Capítulo 14

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8 de maio de 1518, Castelo de Chambord, França

Uma semana havia se passado desde a morte do rei Charles, e a França se encontrava em um período conturbado. Os ânimos estavam exaltados, o luto da perda de um monarca que era muito querido pelo povo, a pressão que a Escócia estava fazendo para que as tropas francesas fossem ajudá-los no combate contra a Inglaterra, o possível casamento que deveria acontecer e o mais importante, a coroação da futura rainha.

Désirée já era tratada como rainha, as pessoas que antes passavam por ela e a cumprimentavam com "Alteza", agora se referiam a ela como Majestade.
A garota estava completamente perdida, ela sabia sobre política, relações internacionais, como comandar um exército, seu pai tinha lhe ensinado quando percebeu que não teria um herdeiro varão. No entanto, a prática era totalmente diferente da teoria.

Os últimos dias escorreram entre seus dedos sem que ao menos percebesse.
Estava sentada no enorme gabinete real, que antes era de seu pai, agora era dela. A cadeira com o estofado vermelho em frente a uma enorme mesa repleta de papéis e objetos que um rei, e agora, uma rainha, deveria ter.
Tinha o apoio de Raphael, Duque de Cannes, um grande amigo de seu pai. Quando o falecido rei Charles ainda estava vivo, fez o Duque prometer que estaria ao lado de Désirée para qualquer coisa, que nada nem ninguém, atrapalhasse seu reinado. E desde então, Raphael cumpre sua palavra, estando ao dispor para o que Désirée precisasse.
Três batidas na porta, anunciavam que alguém queria entrar.

"Lorde George deseja falar com você, Vossa Mastejade."

Désirée respirou fundo antes de assentir para que o guarda liberasse a passagem para seu primo.

- Désirée. - George senta-se em uma das duas cadeiras em frente a mesa.

- Sou sua rainha, gostaria que me tratasse como tal.

George sorri ironicamente, do mesmo jeito que fazia todas as vezes em que conversava com a prima.

- Vossa Majestade, perdoe-me. - a voz de George é carregada de um tom zombeteiro, ao corrigir sua fala. - A França precisa de um rei.

- A França já tem uma rainha.

- Você sabe muito bem do que estou falando. O povo comenta sobre ter uma mulher no poder máximo do país, não sei se eles estão satisfeitos.

Désirée dá uma risada de escárnio, batendo a mão na mesa.

- Eu sou Désirée de Valois. Eu sou a rainha da França, nem você e nem ninguém vai atrapalhar meu reinado. Aquele que se opuser a mim, vai cair. Se você, em um futuro, ainda quiser ter o título de Duque de Orleans, recomendo que saia do meu caminho, ou então, vai acabar, no fim da vida, como um camponês, enxotado do castelo e da nobreza.

Era possível ver a veia do pescoço de George pulsando de raiva. Antes que o rapaz pudesse responder, foram interrompidos por um criado que entrou na sala às pressas.

- Vossa Majestade, Sua Alteza, me desculpe por interromper a conversa de vocês, mas não o faria se não fosse importante.

- Então fale, homem. - a rainha respondeu.

- Tem um cozinheiro que insiste em conversar com a Sua Majestade, ele disse que tem informações sobre quem envenenou o falecido rei.

O criado enrola nas próprias palavras para dar o recado que lhe foi passado. George fica sem ter o que dizer, olha de soslaio para Désirée que mantém uma expressão neutra.

- Mande-o entrar. - disse a rainha.

- Como quiser, Vossa Majestade. - o mensageiro sai da sala.

Désirée olha para George, como quem diz para ele que é hora de desaparecer da frente dela. O rapaz não se opôs, afinal, podia detestar a prima, mas sempre teve grande estima pelo tio, então simplesmente saiu do gabinete.
Désirée pediu para que algum criado lhe trouxesse chá de lavanda, por mais que não transparecesse, estava muito nervosa, tinha aprendido com seu pai que um verdadeiro líder nunca deixa suas emoções à mostra, pois seus inimigos irão usá-las como alvo para te atingir.
O som da voz do guarda dizendo que o homem misterioso estava entrando foi como um ruído para a garota que estava com os pensamentos longe.
Um homem de aparentemente 25 anos de idade entra no gabinete, pela vestimenta e o avental sujo de farinha, com certeza era um cozinheiro.

Desejada Where stories live. Discover now