3 - O Último Homem

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Dia 0 - Prisão de Segurança Máxima

6:30h da manhã...

Murphy apoiou os braços na porta da sua cela, olhando o guarda e sorrindo torto.
- Qual é? Agora quer meu sangue, também?
O guarda o olhou. - O enfermeiro irá recolher apenas para análise. Já basta ter vocês aqui, não precisamos de que...
Os dois, o guarda e o enfermeiro, caíram no chão, desacordados.
Murphy pulou para trás, erguendo as mãos.
- Eu não fiz nada, hein? - Falou, num tom de voz mais alto, mas sua voz ecoou pela prisão.
Ele franziu o cenho e se aproximou da porta.
- Hey! - Gritou. - Tem dois caras caidos, aqui! - Ele bateu com a ponta da bota, passando o pé pela porta, na perna do guarda. - Oh amigo. Hey. Acorda aí, pow, vai me trazer problemas. Andou fumando maconha, foi? Oh, senhor!
Nada. O guarda continuava desacordado.
Murphy olhou o corredor. - Mas cadê todo mundo!? - Gritou. - Vou já avisando, que não vou ser condenado novamente por mais duas mortes que  não foi culpa minha, viu? - Esperou, mas ninguém respondeu. - Hey! Tem alguém aí, cambada de urubu!
Depois Murphy percebeu que nas celas em frente, do outro lado do corredor e do espaço que deixava ver o andar de baixo, todos os prisioneiros estavam caídos no chão.
Franziu o cenho. - Mas que merda?
Bateu com força na porta, gritando.
- Hey! Tem alguém aí? Socorro! Tem pessoas caídas aqui! Oh de casa!
Sem ser o eco da sua voz, nada mais se ouvia. Nem pessoas, nem aparelhos electrónicos... Nada.
Murphy ajoelhou no chão, esticando o braço e puxando o corpo desacordado do guarda, retirando as chaves que ele trazia presas no cinto.
Depois olhou ele, e, a medo, tocou no seu pescoço. Deu um pulo para trás, fazendo força com as pernas e se afastando tanto quanto era humanamente possível dentro da cela.
O guarda estava morto!
O enfermeiro estaria também? Aliás, todos os prisioneiros estariam mortos?
Depois de um minuto, Murphy levantou e ficou experimentando cada chave, até achar a certa para abrir a sua cela. O som que indicava que uma porta tinha sido aberta surgiu, assustando ele, que parou no mesmo lugar, mas ninguém surgiu.
Ele passou por cima dos corpos, pegando a arma do guarda e seguiu andando.
Cada cela tinha um ocupante e cada ocupante estava no chão. Até mesmo o grande e terrível Boss, que atormentava todos ali dentro, estava no chão. O lunático Tigers, caíra sobre a cama. Murphy ficou olhando ele. Não iria mais atacar ninguém, homem ou mulher.
Continuou andando e abriu a porta do bloco, saíndo para o próximo corredor.
- Tem alguém aí? Eu estou com a arma e as chaves do guarda Rogers, mas ele está morto, lá em cima, mas eu não fiz nada.
Continuava o mesmo silêncio.
Murphy chegou na sala dos guardas e percebeu que todos eles estavam no chão, até os que ficavam guardando as portas.
Ele sentou no chão, tremendo e colocando as mãos na cabeça.
- Que merda é essa? Isso é um teste? Não pode ser um teste, não pode. Eles estão mortos. Mortos! - Falou, sozinho. - Porque eu continuo aqui? O que é isso?
Murphy ficou ali durante horas, esperando, sentado no chão mas ninguém apareceu.
Levantou, pegando a arma de volta, e foi até o vestiário doos guardas, abrindo armários. Achou a roupa deles e ficou procurando algo que servisse a ele. Iria sair dali, mas não queria ir com uma roupa laranja, que chamaria a atenção de todo o mundo.
Trocou de roupa e olhou para o corredor, respirando fundo.
Andou até á porta de saída, vendo o guarda no chão, e abriu ela.
Os dois guardas, na rua, estavam mortos. Não tinha ninguém nas torres e os que estavam junto do portão, estavam caídos como todos os outros.
Murphy passou por eles, achando aquilo a coisa mais estranha de sempre, e saiu para a rua.
Estava livre.
Mas parou assim que olhou em frente.
Do centro da cidade, ao fundo, se erguiam colunas de fumo negro, e ainda se ouviam explosões. Os carros que circulavam por ali, estavam batidos, parados, e seus ocupantes desacordados. Todas as pessoas que andavam por ali, estavam no chão.
Murphy começou a andar até chegar num carro, abrindo a porta e olhando o condutor. Agarrou ele pelo ombro e puxou.
- Foi mal, amigo.
Entrou no carro e saiu dali, direção da cidade, mas assim que entrou, começou andando mais devagar até que parou por completo.
Era impossível continuar. Os corpos no chão, a destruição em todos os lados... Afinal não fora só na prisão, fora geral.
Ele saiu do carro, fechando a porta e olhando, sem entender nada, para toda aquela cena.
- Tem alguém vivo aí? - Gritou.
Passou a mão pelo cabelo negro, que já precisava de ser cortado, e girou, olhando em redor.
- Não. - Falou. - Não posso ter sobrado apenas eu. Que loucura é essa?
Começou a andar, seguindo pela avenida principal, incrédulo com a situação.
Ele não sabia se deveria ficar assustado, em choque, gritar, chorar ou fugir dali. Mas para onde iria fugir? Na prisão todos estavam mortos, na cidade também... Será que em todo o mundo, todas as pessoas estavam mortas?
Continuou andando pela rua, passando por cima de corpos e seguindo em frente. Não iria pensar naquelas pessoas.
- Pelo menos sobrou comida, né?
Ele achou um daqueles carrinhos que vendem cachorro quente na rua, e abriu ele, preparando um e sentando no passeio, comendo.
Ficou ali, comendo até perder a fome por completo, olhando a cena na sua frente.
Era irónico, no dia que ele conseguira sair da prisão, nada mais existia. Todo o mundo morrera.
- Meu Deus. - Disse ele num sussurro. - Sou o último homem na Terra? Pow Deus, poderia ter sido mais simpático comigo, né? Passei anos fechado, sozinho, em uma cela e agora isso? Fiquei sozinho no mundo? Ninguém merece.
E se, realmente, não tivesse mais ninguém? E se fosse só ele?
Murphy olhou a rua e suspirou.
Era uma merda ser o último homem no planeta.

LegadoWhere stories live. Discover now