Room 369 | Beauany

44. IRAS

Ruin My Life - Zara Larsson
"Você incendiou o meu mundo, mas eu não aguentei o calor
Agora estou dormindo sozinha, e comecei a congelar."

Assunto: (sem assunto) ———————————————————————————————————
Any Gabrielly <agabrielly@email.com>                                                                                           12/02/22

para Josh Beauchamp

Josh,

17 dias.

17 dias desde que estou vivendo em um verdadeiro inferno. O mundo continua seguindo em frente, parecendo não se importar com o caos que estou vivendo. O luto agora parece uma tempestade violenta que consome tudo em meu caminho.

Você está em todo lugar.

A carta que me deixou ainda está parada na mesa de centro, ainda parecendo recente. Eu a leio algumas vezes, em busca de algum tipo de conforto que não sinto há algum tempo. Não parece ajudar.

A tinta é como uma acusação, um testemunho de algo que não me prometeu, mas queria que tivesse cumprido. Queria que ficasse comigo para sempre.

No entanto, aqui estou eu, me afogando nos restos de você que ainda me pertencem.

Estou com raiva, Josh, e não posso evitar. Com raiva por tanta insensibilidade do universo, o qual foi tão indiferente a tudo o que construímos. Apenas arrancou você de mim, sem me dar tempo para preparar-me ou simplesmente aceitar. Por que?

Os "sinto muito" das pessoas bem intencionadas não me causam nada além de fúria. As condolências se tornaram uma falsa tentativa de consolo. Ninguém nunca está falando a verdade. Ninguém sente o mesmo que eu.

Eu afastei estas pessoas, ressentido às suas tentativas de preencher o vazio que estou sentindo. Ninguém vai fazer isso tão bem quanto você.

Me sinto em um turbilhão de emoções e distancio aqueles que se importam comigo porque tenho medo de me tornar um fardo – assim como você já fez comigo. Agora, eu entendo. Não quero piedade; eu quero você de volta. Quero um futuro com você.

A saudade dilacera, e parece apagar as partes boas sobre você — me odeio por isso. Em uma crise, me peguei rasgando uma de nossas fotos, Josh. Também me odeio por isso.

Me odeio por não conseguir lidar com isso de uma forma saudável. Pelo contrário, eu sinto que tenho de anular a sua existência; estou presa entre a raiva e a culpa, as quais não consigo encarar.

Tenho odiado o tempo, pois vejo você quando chove. Lembro da forma que me beijou, maldosamente perfeita, embaixo dos respingos de água. Também me recordo de como nada era importante quando estávamos juntos. Agora que me deixou sozinha, tudo parece me afetar.

É irritante ver as pessoas vivendo como se nada tivesse acontecido. O homem ainda passeia cantarolando pela Times com seu cachorro, os professores ainda nos enviam projetos e os alunos ainda caminham rindo com seus colegas no corredor da Juilliard. Porra, será que ningúem está sentindo a mesma coisa?

A vida continuou para todo mundo, mas tenho certeza que a minha vai permanecer estagnada e... talvez a culpa seja sua. É o que prefiro acreditar, ao invés de me torturar diariamente pensando no que eu poderia ter feito diferente.

Eu questiono cada escolha, cada decisão que levou ao nosso final. Poderia eu ter feito mais? Se eu tivesse descoberto antes, poderia fazer alguma coisa? O arrependimento que ferve dentro de mim queima a minha consciência com as perguntas implacáveis de "e se?".

Às vezes, tenho vontade de nunca ter te conhecido – não me orgulho disso, mas é a verdade.

Quando tudo parece piorar, não consigo encontrar a felicidade que você disse que eu encontraria. Ao invés disso, me isolo. Me culpo. Culpo você. Choro durante horas, sem pausas. Bebo até alguém vir me parar. Finalmente, deito na cama e sonho com algo que nunca mais irei ter: você.

Só espero que esse sentimento vá embora, Josh. Eu não quero mais sentir a sua falta.