atrás da porta. — A porcaria de uma cobra, o animal mais frio e peçonhento simplesmente recebendo carinho no colo do nosso filho!

— O Josh é apenas uma criança! — Marta gritou.

— Uma criança amaldiçoada! — Troy voltou a gritar. — Os filhos dos Watson’s tem medo dele, sabe por que? Porque esse bastardo os assustou prevendo que eles ficariam órfãos! — E o que pareceu ser um jarro de vidro se chocou contra a parede, o barulho dos diversos estilhaços se chocando contra o chão em seguida.

Longos minutos de silêncio se estenderam, enquanto Josh permanecia encolhido atrás da porta, o corpo pequenino trêmulo devido às acusações de seu pai, seu próprio pai. E as lágrimas grossas molhando as bochechas gordinhas já vermelhas pelo choro.

— Eu... Eu não sei. — Marta suspirou por fim. — Talvez devêssemos consultar o padre Phillip, ele saberá o que fazer.

— Não quero que todos fiquem sabendo sobre isso, as pessoas dessa cidade falam demais e eu não quero a reputação da nossa família no lixo. Não quero ser associado a alguma espécie de bruxaria ou pacto. — Troy bateu a mão contra a mesa de madeira. — Se você quer ter um marido e um título, deverá cuidar do nosso problema. Não é como se nós não pudéssemos tentar novamente.

Bewitched || N.B Donde viven las historias. Descúbrelo ahora