11. IMPREVISTOS

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1 step forward, 3 steps back - Olivia Rodrigo
"É sempre um passo para frente e três para trás
Você me ama, me quer ou me odeia, garoto? Eu não entendo."

Any

Pela primeira vez em meses, despertei de muito bom-humor. O sol no meu rosto não me incomodava, o som dos pássaros piando era incrivelmente bom aos meus ouvidos e eu parecia ter descansado o suficiente. Estava pronta e disposta para o próxima dia.

Levantei-me e troquei minhas roupas rapidamente. Escovei os dentes, e, quando fui à cozinha, percebi que Josh não estava lá como sempre. Voltei ao quarto e o vi ainda deitado na cama, escondido debaixo das cobertas.

— Josh? Está acordado?

— Sim, mas eu não vou para a aula hoje — disse ele rispidamente. — Não estou me sentindo bem.

— Ué... nós nem bebemos para estar de ressaca — apontei. — Você 'tá fazendo drama para faltar aula, né? Eu te conheço, Beauchamp...

Josh não riu do meu comentário como sempre fazia quando eu falava algo minimamente engraçado. Na verdade, ele somente assentiu e depois de fazer um certo esforço, falou:

— Any, não estou para brincadeirinhas hoje.

— Ah, está bem... — lamentei, ainda muito confusa. — Se precisar de alguma coisa, me liga.

— Eu não tenho seu número.

Ri, tentando aliviar a situação. Nada feito.

— Me manda um email, então.

E não fui respondida.

...

Durante a primeira aula do período, tudo o que eu fiz foi atualizar e checar a minha caixa de entrada, esperando algum sinal do meu colega de quarto.

Sina, ao meu lado, estava estranhando a situação.

— O que foi, Any? — ela perguntou em um susurro.

— Josh não está bem e ficou de me avisar caso precisasse.

A loira não parecia saber de nada, mesmo sendo próxima ao garoto.

— Ah, é? Ele não me disse nada — apontou. —  O que ele tem?

Ergui meus ombros, mostrando-a que eu também não sabia de nada.

De repente, senti algo estranho em meu peito. Um mal pressentimento.

Levantei da minha cadeira inconscientemente, atraindo alguns olhares desentendidos. Um impulso me fez andar até a porta, sair da sala e subir até o nosso apartamento.

Não bati à porta e entrei sem avisar. Quando não vi Josh deitado na cama, o sentimento ruim passou a aumentar. Onde ele estava?

— Josh? — chamei. Percebi a minha respiração perdendo o controle.

Para meu alívio, ele respondeu. Sua voz vinha do banheiro e eu corri em sua direção.

Encontrei-o parado em frente ao vaso, com o rosto pálido e a boca aberta. Tinha acabado de vomitar.

Quando Josh tentou falar alguma coisa, se inclinou ao vaso para colocar tudo para a fora novamente.

— Josh, você tem que ir a um hospital. Pra ver se está tudo bem mesmo.

Claramente não estava. O loiro demorou alguns segundos para me responder, se recuperando do mal-estar.

— Não, Any. Eu vou ficar bem — ele afirmou sem tanta certeza. — E as consultas aqui em Nova York são absurdas de caras, então isso está fora de cogitação.

— Se esse for o motivo, eu pago. — Por um momento, eu pensei que falar isso era uma boa ideia, mas estava enganada. Ele retrucou:

— O quê? Claro que não. — Josh realmente parecia ter se ofendido. — Não é porque você é milionária que preciso de favores seus.

— Eu não quis dizer isso! — tentei explicar-me, não o convencendo. — Eu só estou tentando te ajudar.

Assim, Josh saiu do banheiro e passou por mim, em direção a sala de estar. Seus passos eram firmes e grosseiros.

— Eu não preciso da sua ajuda, Any.

Virei-me, pois o garoto já estava longe do meu campo de visão. A expressão facial de Josh era um tanto quanto preocupante. Provavelmente eu o havia ofendido terrivelmente.

— Josh, eu...

Ao tentar me justificar novamente, fui parada.

— Any — ele chamou a minha atenção em alto e bom som —, você pode, por favor, parar de falar? Estou com dor de cabeça e você não está sendo uma grande ajuda. 

Ali, cheguei ao meu limite. Eu até conseguia suportar suas farpas diárias, até porque, eu as retribuía. Todavia, não aceitava toda aquela estupidez.

Não disse uma palavra. Apenas me retirei do apartamento e bati a porta talvez forte demais. Não me importava se aquela era uma atitude infantil — pelo menos, estava mais aliviada.

Impulsivamente, caminhei em passos largos até o quarto de Shivani. Em alguns momentos, talvez você só precise de sua melhor amiga.

Bati à porta com a minha batida combinada com Shivani. Tínhamos essa tradição a fim de que sempre soubéssemos quando a outra estava na porta.

— O que houve? — ela perguntou logo após abrir a porta. — Esta sua batida foi bem agressiva.

Entrei em seu quarto depois de conferir que Heyoon não estava lá. Como estávamos sozinhas, deitei-me em sua cama e bufei:

— Joshua está muito esquisito. Já não bastava um mal-estar repentino, e agora, ele deu para ser um otário comigo.

Shiv virou as chaves e deitou ao meu lado. Pediu-me para lhe contar melhor e eu resumi toda a história em alguns minutos.

— Posso ser sincera? — indagou ela.

— Você sabe que sim.

— Any, você já foi muito pior com ele. — Ela percebeu a minha expressão desapontada. — Não que isso justifique a estupidez, claro... mas não pode o crucificar por isso. Quando você teve dias ruins, tenho certeza de que ele te perdoou...

Lembrei-me das idiotices que atirei-lhe no outro dia.

— Mas dessa vez foi diferente — rebati. — Nós estávamos nos dando bem e tivemos conversas agradáveis ontem. Pensei que já podia nos considerar amigos, mas acho que estava enganada...

Room 369 | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora