31. PAIXÕES

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Don't Give Up On Me - Andy Grammer
"Eu não vou desistir
Mesmo se mais ninguém acreditar."

Any

As aulas voltaram: e eu não poderia me importar menos. Quem ligaria para a teoria musical quando sua vida está desmoronando, literalmente de cabeça para baixo?

Confesso que ainda não havia aceitado nada daquilo, mas estava fingindo que sim. Joshua continuava agindo da mesma forma: um sorriso encantador no rosto e piadas tão sem graça que sempre faziam-me rir. Como ele conseguia?

Como era possível alguém ser tão otimista ao mesmo tempo que enfrenta um demônio tão cruel como o câncer?

Josh me acordou bem-humorado, o que não era uma novidade. Ele nos preparou um café da manhã reforçado pois a volta às aulas é sempre cansativa.

Ele me pediu para chegar no quarto não tão tarde, embora o dia fosse corrido, pois queria conversar comigo e eu o agradeci por isso. Poderíamos esclarecer tudo, mas agora de cabeça fria.

Mas antes que tudo isso pudesse acontecer, meu dia foi ocupado com o total de 9 aulas longas e cheias de conteúdo. Não era tão ruim, entretanto, já que amava o meu curso e precisava de algo para ocupar minha cabeça. Quando voltasse ao apartamento, à noite, seria atingida por um soco de realidade e não tinha certeza se realmente o desejava.

Mesmo assim, foi o que aconteceu. Encontrei Josh no 369 por volta das 20h sentado à mesa posta. Como sempre, o jantar seria típico de sua cultura: crepes franceses.

Beauchamp me cumprimentou com um beijo carinhoso, e eu me sentei à sua frente. Provei da sua deliciosa refeição e amei o que senti, mas não consegui expressar isso muito bem. Josh percebeu.

– Ei, olhe para mim – falou, deixando os talheres de lado. – Você não vai conseguir agir como se nada tivesse acontecido, né?

Respirei fundo e encarei-o com sinceridade:

– É, não – confessei. – Me desculpa.

– Está tudo bem. Sei que também tem muitas dúvidas e também estou ciente que lhe devo as respostas – falou. – Vá em frente.

Suas palavras trouxeram alívio. Sem pensar duas vezes, logo pensei nas minhas inúmeras dúvidas e as coloquei para fora.

Eu estava perdida. Queria saber como ajudar, como agir e o que aconteceria dali para frente, por mais que não pudéssemos ter certeza de nada. As perguntas foram esclarecedoras e Josh respondeu a elas com mestria. Ele foi capaz de sanar todas as minhas dúvidas e ainda trazer um pouco de conforto para o meu coração, ainda que fosse difícil.

A pergunta final finalmente se libertou, acompanhada de uma pontada no peito:

– Quanto tempo você tem?

Doía pensar que tínhamos um limite. Existia um tempo determinado para nos amarmos e o pior: nenhum de nós tinha controle sobre ele.

– Não sei exatamente, Any. Fazem dois anos e meio desde que meu médico me falou que eu tinha no máximo dois então... digamos que estou na beira – sorriu, mesmo eu não entendia como ele era capaz disso. – Mas... se quer meu conselho, assim como eu o fiz, esqueça que vou morrer.

– Como? – perguntei, desolada. – Temo que a cada vez que olhar para você minha mente vai me relembrar disso.

Ele se aproximou e segurou uma das minhas mãos.

– Ei, Any. Eu prometo a você que vai se acostumar com essa ideia – consolou-me, e logo depois limpou lágrimas que ameaçavam se intensificar. –Você confia em mim, certo?

– Mais do que em qualquer pessoa, Josh.

– Então me escute. – Me encarou com mais transparência. – Ficaremos bem. Eu sei que vamos.

Naquele momento, forcei-me a acreditar em suas palavras. Ainda pareciam irreais para mim, eu confesso, mas me traziam mais conforto do que as angústias na minha cabeça. Agarrei-o com um beijo acalentado e ele o retribuiu.

– Senti sua falta – falou.

Sim, faziam dois dias desde que me revelara a verdade, mas ambos sentíamos como se tivessem passado 2 meses. Naquele ponto, qualquer segundo longe do outro parecia valer muito mais do que apenas um conjunto de milésimos.

De repente, ele interrompeu o beijo pois pareceu se lembrar de algo:

– Eu tenho algo a te mostrar, bijou.

Assim, Josh me guiou até o quarto e tirou um pequeno caderno azul de sua cabeceira.

– Esse é o único segredo que existe entre nós. Até agora. – Josh me entregou o caderno sem hesitar.

Eu abri, não sabendo o que esperar. Encontrei diversas coisas escritas e diversas fotos coladas no papel, e o garoto percebeu que eu não havia entendido.

– Fiz essa lista logo depois de descobrir que o câncer era terminal – explicou. – Tem todas as 50 coisas que quero fazer antes de morrer. Quer dizer, até então são 49, pois ainda não decidi qual vai ser o última coisa.

Sorri ao reparar em algumas escritas.

Item 3: Ver Taylor Swift ao vivo
Item 6: Ir a um cinema drive-in
Item 9: Fazer um desejo na Fontana di Trevi;

Prestei atenção nos itens e fotos e me surpreendi: eu estava em algumas delas, como por exemplo o desejo de beijar alguém sobre a chuva ou beijar em uma roda gigante. Também notei que havia algumas coisas ainda não cumpridas.

– Quero completá-las com você, Josh.

– O quê?

– Estas coisas que ainda não fez... – expliquei. – podemos fazê-las juntos.

O garoto não conseguiu evitar em mostrar sua felicidade, e a demonstrou com um abraço.

– Obrigado, Any.

– Pare de agradecer sempre. Não é uma obrigação, o que eu estou fazendo – falei, olhando seus olhos azuis fixamente. Sorri ao dizer: – É tudo apenas porque eu te amo

– Não, não, você merece agradecimentos. – disse e se aproximou, com um leve beijo. – Obrigado. Obrigado por não desistir de nós. 

Room 369 | BeauanyDonde viven las historias. Descúbrelo ahora