11 - Prisão

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36 dias depois do apagão

Lauren

Murphy estava parado do meu lado, com uma das mãos tapando o sol que incidia em seu rosto, olhando para cima.

Eu estava com minhas mãos na cintura, olhando o telhado da prisão.

- Como vamos fazer? - Perguntou ele.

Olhei ele e Murphy me olhou também, abaixando a mão e percebendo o que eu estava pensando.

- Ah não! Eu não vou ali em cima! - Falou.

Eu ri. - Criancinha. - Fechei uma das mãos e coloquei sobre a palma da outra mão, aberta.

Murphy revirou os olhos. - Sério? Jokenpô?

Sorri, depois segurei os pulsos dele e ergui, ganhando um som que se assemelhava muito a um lamento.

Bati com a mão fechada na minha palma aberta e Murphy fez o mesmo, e quando parámos, ele riu.

- Aha! - Gritou. - Você vai!

Revirei os olhos. Peguei minha katana, dentro da bolsa, e tirei da costas, entregando para ele.

- Não quebra e não perde.

Murphy me olhou. - Como vai subir?

- Já subiu em árvores, Murphy?

Ele franziu o cenho. - Já, mas... Não! Você vai se matar!

- Deixa de ser besta.

Me aproximei do edifício da prisão e puxei um dos tubos de metal que desciam a parede. Ele se manteve no lugar, então comecei a subir, me segurando no tubo e me içando.

- Sabe que tem uma entrada para o telhado por dentro da prisão? - Gritou Murphy.

Olhei ele. - Qual a diversão disso?

Escutei meu pai saindo para o pátio, e não demorou para ele me dar um dos seus gritos de Sargento.

- Lauren!

Parei de subir e olhei para baixo.

- Desce daí, agora! - Disse ele.

Ignorei ele e continuei a subir.

Assim que cheguei no topo, passei a perna pela beira do telhado e olhei em volta, procurando. Achei a espécie de casinha que estava buscando e me aproximei, puxando a porta mas vendo que se encontrava trancada.

- Sério? - Falei. - Quem iria trancar uma merda que está no cimo do telhado?

Peguei a faca e coloquei a ponta na fechadura, rodando. Escutei um "click" e a porta abriu. Sorri. Abri e percebi porque não tinhamos luz em algumas zonas da prisão. Peguei o fio e coloquei no lugar, fechando a porta e me aproximando da beira do telhado, olhando os dois homens lá em baixo.

- Experimenta! - Gritei.

Murphy ergueu o dedo e entrou na prisão.

- E se essa merda explodir? - Disse meu pai.

Revirei os olhos e olhei a floresta que envolvia um dos lados da prisão, até que percebi que Murphy estava saindo de novo e olhei para baixo.

- Bum! - Disse ele, que era como quem dizia que tinha funcionado.

Sorri, neguei com a cabeça e saí dali, dessa vez usando a escada que dava para o interior da prisão.

Cheguei no pátio e Murphy ergueu a mão para eu bater e depois me entregou a katana.

- Aquilo foi uma estupidez! - Disse Bill.

Olhei ele. - Consertei.

Meu pai olhou Murphy e ergueu o dedo. - Não apoia a doideira dela! - E se afastou.

Olhei Murphy e rimos os dois. Depois bati no peito dele.

- Eu fui lá em cima, você acaba de enterrar os mortos.

Passei por ele, na direção da prisão, e percebi que Murphy ficara me olhando como se não acreditasse no que eu falara.

- O quê? Qual é? - Ele me seguiu.

Olhei ele por cima do ombro. - Seus amigos, lembra?

- Que amigos? Uma parte de mim até agradece que estejam mortos.

Parei de andar e olhei ele, fazendo um sorriso pequeno. - Imagino, de verdade.

Ele assentiu. - Espero que nunca passe por isso.

Sorri. - O mundo acabou, então...

Ele riu. - É. Sorte a sua, ruivinha.

Ri e depois suspirei. - Tá, eu te ajudo. Vem.

Coloquei o arco e a katana no chão, junto da porta e depois peguei um lenço, dobrando e atando no pescoço. Puxei uma parte para cima, tapando o nariz e a boca e vi Murphy fazer o mesmo.

Passei por ele e Murphy esticou o pé, quase me fazendo cair.

Girei e bati no seu ombro e ele ergueu as mãos, se defendendo, mas eu não parei e ele acabou se encolhendo, erguendo uma perna e protegendo a cabeça com os braços.

- Para com isso, garota!

- Se eu tivesse caído no chão...

- É, eu sei. - Ele me olhou, franzindo o nariz. - Eu estaria morto.

Estreitei os olhos. - Idiota.

Ele riu. - Sei.

Passámos o dia abrindo covas e enterrando corpos. O sol estava quente e eu sentia aquele cheiro horrível grudar em mim.

- Vou precisar tomar banho durante horas, para retirar esse cheiro. - Falei.

Murphy riu. - Quer que eu atire você ao rio?

Olhei ele. - Quer que eu coloque uma flecha na sua cabeça?

Ele riu novamente.

- Oh crianças!

Olhámos para o lado, vendo meu pai nos chamando com a mão. Nos aproximamos e ele sorriu, um sorriso torto.

- Não vão acreditar no que eu achei.

Seguimos ele até um edifício afastado da prisão e ele parou na frente de um portão enorme.

- Não morram do coração. - Falou, sorrindo, e abriu o portão, colocando as mãos na cintura.

Do outro lado do portão estavam vários carros parecendo saídos de "Mad Max", com proteções nos vidros, rodas altas e á prova de munição.

Olhei Murphy. - Você sabia disso?

Ele negou com a cabeça. - Não. Mas se isso fosse um apocalipse, pelo menos carros decentes a gente tinha.

Revirei os olhos e olhei meu pai, sorrindo.

Ele respirou fundo e me sorriu. - Sobrevivemos, mas pelo menos fazemos isso com estilo.

Rimos os três.

Nessa noite, estávamos sentados em redor da mesa, comendo alguma comida que tinha guardada ali. Zeus permanecia junto de mim, deitado no chão.

- Amanhã, pela manhã, vou buscar minha cama. - Falei. - Odeio essas camas de prisioneiros.

Murphy riu. - Experimenta dormir 10 anos nessa merda.

Bill olhou ele e assentiu. - Ainda bem que não somos prisioneiros. - Depois me olhou. - Vou com você.

Assenti e nesse momento, um uivo surgiu, me fazendo olhar para o lado. Zeus ergueu a cabeça, rosnando e eu toquei na sua cabeça.

- Calma, rapaz. - Falei. - São apenas lobos.

- Apenas? - Disse Murphy.

Olhei ele. - Sempre existiram nessas florestas, agora com o mundo vazio, eles devem ter entrado na cidade.

Murphy revirou os olhos. - Era só o que faltava.

LegadoWhere stories live. Discover now