CAPÍTULO 16

18 4 6
                                    

Inácio estava resfriado

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Inácio estava resfriado. Ele fez uma chamada de vídeo com o seu médico na Segunda de manhã. O homem era sensato, lembrou da importância da vacinação, ainda mais nas suas condições de saúde, mas Inácio não deu atenção.

Nem eu tagarelei aquilo no ouvido dele.

Por conta do seu resfriado cheio de coriza, nariz entupido, febre, tosse e dor nas costas, tentei ficar o menor tempo possível naquele apartamento, não só pra não levar aquele resfriado para fora dali, fosse no apartamento da Amália ou no Asilo Girassol, mas também pra não ficar perto dele. Queria distância dele e do que meu corpo sentia por ele.

Alimentar aquele tesão era furada.

— Você tá sentindo alguma coisa?

Neguei com a cabeça enquanto terminava de mastigar o macarrão. Fazia semanas que a gente não conversava sobre qualquer coisa. Não gostava de olhar para aquilo, porque todas as vezes que percebia a nossa situação, lembrava do fato de que fugimos de nossas solidões familiares para sermos refúgio um pro outro. Ainda não conseguia entender como chegamos ali, ainda mais depois de termos perdido o Vicente.

— Qualquer indício me avisa. — Observei seu rosto enquanto levava o macarrão aos lábios.

— Isso é por você ou pelo Oscar? — Suas íris castanhas me olharam por um momento por baixo dos cílios. — Porque se eu pegar, você pode pegar e ele também, então isso é por mim, por você ou por ele?

Suspirou.

— Não cria caso, Tobias. — Bebeu um gole da água no copo.

— Esse é o problema, Amália, eu não tô criando nada. — retruquei voltando a sentir aquela raiva enroscada no peito.

— Será que tem como a gente terminar esse jantar sem você buzinando no meu ouvido? — Foi rude.

Amália continuou comendo enquanto eu perdia a fome. Fiquei enjoado. Ela não comentou. Terminou de comer e em silêncio, observei seus gestos ao lavar seu prato, secar as mãos e sair do cômodo, desaparecendo no resto do apartamento.

Fui atrás dela, por impulso, cansaço e desespero.

— Por que você me chamou para morar contigo?

Era a primeira vez que aquela pergunta existia.

Amália me olhou assustada, de pé no meio do quarto com a camisola preta entre os dedos.

— Que pergunta é essa?

— Só responde.

Seu riso foi frouxo e negou com a cabeça, como se não levasse aquilo à sério.

— Não tem o que responder.

— Você tá fugindo disso. — rebati observando ela deixar o tecido na cama e se aproximar do guarda roupa na parede, fazendo, mexendo em sei lá o que, enquanto o silêncio ficava cada vez maior entre a gente. — Amália! — Atravessei a porta.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaWhere stories live. Discover now