Desejada

Capítulo 13

1 de maio de 1518, Castelo de Chambord, França.

Os raios de sol do amanhecer mal tinham aparecido quando a caravana inglesa deixou a corte francesa. Não houve grandes despedidas e quase nenhuma formalidade, por mais que tentaram esperar para que o rei Charles acordasse para que pudessem agradecer pela estadia, no entanto, as horas passaram e o rei não aparecia.

Os criados disseram que Sua Majestade deveria estar mais cansado que o habitual, optando por permanecer mais tempo na cama.

Essa atitude, entretanto, não era comum. O rei Charles não tinha esse costume, muito pelo contrário, não importava o quão exausto ele estava, sempre se prontificou a acordar o mais cedo possível para começar suas atividades. E como estava previamente anunciado que os ingleses iriam embora, era óbvio que o rei apareceria para uma última despedida.

Por mais que o clima entre a França e Inglaterra tenha piorado nos últimos dias, a oferta inoportuna da Inglaterra fez com que qualquer possibilidade de uma aliança entre as duas grandes potências mundiais acabasse, antes mesmo de chegar a existir. O rei William não gostou nenhum pouco da atitude que o rei francês tomou, na carta enviada a Henry antes do retorno, trazia a enorme indignação que o rei inglês sentia. A França caminhava para sua cartada final, o noivado havia acontecido, a ameaça francesa estava cada vez maior. O que antes era só uma penumbra da ideia de um dia a França se tornar a maior potência econômica e hegemônica mundial, agora estava praticamente dando seus primeiros indícios.

O rei William sabia que isso poderia acontecer, todos imaginavam, na verdade. Tinha aceitado o convite francês para participar dos torneios em uma alternativa, de quem sabe, Henry, seu herdeiro, pudesse conseguir alguma coisa. Pelo visto, tinha falhado em todos seus planos.
A decisão imediata era atacar a Escócia, se pudessem tomar e desposar do território escocês, talvez conseguissem alguma vantagem.

No dia 1 de maio de 1518, o rei William dá o alvará para que as tropas inglesas invadissem a Escócia, ao mesmo tempo em que a frota inglesa deixasse a França, evitando que Henry e seus diplomatas ficassem presos na corte francesa, até que uma negociação fosse tomada.
Quando Henry soube da notícia através de uma carta ultra confidencial, teve a certeza que seu pai estava zangado. E não podia tirar sua razão, todos os esforços foram em vão. Medidas drásticas deveriam ser tomadas, a França continuava intimidando a hegemonia inglesa. Não tinham outra saída.
Henry aprendeu com seu pai que não existia certo ou errado quando o assunto era defender o poderio inglês. Então, ele não mediria diligências para manter a Inglaterra grande. Mesmo que fosse contestável diante dos olhos das demais pessoas.

Da janela da carruagem, Henry observou ao longe o Castelo de Chambord ficando cada vez menor com a distância. Os acontecimentos das últimas noites ainda estavam em looping na sua mente.
O rei Charles recusando uma possível aliança com a Inglaterra, James pedindo a Désirée em casamento, a despedida de Désirée. Todos esses momentos foram primordiais para que atitudes extremas fossem tomadas.

Henry sabia que não seria o mesmo depois de sua despedida com Désirée. Ele sabia que a imagem da princesa Désirée que ele havia conhecido, seria apenas uma mera lembrança guardada no fundo de sua memória. Eles não seriam os mesmos. Porém, nada poderia ter sido feito, ambos tinham compromissos com seus países, nasceram com um peso muito maior que as pessoas normais. Decisões tomadas pelo coração não eram admitidas em pessoas como eles.
O que está feito, está feito. Não tinha como mudar.

As lembranças do que viveu com Désirée e a expectativa do que poderiam ter vivido, seriam apenas mais uma névoa da vida que Henry deixava para trás, conforme a carruagem se distanciava cada vez mais do castelo.
Eles se reencontrariam ainda, estava convicto disso. No entanto, não seriam os mesmos amantes em segredo que um dia foram, nem viveriam as aventuras secretas que já viveram.