Capítulo 16

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O vento fora da barraca era frio e cortante, mas Hermione não se importava. A maneira como ele cortava sua blusa e calças finas ajudou sua mente a clarear um pouco, e fez com que o ardor em seus olhos parecesse mais significativo e apropriado.

Depois da bomba que Draco jogou sobre ela, Hermione não podia ficar dentro da tenda com ele, Blaise e Theodore. Em vez disso, ela se levantou e fugiu para a floresta do lado de fora. Não havia como dizer o quão zangado qualquer um deles ficaria quando ela finalmente voltasse, ou se eles reagiriam. Vários minutos se passaram e ninguém saiu para buscá-la, então ela imaginou que eles ficariam muito furiosos.

Fora das sombras, ela viu bolas de luz piscando começarem a aparecer à distância. As luzes eram suaves e azuis, embora ela estivesse muito longe delas para ver se projetavam alguma sombra. Lentamente, as sombras começaram a tomar forma na frente deles. Os perfis dos outros vampiros ficaram iluminados naquela luz, e Hermione contou seis deles no escuro e no frio.

Ela pensou em chamá-los, dizer-lhes que não havia esperança e que ela provavelmente seria a única que acabaria salva, mas suas palavras ficaram presas em sua língua, em algum lugar entre sua garganta e seus dentes, e ela descobriu que não podia dizer absolutamente nada.

Inútil, sua mente sussurrou para ela, as palavras tão frias e cortantes quanto o vento. O ardor em seus olhos se intensificou. A palavra flutuava dentro e fora de seus ouvidos, até mesmo parecendo pairar no mundo à sua frente. Se ela levantasse a mão só um pouquinho, seria capaz de tocar a coisa brilhante e dolorosa.

- Você só vai fazer beicinho aqui? - uma voz à sua direita a fez cambalear para longe do barulho repentino. Theodore ficou de pé, parecendo bastante despreocupado, um cachecol balançando em volta dos ombros. Ele estava a menos de meio metro de onde ela estava.

Passando os dedos pelas bochechas, ela retrucou:

- Não se aproxime de mim desse jeito!

- Eu só vim para ter certeza de que você ainda estava aqui. Draco está preocupado, mas nunca vai admitir e nunca vai vir te incomodar. Eu diria que ele te respeita um pouco demais, se você me perguntasse.

Hermione estreitou os olhos para ele, só que ela teve que levantar a cabeça um pouco para realmente olhar para o rosto dele:

- Ainda bem que eu não perguntei, então.

Um sorriso libertino aqueceu o rosto de Theodore, e uma covinha em sua bochecha esquerda brilhou para ela no escuro.

- Não, certamente não o fez. Aqui está a coisa, porém, Granger, que você precisa entender. Sempre seremos nós e eles. Nunca haverá um momento em que seremos os mesmos. A menos, claro, - ele disse, ponderando. - se nós os transformarmos. Mas, duvido que você esteja interessada em tal coisa.

- Você está certo pela primeira vez. Eu nunca consideraria isso.

Theodore riu dela, um som que instantaneamente irritou seus nervos:

- Exatamente. Portanto, quanto mais cedo você aceitar que eles sempre morrerão e nós sempre viveremos, melhor. Eu aceitei a eventual morte de Blaise anos atrás. Sugiro que você e Draco tenham essa conversa antes que a morte dele se apodere de vocês dois.

Zombando, ela perguntou:

- Por que você se importa? Você está tentando me fazer sentir melhor?

Theodore balançou a cabeça:

- Não, não estou. Eu não me importo com você, para ser honesto, mas eu me importo com Draco. É lamentável, você vê, que o destino nos abata dessa maneira. Terrível, não é? Sermos inimigos predestinados daqueles que amamos tão desesperadamente.

Cinzas e Poeira - TRADUÇÃOWhere stories live. Discover now