CAPÍTULO 15

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— É aqui?

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— É aqui?

— É.

Não estava conseguindo conter o nervosismo com o uso constante do cigarro.

— Deve ser lá nos fundos. — Luena adiantou os passos pela subida na lateral da igreja, mas não me mexi.

Desde que voltamos a nos falar com mais frequência, toda semana a gente se via. Fosse no cinema ou nas rodas de samba. A gente conversava sobre tudo, principalmente sobre o meu desejo de frequentar uma reunião do NA. Por isso que a gente estava na frente daquela igreja às sete horas de uma noite fria, mesmo que eu não conseguisse sair da calçada.

— Tobias.

— Acho melhor a gente ir embora.

Ela fechou a cara.

— Jura? Você me fez vir até aqui pra dar pra trás agora?

Mãos na cintura, olhar fixo em mim.

Suspirei.

— Não consigo fazer isso.

Cheguei mais perto do meio fio e ocupei espaço em um dos paralelepípedos. Vez ou outra um carro passava por ali, alguém olhava pra gente com desconfiança, a luz do prédio em frente acendia.

— Não é como se você fosse chegar lá e ser obrigado a falar das coisas.

Senti um frio na barriga só de imaginar diversos olhos me encarando.

— Tobias. — Sua mão acariciou minhas costas por cima do casaco.

Neguei com a cabeça.

— Vamos embora.

Estava ficando enjoado.

Luena me olhou com pesar. Estava jogando para o ralo todas as expectativas que foram crescendo ao longo dos últimos dias.

Voltei a trabalhar no asilo. Passava a manhã e a tarde toda com o Seu Venceslau, dava banho, comida, jogava buraco sozinho, ficava do lado dele e pela primeira vez desde que esse vazio na sua memória começou, nossa relação foi ficando cada vez melhor. No mero silêncio entre nós dois, a gente dizia muito. Dava pra ver que gostava da minha presença, só pelas caras e bocas que fazia quando outras pessoas queriam cuidar dele. Para mim era satisfatório. Só que toda vez que voltava para o quarto no cortiço em Santa Teresa, onde viviam mais famílias que turistas, tudo surgia na minha cabeça.

Essas coisas eram só minhas e elas sempre cresciam e ficavam imensas a ponto de não me deixarem dormir e trazer de volta aquela sensação ruim de uma fissura que me corroía por dentro. Aquele papo de um dia de cada vez estava me matando, porque até um "novo dia nascer", eu passava a noite no inferno.

— Vocês precisam de alguma coisa?

A voz chamou nossa atenção. Eu e Luena olhamos na direção da subida na lateral da igreja e o homem estava parado olhando nós dois.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaWhere stories live. Discover now