CAPÍTULO 07

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Parei de ir à praia e nas últimas duas semanas, passava as noites de sexta e sábado longe do Oscar e bem perto da Luena e do sofá da sua sala

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Parei de ir à praia e nas últimas duas semanas, passava as noites de sexta e sábado longe do Oscar e bem perto da Luena e do sofá da sua sala. Ela começou a me chamar para maratonar séries nesses dias onde nenhum lugar parecia grande o suficiente para me suportar. Em quatro dias da semana, Luena dava aulas particulares de inglês online, então na maior parte do tempo ela ficava dentro daquele apartamento que era bonito demais para ficar longe.

Casas, no sentido de ser um lar, um espaço onde pessoas se colocam nos móveis, cadeiras, paredes, detalhes mínimos, se torna um reflexo fiel do que se passa dentro da gente. Luena era linda demais. Isso não é para falar sobre aparência, mas sobre como ela era uma pessoa amável, gentil e carinhosa demais com alguém tão horrível quanto eu.

Ainda estava preso naquele moinho de sentimentos que giravam em torno do homem que morava à anos dentro daquele abrigo em Higienópolis. Eu precisava ir lá, mas a rota sumiu da minha cabeça e a coragem, que nunca fez parte das minhas vivências, não apareceu dessa vez pra me ajudar.

Droga!

Precisava parar de pensar tanto.

— Queimou o arroz?

Suspirei com raiva daquele cheiro de coisa queimada, daquele vapor quente.

— Não foi nada. — Peguei outra panela e despejei o arroz bom dentro dela, antes de encher de água a panela com arroz agarrado no fundo.

Inácio estava parado atrás de mim. Toda vez que ia cozinhar para ele, ele ficava me sondando feito uma assombração, acho que na sua cabeça minúscula ele tinha certeza de que iria colocar veneno na comida, como se tivesse lógica colocar veneno na comida que eu também iria comer.

— Devia prestar mais atenção.

Suspirei. Ele estava mal humorado.

— Vem cá, — Voltei o olhar para ele. — você não tem nada melhor pra fazer não? Além de ficar aqui, no meu cangote? — Gesticulei para a região na curva do pescoço. Conseguia sentir seu bafo quente ali.

Inácio ergueu as sobrancelhas.

— Te atrapalho?

— Muito. — Ele remexeu o tronco na cadeira. — É horrível ter alguém te vigiando. Até porque não tem o menor sentido, se eu colocar alguma coisa na tua comida, eu não recebo.

Suas íris analisaram as próprias mãos sem prestar atenção no que falei.

— Tanto faz... — murmurou e foi empurrando a cadeira para fora do cômodo.

Era difícil lidar com ele. Revirei os olhos e suspirei dando atenção para o ensopado. Aquilo era a comida mais fácil de fazer. Quando eu e Amália ficamos trancados em casa, sem a presença de terceiros, eu adorava fazer aquilo, ainda mais para alguém que adorava legumes como ela.

Quando tampei a panela e desliguei o fogo, algo despencou no chão da sala.

— O que houve aí? — gritei mais por curiosidade do que por preocupação.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaWhere stories live. Discover now