Tobias é ex-presidiário e dependente químico que tenta retomar a vida no mesmo ritmo que o mundo retorna de uma pós pandemia. Através de reencontros, deseja refazer os laços com o filho e zelar pela vida de pessoas que um dia ajudaram ele, mas isso...
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Estava na beira do caminho. Os carros passavam levantando a poeira uma vez ou outra e as pedrinhas do asfalto rolavam até o meio fio. Não tinha ninguém na rua. Era como se todos os sons estivessem aprisionados nos prédios e casas da rua. Tinha música ao longe.
Traguei o cigarro. Havia conseguido um com umas moedas perdidas no bolso. Apenas aquele não teria a capacidade de melhorar o meu humor. Não tinha como entrar no apartamento e não tinha outro lugar para ir, mesmo querendo desaparecer do caminho do Inácio.
Estava com raiva dele, mas aquele era um sentimento atravessado por algo próximo de pena o que era uma merda porque por causa disso eu sabia que não ia conseguir ser imparcial com ele.
— Porra! — Arrastei a mão pelos olhos e funguei antes de sentir o cigarro nos lábios.
Senti a presença na calçada, mas não olhei para trás até a roda da cadeira encostar na minha perna.
Inácio tossiu.
— Pensei que tinha subido.
Observei a fumaça sumir na direção dos grandes galhos da árvore acima de nós.
— Esqueci as chaves.
— Tive que dar a volta pelo outro quarteirão porque não tinha passagem na rua.
Achei graça daquilo.
— Não quero saber. — Traguei o cigarro.
— Eu tô te explicando.
— E eu não quero saber. — Ergui os olhos atrás dos seus.
Parecia cansado.
Suspirou.
— Não seria legal se eles conhecessem você.
Só podia ser brincadeira.
— Por que pessoas como você não lidam com pessoas como eu? Por que não quer admitir que depende de mim? Ou ficou com medo de acharem que eu era teu amante?
Ele ficou sem graça. Dava pra ver pela pressão no maxilar por trás da máscara, o olhar confuso.
— Tentei te ajudar. — Olhei para o asfalto abaixo dos meus pés. — Ela é uma amiga antiga da minha irmã e se me visse com você nossos pais iriam saber e...
— Não vem justificar as suas atitudes com relações familiares de merda. — Fiquei de pé. — A minha família também não foi uma das melhores e nem por isso trato os outros feito lixo.
Parecia assustado.
Olhei para o outro lado dando um último trago no cigarro antes de jogar ele fora.
— Você não entende.
— Ninguém entende nada até que alguém explique, mas você prefere ser isso. — Gesticulei para ele como um todo. — Por que não assume logo o que você faz ao invés de ficar atrás dessas relações ruins com mamãe e papai? Já tá muito grande, não acha?
