We Go Down Together [Versão em Português]

4. Feels

Manhãs são mágicas.

Porque quando você acorda, por aquele momento entre a confusão de consciência e inconsciência, o mundo para, não há nada ali, não há más ou boas notícias, não há preocupações, não há nada, apenas a sensação de estar abrindo seus olhos para o mundo pela primeira vez.

Mas depois que esse momento passa, logo o mundo te sufoca com tudo o que tem.

Sangue.

O cheiro e a cor do sangue é a primeira coisa que retorna à memória de Jade.

E depois tudo a envolve como um tsunami.

Jade matou Himani...

Ela se senta e aperta as palmas das mãos contra os olhos até que eles começam a doer.

Merda.

Ela não seria descoberta, ela havia feito questão de enterrar o corpo da jovem num lugar profundo na floresta, e pra se certificar de que ninguém encontraria nada dela, ela colocou fogo na cabana.

Mas as memórias daquela noite nunca poderiam ser queimadas da mente dela.

Jade se sente assustada, não apenas porque ela matou alguém, mas porque ela o fez quando sua mente estava em Kit.

A ideia de que Kit poderia desencadear esse lado selvagem nela é preocupante.

Jade se levanta da cama, se arrastando pelo seu apartamento, indo até a cozinha e abrindo a geladeira repleta de bolsas de sangue que ela conseguiu de um contrabandista.

Jade sequer se importa em colocar o sangue num copo, ela apenas faz um pequeno furo no plástico e o põe um canudo nele.

Ela se vira, se encostando no balcão, seus olhos se focam na camiseta limpa e dobrada em cima do armário.

A camiseta de Kit.

Ela respira fundo.

A quem ela está tentando enganar?  Não importa o quão racional ela seja, seus instintos sempre serão emotivos, e apesar de saber que é uma má ideia, ela se encontra com um desejo crescente de ir levar essa camiseta para Kit.

Não, ela não faria isso, é uma péssima ideia.

Jade poderia tentar se convencer que ela está fazendo isso porque ela quer que kit tenha uma vida longa e feliz, mas a verdade é que suas razões são completamente egoístas.

Ela não quer ver Kit perecer, não de novo.

Por isso, ao fim daquela manhã, ela diz a si mesma que está fazendo a coisa certa ao enviar a camiseta dentro de um pacote para o endereço de Kit, que ela conseguiu ao enfeitiçar o diretor da instituição para liberar as informações pessoais da jovem para ela.

+++

Um grunhido escapa os lábios de Kit e ela joga o livro contra a parede com força, páginas se rasgam e flutuam no ar, Kit passa as mãos pelos seus cabelos curtos, sentindo a raiva correr por suas veias como fogo.

Era um feitiço simples, ela só precisava fazer a porra do livro flutuar.

Esse último dia ela tem se sentido tão distraída e desfocada, está começando a virar um problema para sua vida acadêmica.

Ela se ergue, pegando novamente o livro e o colocando em cima da sua mesa, ela respira fundo e tenta novamente.

— Lunanockt Wanu — Ela diz devagar , repetindo as palavras três vezes.