Capítulo 21

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Meses atrás, Hermione percebeu que, para todos os efeitos, ela era o cão de guarda de Draco. Naquela época, ela não havia pensado em até onde esse papel poderia ser esperado até agora. Enquanto ela estava do lado de fora da porta da sala de estar, ombros curvados sob as orelhas e um pedaço de pano oferecido a ela pelas próprias mãos de Draco, ela queria se chutar por não ter corrido quando teve a chance. Ela não era apenas seu cão de guarda, mas também uma espécie de cão de caça.

O tecido era de couro falso, uma jaqueta, ela sabia, e o cheiro de sangue estava costurado através dele como a única fileira de linha que em algum ponto havia conectado aquela peça ao resto da roupa. Em sua cabeça, ela imaginou: comprimento do quadril, com um cinto grosso preso que nunca foi usado com fivela e preto. Ela se lembrava dos alfinetes cravados na lapela, embora só tivesse visto uma foto deles. Inequivocamente, a parte que Draco ofereceu para ela pertencia a uma jaqueta de Sirius Black.

- Isso é algum tipo de brincadeira? - ela exigiu. Era difícil manter o nariz virado; o sangue era tentador para dizer o mínimo.

Draco balançou a cabeça:

- É um teste, Granger, muito importante - havia tensão em seu rosto, especialmente em torno de sua boca. Seus lábios estavam tão apertados que ela ficou surpresa que ele pudesse empurrar as palavras entre eles. Quando ela não respondeu, ele disse. - Isso não é como os interrogatórios em que posso manipular a situação. Não podemos foder com isso.

- Você quer que eu encontre Sirius Black? - Hermione perguntou.

Em vez de responder, Draco segurou o tecido mais perto do nariz dela:

- Você reconhece o cheiro?

- Não, - ela cortou, virando o nariz ainda mais longe. - eu conheço a jaqueta.

Ela deve ter se virado demais, porque a mão livre de Draco caiu sobre o ombro dela e ele apertou com força:

- Cheire. Temos que encontrá-lo, Granger, e minha informação é duvidosa na melhor das hipóteses. Precisamos chegar a Londres rapidamente ou ele escapará de meus dedos novamente.

Fazendo uma careta, ela deu uma fungada experimental. O sangue era forte. Ela lutou contra a vontade de deixar o perfume persistente passar por sua língua em vez de pelo nariz. Já era humilhante o suficiente receber o pedaço como uma espécie de cão de caça, ela não precisava do constrangimento adicional de lambê-lo também.

Na boca do estômago, ela sentiu a pontada fria da fome. Draco estava perto dela, mais perto do que estivera em um dia inteiro. Mesmo sem o vínculo empurrando-a para se alimentar dele, sua própria fome era encorajadora o suficiente. Ela podia ver os capilares azuis em seu pulso, tão perto da superfície que ela podia vê-los inchar e contrair com cada batida rápida e áspera de seu coração. Se ela não soubesse melhor, ela teria pensado que ele tinha acabado de correr pelo terreno da mansão.

- Conseguiu? - Draco perguntou, soando sem fôlego. Os olhos de Hermione se voltaram para ele apenas para encontrá-lo olhando incisivamente para o chão, bochechas quentes com cor e lábios pressionados em uma linha dura. Ela assentiu com a cabeça uma vez, e então o tecido se foi, guardado na capa dele, e a mão dele deslizou do ombro dela até o cotovelo.

No momento em que aterrissaram em Londres, Hermione sentiu seus sentidos dispararem. Havia tanto para ver, desde as luzes brilhantes das várias lojas e a multidão de rostos de pessoas que passavam por elas, alheias à sua repentina existência.

Mais do que tudo, o cheiro úmido da chuva silenciava até mesmo os transeuntes mais próximos, embora sua fome não se importasse. Havia sangue quente e fresco movendo-se ao seu redor, e a opção mais fácil ainda era segurar seu cotovelo com força.

Cinzas e Poeira - TRADUÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora