01. QUARTO 369

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Ocean - Alok, Zeeba, iRO
"Não se preocupe, mãe
Pois estou no caminho certo."

Any

Passaram-se duas semanas desde o ocorrido com o estranho do voo A369. Não queria, mas o infeliz não saía de meus pensamentos. Eu não conseguia acreditar em seu atrevimento e todas as suas atitudes. Estava irritada demais e talvez, fosse exagero meu. Entretanto, minha cabeça já estava ocupada demais para ele.

Além do meu desgosto ao rapaz, também pensei muito sobre minhas últimas atitudes com minha mãe. Dissera a ela que havia pensado sobre estudar na faculdade em Toulouse e menti, dizendo que era isso que eu iria fazer, quando eu já sabia que iria fugir para a Juilliard.

Sim, eu me sentia extremamente mal por ter mentido, mas infelizmente essa era a minha única opção. Se eu dissesse a Priscilla que havia desistido da minha bolsa para estudar Direito na França, para estudar Música aqui mesmo em Nova York, minha cidade natal, ela iria surtar. Sua decepção seria enorme e no momento, eu não tinha condições de suportar isso.

Nossa relação estava longe de ser boa. Desde pequena, sempre fomos somente eu e ela — já que nunca pûde conhecer meu pai. Priscilla, ao meu ver, sempre foi uma mulher com traços narcisistas, nunca se importando muito com os meus sentimentos e opiniões. Então, fui acostumada a ter todas as minhas escolhas na verdade, decididas por ela.

Ao longo do tempo, isso começou a me incomodar. Queria correr atrás dos meus próprios sonhos. Me sentia presa em um ninho e eu realmente ansiava voar.

E era exatamente por esse motivo que estava às 4h50 da manhã terminando de arrumar as minhas malas, rumo a Juilliard.

Me despedir desta maneira era muito complicado. Eu desejava ter sido apoiada nessa decisão. Queria que minha mãe estivesse comigo, feliz e orgulhosa, me ajudando a realizar esse desejo. Mas infelizmente, ela o ignorava.

Fechei o último zíper e respirei fundo, segurando uma lágrima que ameaçava surgir. Levantei-me, peguei uma caneta e um papel e deixei a seguinte carta em cima da minha cabeceira:

"Mãe,

Quando ler esta carta, já estarei fora de casa. Irei explicá-la e peço que tente me entender, mesmo que isso possa ser difícil.

Você sempre soube que eu nunca quis seguir seus passos no Direito. Mesmo assim, vem tentando me convencer o contrário nos últimos meses, mas você sabe que eu não sou tão fácil assim. Eu não mudei e não mudarei de ideia.

Desculpe por ter mentido e te dado um pouco de esperança, porém essa, infelizmente, era a única maneira de eu conseguir ir para a minha faculdade desejada. Estou estudando na Juilliard. E nada vai mudar isso.

Por favor, não me procure caso seu objetivo for me levar para Toulouse. Eu não irei.

Perdão por ter que ser assim.

Any."

Com isso feito, eu estava pronta para ir. Me despedi brevemente da minha casa e corri para o meu carro, com medo de ser pega. Quando sentei no banco do motorista e percebi que tudo havia dado certo, soltei minha respiração — que por sinal, não percebera que estava segurando.

Meu celular emitiu um som agudo de notificação e eu deslizei meus olhos para a tela.

"Shiv: deu tudo certo, any?"

Aliviada, abro a nossa conversa e passo a digitar.

Shiv

2 de setembro, 2021, 5h05

Room 369 | BeauanyWhere stories live. Discover now