CAPÍTULO 05

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O mundo é regido por grana, bufunfa, dim dim

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O mundo é regido por grana, bufunfa, dim dim... Foi por causa dela que aceitei fazer um assalto que não deu certo. Foi pela falta dela que Jamila foi embora do Rio levando o nosso filho com ela. Esse pedaço de papel às vezes com valor exorbitante, outras valendo nada, causa desespero, deixa a gente com os planos parados e se você for preso, sem ter grana, você não vai conseguir sair de lá tão facilmente.

Sai por redução de pena. Nunca pensei que meus esforços renderiam alguma coisa no pior lugar do mundo, mas é aquilo, meus esforços lá dentro não servem de nada em um currículo que é ignorado por uma ficha suja. Não conseguiria um emprego tão facilmente. Tive certeza desde que pus os pés para fora da penitenciária. Antes da flexibilização de todo o distanciamento, fiquei em casa sem saber o que fazer. Amália ainda pegou o cala boca disfarçado de auxílio desse governo de merda, mas não durou muito. Vender sacolé foi uma ideia que veio no início do ano, depois da virada, do povo cansado de ficar em casa e burlando todas as regras possíveis. É foda como até a nossa saúde se rende a uma sobrevivência financeira.

Vender sacolés era temporário, inseguro, sem retorno. Foi isso que fiquei falando para mim mesmo quando aceitei o pedido do tal Erick. Me senti quase um submisso dos desejos de playboy. Apesar de toda a sua preocupação exagerada com o amigo, quem deveria suportar ele mesmo era eu naquela semana que não estava nem um pouco melhor do que a anterior.

Estava cansado de bater na porta quando Inácio abriu com os cachos molhados e com o conjunto de bermuda e camiseta, mal arrumado no corpo.

— O que você quer? — Suspirou com os pingos d'água caindo sobre o seu rosto.

— Trouxe pão. — Mostrei a sacola entre meus dedos.

Inácio fez pouco caso.

— Você não tem nada melhor para fazer não?

— Tenho, mas tenho que falar contigo também.

— O Erick me falou que conversou contigo, então se for sobre isso eu não ligo.

O seu mau humor não era capaz de mascarar o desânimo no seu olhar. Sabia do que estava falando porque via aquela mesma expressão todos os dias.

— Deixa de ser cuzão. — Nem pedi licença ao passar entre ele e o batente da porta.

Aquele lugar estava bem arrumado, não por mérito dele, mas muito provavelmente pelo tal Erick que só estava longe há dois dias. Parece que ter alguém resolvia uma parte dos problemas dele.

— Não tô aqui porque gosto de você, — Deixei o saco de pão na pia da cozinha e tirei a máscara do rosto. — mas porque eu quero ganhar dinheiro.

Abriu um riso frouxo.

— E eu sou seu caixa forte?

— Prefiro te ver como uma galinha dos ovos de ouro, te torna mais inofensivo.  — Inácio relaxou na cadeira, mantendo a atenção em mim. Não reagiu às minhas palavras. — Pensei em desistir de você, mas seu amigo me lembrou que eu sou um eterno desempregado e que você precisa de alguém que te ature. Então somei o útil ao agradável.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaOnde histórias criam vida. Descubra agora