Tobias é ex-presidiário e dependente químico que tenta retomar a vida no mesmo ritmo que o mundo retorna de uma pós pandemia. Através de reencontros, deseja refazer os laços com o filho e zelar pela vida de pessoas que um dia ajudaram ele, mas isso...
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Eu não conseguia relaxar.
Naquela quinta, era reunião de aniversário e por conta daquilo a NA foi aberta para todos. Haviam pais, mães, esposas, maridos, irmãos, pessoas que eram importantes para cada um ali presente. E eu tinha a Luena. Apesar de ter ouvido tudo o que o Túlio me falou, não consegui organizar aquilo na minha cabeça a ponto de dizer para todos como eu me sentia.
Às vezes eu não sentia nada sobre o Vicente e tudo o que aconteceu até ali; e aquele não sentir nada era mais dolorido que qualquer outra sensação. Aquele era o meu medo. Não sentir nada a ponto de deixar de me importar com tudo o que um dia foi importante pra mim. O foda era que não tinha motivos para insistir no que não existia mais ali. Vicente havia se tornado um fantasma, uma alegoria assombrosa. Não tinha mais nada além de tudo o que despejei sobre o que lembrava dele.
Os aplausos foram todos para a Valéria, que depois de um ano limpa recebia a sua ficha de aniversário na presença da sua mãe e do seu filho. Luena apertou meus dedos entre os seus, com um sorriso no rosto. Estava feliz por ela estar ali comigo.
— Queria aproveitar a oportunidade de todos estarem reunidos aqui para dar as boas vindas oficiais a mais um participante. — O Túlio tinha um chaveiro branco entre os dedos. Estava olhando pra mim. — Seja bem-vindo, Tobias.
Estendeu a ficha pra mim e num incentivo da Luena, fiquei no meio daquelas pessoas e tomei posse do objeto.
— Só por hoje. — Observei o chaveiro entre meus dedos e olhei para o homem na minha frente.
— Valeu. — murmurei sem saber o que dizer pra ele.
Mas aquilo era estupidez. Túlio estendeu os braços e me abraçou. Retribui ao seu gesto e em um espaço tão estranho, me senti compreendido.
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Jamila quis me encontrar quando desembarcou no Rio, mas nem a chuva, nem o dia ruim do Seu Venceslau deixaram. O homem não conseguiu dormir e feito a madrugada chuvosa, um temporal se instalou no seu peito. Ele estava nervoso, falando sobre sair e ver sua casa, ver a esposa, falando que não tinha o que dar pra gente, que íamos matar ele. Não quis comer, não confiava na gente e eu só queria que ele respirasse fundo.