23 - Sem Segundas Intenções

44 5 38
                                    

Murphy

Amanhecera e o sol, que entrava pela janela em frente, bateu sobre os olhos de Murphy, acordando ele.

Ele passou a mão pelos olhos e depois olhou para o lado, para a cama onde deitara Lauren. A garota estava tão cansada, que nem acordou quando ele pegou nela e levou para uma das camas do hospital, para que ela pudesse descansar.

Saiu do sofá onde sentara e foi em direção da janela, olhando o exterior, e ergueu as sobrancelhas.

Girafas e zebras passavam pela avenida em baixo. Murphy franziu o cenho.

- É como estar preso dentro do filme do "Rei Leão". - Negou com a cabeça.

Olhou mais uma vez para Lauren e depois saiu do quarto, descendo o corredor até achar uma máquina de venda de biscoitos e coisas assim.

Pegou a arma do cinto e tentou usar ela para quebrar o vidro, mas não funcionou. Murphy guardou a arma e pegou uma cadeira, segurando ela com força. Nada.

Ele bufou de raiva e depois jogou a cadeira no chão, vendo um daqueles machados de emergência na parede, dentro de uma vitrine pequena.

Partiu o vidro, pegou o machado e quebrou o vidro da máquina. Sorriu.

- Viu? Sou mais teimoso. - Falou, pegando cookies, sucos, chocolates e uns bolinhos que existiam por ali, levando juntamente com o machado.

Regressou no quarto e viu que Lauren permanecia dormindo.

Sentou no sofá, puxou a mesinha de apoio e colocou as coisas por cima.

Comeu alguns, deixando os restantes para a garota. Depois pegou um dos sucos, levantou e regressou na janela.

- Vai se atirar da janela?

Ele sorriu antes de girar e ver Lauren acordada, sentando na cama e passando a mão pelo cabelo.

Murphy indicou a mesa. - O que deu para arrumar nesse corredor.

Ela sorriu e pegou um pacote de cookies, tirando um e colocando na boca. - Tá ótimo. Valeu, Murph.

Ele deu de ombros e depois indicou a janela. - Seus amiguinhos já estão dando as boas vindas para a vizinhança.

Lauren pulou da cama e correu na janela. - Sério? Qual você viu?

- Girafas. - Murphy colocou um biscoito na boca e indicou a rua. - E zebras.

Lauren sorriu e depois o olhou, percebendo que ele a olhava.

- O que foi? Vai falar que foi uma ideia besta?

Murphy mexeu o ombro bom. - E foi.

Ela se aproximou dele e puxou a manga curta da camisa dele, para cima, verificando o ferimento.

- Antes de irmos, temos de pegar remédios para isso não infectar. E coisas para trocar o curativo.

Ele revirou os olhos, mas assentiu. - É enfermeira, agora? Porque eu odeio médicos e enfermeiros.

- Cala a boca. - Ela riu.

Assim que saíram do hospital, depois de Lauren ter colocado diversas coisas em uma mochila, olharam de um lado para o outro.

- Vamos andando? - Perguntou Lauren.

Murphy assentiu. - Por mim, tudo bem.

Se afastaram do hospital, em silêncio, mas Murphy sabia que Lauren ainda pensava no homem que matara no dia anterior.

De repente, o rádio que ele levava, fez barulho.

- Oh pessoal? Já pararam de fazer netinhos para mim, tempo o suficiente para me dizerem se estão vivos?

Murphy riu alto, segurando a barriga, enquanto Lauren tirou o rádio do cinto dele.

- Pai!

- Oi, bom dia! - Bill falou. - Que merda vocês estão fazendo?

- Regressando a casa.

- E porque o idiota do Murphy está rindo feito doido?

Lauren revirou os olhos e Murphy limpou os olhos, que já choravam de tanto rir.

- Porque você está sendo ridículo, pai.

Bill riu do outro lado. - É a única forma de chamar a sua atenção. Então tá, vejo vocês aqui.

Lauren fechou os olhos e encostou a cabeça no rádio.

- Adoro o seu pai.

Ela abriu os olhos, o olhando. - Não deixa ele saber.

Murphy viu ela se aproximando e colocar o rádio de volta no cinto.

Se fosse outra qualquer, ele nem deixaria aproximar, ainda por cima mexer no seu cinto, na sua cintura. Mas com Lauren parecia que era tudo natural, ela não tinha segundas intenções ao se aproximar. Ele sentiu seus dedos tocaram sua cintura, enquanto ela prendia o rádio, e sabia que ela não estava pensando nisso. Sorriu, olhando ela.

Lauren ergueu o olhar e franziu o cenho. - O que foi?

Ele negou. - Nada. Vamos?

Recomeçaram a andar e Lauren passou a mão pelo cabelo, o que fez Murphy suspirar e colocar um dos braços por cima dos ombros dela.

- Pára de pensar no assunto, Lauren. Aconteceu.

Ela suspirou e segurou a mão dele, que pendia no seu ombro. Murphy percebeu, enquanto ela falava sobre sobreviventes, que as suas mãos eram quase o dobro das dela. Se ele fosse aquele estranho homem, e se envolvesse em uma luta com ela, Murphy seria capaz de derrubá-la com apenas um soco.

Afastou esses pensamentos. Ele sempre fora maior do que os outros: suas mãos eram fortes e largas, assim como seus ombros, num tronco em V; seus braços pareciam ter sido feitos para carregar coisas pesadas, assim como suas pernas pareciam feitas para aguentar um grande esforço. Murphy não precisava de ir na academia, como todo o mundo antes do fim, ele era naturalmente forte. Não um exagero, mas forte.

Talvez por isso tenha sido acusado de homicídio. Sua postura era ameaçadora. Quase tanto quanto a do Jared.

- Você escutou?

Ele balançou a cabeça e respirou fundo.

- Desculpa, ruiva, estava em outro mundo.

Ela riu. - Tudo bem. Eu entendo que a sua mente ainda esteja meio... bugada.

Ele sorriu. - Já nasceu bugada.

Os dois riram e depois elas assentiu.

- Mas eu entendo, de verdade, Murph. Você pode fingir para todo o mundo, menos para mim.

Ele franziu o cenho. - Todo o mundo está morto.

Lauren sacudiu o braço dele e acelerou o passo, se afastando dele.

- Você é irritante.

Ele riu. - Foi você que me levou na prisão, lembra? Além disso, eu dei um presente para você.

Lauren parou e Murphy percebeu que ela olhava o pulso, onde ainda permanecia a pulseira igual a sua. Ela suspirou e o olhou.

- Você é o terror.

Ele assentiu. - Não é novidade.

LegadoWhere stories live. Discover now