CAPÍTULO 18

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Uma das paredes do meu quarto tinha uma mancha de infiltração por causa de algumas pastilhas que estavam quebradas do lado de fora do prédio

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Uma das paredes do meu quarto tinha uma mancha de infiltração por causa de algumas pastilhas que estavam quebradas do lado de fora do prédio. Em certo momento da noite tive um pesadelo daqueles que parecem bem reais até acordar e entender que era só coisa da minha cabeça, de novo. Apertei os braços ao redor das pernas dobradas, com os dedos trêmulos sustentando o cigarro. Estava tudo escuro, mesmo com o dia nascendo ainda estava escuro demais dentro daquele quarto.

Só saí do cômodo depois que Amália saiu pra trabalhar e o Sol, que atingia diretamente a cama, queimou demais a minha pele. Sônia me ligou naquela manhã de sexta, mas não atendi porque minha cabeça estava em outro lugar.

Quando saí do apartamento do Inácio fiquei zanzando pela rua, preso entre voltar lá ou permanecer debaixo da Lua. Esperei tempo demais do lado de fora, mas o tal Fabrício não foi embora, nem tinha gritos, voz alta ou qualquer coisa que desse indício de discussão. Inácio não dormiu sozinho naquela noite. Aceitar aquilo me deixou mal. Imaginar os dois juntos causou um sentimento até então distante demais de todos os que eu sentia ultimamente. Era ruim admitir, mas eu estava com ciúmes e com inveja deles.

Queria que alguém tivesse por mim o mesmo sentimento que Fabrício sentia pelo Inácio e ser desejado da mesma forma que ele era pelo Inácio. Queria estar naquele meio, mas não estaria porque aquele lugar não era meu. Eu não fazia parte de um relacionamento com outras duas pessoas, Vicente estava morto e Amália estava em outra. Mesmo assim meu coração estava pesado e eu sozinho.

Inácio fez 32 anos, a vela queimada sobre a pia ao lado de mais da metade da torta salgada coberta por papel alumínio deixava isso claro. Tinha uma garrafa de vinho, copos sujos e as coisas do Fabrício sobre a pia e a mesa. Não mexi em nada, na verdade nem sabia o que queria ali.

A porta no corredor bateu e ouvi barulho no banheiro. Era o Fabrício. Não sai da cozinha, fiquei parado, de costas pro corredor, fingindo que arrumava aquela zona. Aquilo era ridículo, mas queria olhar pra ele, encarar aqueles olhos castanhos e entender o que realmente havia ali que pudesse ser meu. Ensaboei os copos, pratos, talheres e sua presença fez presença na geladeira.

— Bom dia! — Alcançou um copo limpo sobre a pia e, na extensão da pedra, apoiou a lateral do corpo.

Deixei as louças limpas no escorredor e olhei pra ele. Fabrício estava sem camisa, expondo as cicatrizes abaixo dos seios. A bermuda que ele usava era do Inácio.

— Você podia ter ficado.

— Achei que vocês tinham muito pra conversar.

Ele assentiu.

— Ainda temos, mas acho que você sabe o quanto ele pode ser limitado nos assuntos.

Sorriu de maneira sugestiva. Aquilo me incomodou.

Neguei com a cabeça.

— Eu não sei de nada.

Sua mão escorreu pela barriga.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaWhere stories live. Discover now