05. DÚVIDAS

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Satellite - Harry Styles
"Eu dou voltas e voltas
Como um satélite."

Any

Um som agudo ecoava do meu celular e incomodava meus ouvidos. Era Shivani, me ligando às 8 da manhã. Que agradável.

— Oi — falei sem ânimo algum.

— Meu deus — minha amiga comentou. — A ressaca 'tá forte, hein.

Ela gargalhava alto e eu não conseguia fazer o mesmo. Não tinha nem forças para falar, imagine para rir.

— Por que me deixou fazer aquilo, Shivani?

— Eu juro que tentei te parar! — disse ela. — Mas foi engraçado, vai.

Infelizmente, eu me lembrava de cada detalhe da noite anterior.

— Para vocês todos, foi sim — falei. — Mas agora quero ver como vou aguentar essa dor de cabeça insuportável!

Peguei meus óculos escuros na escrivaninha e os coloquei no rosto. Claro, mais um motivo para Shiv gargalhar.

— Tchau, Shivani. — Desliguei na sua cara.

Logo percebi que faltavam 5 minutos para a minha primeira aula começar e corri para a porta, destrancando-a rapidamente e indo direto para a sala de aula.

Consegui chegar a tempo e sentei na cadeira dupla.

Ah, não.

Havia me esquecido que aquela era a aula direcionada para o trabalho em dupla. Sim, aquele que faria com Joshua. E ele estava atrasado.

Passei os longos cinco minutos tentando me distrair, balançando minhas pernas inquietamente e me arrependendo das dezenas de Rossini 's que bebi.

Interrompendo meus pensamentos, Joshua apareceu na porta da sala de aula levemente desesperado.

— Com licença — disse, com seu sotaque muito evidente. O professor assentiu e ele entrou, sentando-se ao meu lado.

Ao invés de cumprimentá-lo, apenas o encarei.

— Oi, Any. Óculos legais.

Ele riu, me irritando ainda mais.

— Vamos focar no trabalho, ok? — falei. — Já estamos atrasados e a culpa é sua, para variar.

Joshua se rendeu a abriu o seu computador. O arquivo do trabalho estava praticamente vazio.

— Você sabe que temos que apresentar isso hoje, né? — relembrei-o.

— Eu sei — disse ele, nada preocupado. — E é exatamente por isso que iremos pesquisar tudo no Google e colar aqui.

Arregalei meus olhos, assustada com a sua sugestão.

— Mas é claro que não! Se descobrirem isso, zeramos essa merda!

— Não irão descobrir.

Joshua Beauchamp tinha a audácia de me propor a ideia mais imbecil de todos os tempos.

— Não, Joshua-

— Josh — ele corrigiu, me lembrando mais uma vez da noite anterior.

— Ok, Josh — Ainda era estranho chamá-lo por um apelido. —, eu vou elaborar as ideias e você vai digitar e cuidar do design e fotos.

— Eu não tenho escolha, né?

— Claro que não.

Então, comecei a estudar o tema enquanto o garoto mexia nos slides. Eu era péssima nessa parte de estética então era ótimo que ele fizesse isso por mim. Josh era bom nisso.

Os cinquenta minutos da aula se passavam velozmente. O professor passou a sortear a ordem das duplas e... claro, seríamos os primeiros a apresentar.

Não queria admitir, mas o trabalho estava perfeito. Não só o texto que elaborei, mas sim a atividade por inteiro. Logo após a nossa apresentação um pouco caótica, o professor parecia impressionado.

— Ótimo, garotos. O trabalho está realmente perfeito — ele afirmou.

Revirei meus olhos internamente, mas Beauchamp sorriu.

— Hm... nota máxima para Sr. Beauchamp e Srta. Gabrielly!

A sala aplaudiu e eu corri para o meu lugar, levemente envergonhada. Josh agradeceu as felicitações e depois também voltou a sentar.

— Viu, Any — ele disse, sorrindo ladino. — Acho que formamos uma ótima dupla.

...

O resto do dia foi tranquilo, na medida do possível. Sim, passei o dia todo com a dor de cabeça irritante e um cansaço inexplicável, mas não avistei Josh Beauchamp em nenhuma outra aula.

O que era estranho. Ele nunca faltava às palestras, mas mesmo assim, não o vira lá.

Entretanto, eu não podia reclamar. Um pouco de distância do loiro era o que eu mais precisava.

Quando cheguei ao apartamento no final do dia, pousando meus óculos escuros na mesa da sala, percebi que havia mais alguém no local. 

Segui no corredor para o quarto e avistei Josh em sua cama. Com seus olhos inchados e avermelhados e uma expressão desanimada, ele disse:

— Oi.

— Onde você esteve o dia todo? — perguntei. — Não o vi em nenhum lugar. Nem na hora do almoço.

— E isso não é bom? — perguntou.

— É sim, mas... — Repensei e percebi que eu estava sendo um pouco insensível. — Tá bom, Josh, eu fiquei um pouco preocupada. Está tudo bem?

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Eu não estou me sentindo muito bem e decidi ficar aqui no apartamento. É isso.

Josh não parecia muito convencido de sua resposta.

— Você está mentindo — afirmei.

— O que? Claro que não — o garoto falou, ainda não me persuadindo. — E, se não for se incomodar, você pode me dar licença, por favor? Eu preciso fazer uma ligação.

Eu tinha certeza de que estava sendo enganada, mas mesmo assim, decidi respeitar sua privacidade e saí. Logo ouvi a porta sendo trancada.

Meu bom senso dizia que eu não devia tentar escutar atrás da porta. Infelizmente, a curiosidade falou mais alto. Coloquei um de meus ouvidos na superfície e tentei ouvir alguma coisa.

Entretanto, apenas alguns burburinhos foram capazes de ser percebidos.

Ainda queria entender o motivo de tudo aquilo.

Room 369 | BeauanyWhere stories live. Discover now