25 - Caçada

44 4 32
                                    

Lauren

Ashley atacou de novo, mas eu abaixei e seu punho passou por cima da minha cabeça. Levantei e sorri. Ela bufou de raiva e correu, tentando me acertar onde quer que conseguisse.

Recuei, erguendo as mãos e parando cada um dos seus golpes. Mas aí ela abaixou quando eu ataquei e senti seu punho acertar o meu rosto, na zona do queixo, fazendo minha cabeça virar para o lado.

- Wow, desculpa, Lauren.

Olhei ela e sorri, ao mesmo tempo que Bill e Murphy riam e parabenizavam Ash.

Ergui um dedo. - Pausa de dois minutos. - Me aproximei dela. - Mandou bem, garota. - Apertei o seu ombro e dei as costas.

- Lauren!

Olhei para trás, ao mesmo tempo que Murphy lançava uma garrafa de água na minha direção. Peguei, agradeci e abri, bebendo um grande gole e depois meus olhos viram o poleiro de fora.

Jared estava lá, apoiando os braços na barra de metal, nos observando feito papá urso.

Olhei o chão, sorri, e segui na direção das escadas, subindo e parando do seu lado, imitando a sua posição.

- E aí? - Olhei ele.

Ele permanecia de olho na Ash. - Ela está ficando boa.

Assenti. - Uma semana. Uma semana ensinando e... - Indiquei ela.

Jared me olhou, naquele jeito dele, não me deixando adivinhar os seus pensamentos. Segurei o seu olhar, e ele ficou ali uma eternidade.

- O que foi? - Perguntei, por fim.

- Ela gosta de você, e você tem sido uma boa professora.

Sorri. - Ela já sabia algumas coisas e isso foi graças a você.

Jared abaixou a cabeça, olhando o chão, e depois me olhou de novo.

- É, mas... é diferente.

- Lauren! Vai ficar aí?

Olhámos para baixo e vi Ash de mãos na cintura.

Sorri e entreguei a garrafa para Jared.

- Pode segurar? - E dei as costas. - De novo? Dessa vez eu vou pegar pesado!

Ashley riu. - Quero ver.

Mais tarde, eu e Jared estávamos na cidade, dentro de um edifício, olhando a rua. Tinhamos visto zebras e corças por ali.

O arco nas minhas mãos, com a flecha pronta, chegava a tremer de tanto que eu queria atirar. E isso se devia ao facto de a imagem do homem morrendo sob a minha flecha, ter regressado na minha mente.

Senti a ponta dos dedos de Jared no meu antebraço e olhei ele, que franziu o cenho e balançou a cabeça, como se perguntasse o que eu tinha. Como ele sabia?

Neguei e olhei a rua, vendo uma das corças. Estreitei os olhos e me mexi, trocando a posição.

- Não. - Disse Jared, num sussurro.

Sorri, levantei e deixei a flecha voar, saíndo do meu esconderijo e seguindo os animais.

- Lauren! - Gritou Jared.

Continuei correndo, atrás dos animais, que viravam em todas as direcções e a minha corça virou de repente, me fazendo deslizar pela estrada, bater com o ombro na esquina do prédio e seguir correndo.

Obriguei minhas pernas a correrem mais e senti os músculos queimando.

A avenida principal se estendia na nossa frente e eu sabia que tinha uns bons metros sem que ela tivesse escapatória, antes das ruas paralelas começarem.

Ergui o arco, pulando e subindo no topo de um carro e mirei ela, deixando a flecha voar.

A corça caiu no chão, rolando pelo chão e eu pulei do carro, segurando o arco com uma mão, enquanto a outra tirava uma faca do cinto, e avançava na direção do animal morto.

Nesse momento algo passou por mim, correndo e parou, se jogando sobre o corpo morto da corça. Era uma leoa, e ela me olhou, rugindo.

Percebi que estava sozinha e que tinha uma barriga enorme.

Abaixei a faca e fiquei olhando ela.

Jared surgiu do meu lado e ergueu a besta, mas eu me coloquei na frente, no mesmo tempo que ele atirava, mas mesmo assim, ele conseguiu virar a besta e mudar a trajetória da flecha.

Abaixou a arma e ficou me olhando, pálido que nem fantasma.

- Ficou maluca?! - Gritou. - Eu podia ter... Podia ter colocado uma flecha na sua cabeça!

Indiquei a leoa. - Deixa, ela está grávida. Pegamos outra. - Me afastei, pegando a flecha dele, e entregando.

Jared me entregou a minha, a primeira que eu lançara, e tirou a dele da minha mão, puxando.

- Credo, homem.

Ele me lançou um olhar furioso e me deu as costas, se afastando sem nem esperar por mim.

Segui ele, deixando a leoa com a minha caça, e olhei os edifícios, consumidos pela natureza.

Quando percebi, Jared ajustara o seu passo com o meu.

- Que merda foi aquela? Sair assim e depois se colocar na frente da minha flecha?

Suspirei, passei as pontas dos dedos pela testa e olhei ele.

- Matei um homem.

Ele parou de andar e me encarou.

- O quê? Quando?

- Semana passada, quando saí com o Murphy. Ele nos atacou, ficou falando um monte de besteira e parecia estar alucinando.

Jared franziu o cenho. - O ferimento do Murphy... Não foi acidental, né?

Neguei. - Foi esse homem. Depois disso, eu matei ele. Eu matei um sobrevivente e isso me assombra até hoje.

Jared ficou me olhando, mordeu o lábio e depois assentiu.

- Se ele atacou vocês... - Deu de ombros. - Eu teria feito a mesma coisa. Sobrevivente ou não.

Respirei fundo e sorri. - Isso é para me deixar melhor?

Ele sorriu, um sorriso pequeno e assentiu.

- Talvez.

Continuámos andando e, mais na frente, tinha umas flores azuis, nascendo em uma das árvores que subiam pelo prédio. Jared se afastou de mim.

Parei, vi ele mexer nos ramos e regressar, parando na minha frente. Ele esticou a mão e me entregou uma das flores.

Franzi o cenho e olhei ele.

Jared deu de ombros, sem jeito. - Meu pai falava que ajudava a acabar com os pesadelos.

Sorri e coloquei um pedaço de cabelo atrás da orelha, fazendo alguns fios ficarem na frente do rosto. - Obrigada.

Ele assentiu, esticou o braço a medo, e, com cuidado, colocou os fios do meu cabelo atrás da minha orelha. Me sorriu, deu as costas e seguiu o seu caminho.

Fiquei olhando suas costas, sem saber o que fazer, completamente imóvel.

- Você vem? - Perguntou ele sem parar de andar. - Graças a você, temos de caçar. De novo.

Sorri e corri para ficar do seu lado.

LegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora