CAPÍTULO 14

17 2 11
                                    

Joana estava sorrindo para um casal na porta do asilo

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Joana estava sorrindo para um casal na porta do asilo. Ela sorria, gesticulava e falava coisas amáveis para o casal bem arrumado. Era a terceira vez em dois dias que rondava aquele lugar.

Saí da casa do Gustavo de um dia para o outro. Catei minhas coisas e fui embora feito um rato, deixando sua bagunça para trás. Ele já sabia que isso era questão de tempo até acontecer e talvez por isso ou pela mágoa ele não me ligou. Há três semanas que eu morava em um quarto de um cortiço de Santa Teresa.

Expeli a fumaça pelos lábios, continuando sem ideia de quais palavras usar, de que maneira conter a minha ansiedade e fingir que estava tudo bem. Era idiotice, pois estava na minha cara e naquele corpo por baixo do gigante casaco cinza, o quanto a semana afogada em dias cinzentos demais, eram típicas no inverno.

Na minha angústia ao longo dos dias, senti falta de certas coisas e de pessoas que nem sabiam que eu existia. Akin estava longe demais, assim como Seu Venceslau, mas por ele ainda conseguiria fazer algo bom.

O casal se despediu e Joana me viu do outro lado da rua. Apesar da repreensão naqueles olhos frios, atravessei a rua na frente do carro.

Ela tentou fechar a porta, mas como da primeira vez, contive sua tentativa.

— Vai embora.

— Bom dia, Joana! — Relaxei a pressão contra a porta de madeira.

— O que que você quer aqui?

— Cadê a Sônia?

— Ela não tá. — Abriu mais um pouco a porta.

Achei graça dela mentindo.

—Uma freira mentindo na cara de pau?

— Deus sabe que é por uma boa causa. — Levou a mão até o grande pingente de cruz no cordão em seu peito.

Concordei com a cabeça.

— Chama ela pra mim.

Suspirou.

— Você não tem vergonha de voltar aqui?

— A senhora, — Tentei ser respeitoso. — não cansa de ser hipócrita? Fica aí pregando coisas boas e me chuta daqui?

Ela sorriu.

— Tenho os meus motivos para fazer isso.

Achei graça.

— É agora que você coloca o todo-poderoso no meio?

— Mais respeito! — Apontou aquele indicador na minha cara.

— E quando recebo o meu?

A mulher me encarou séria e sem uma resposta pra me dar. Pensei que veria algum abalo sentimental, mas não tinha nada além das próprias convicções.

— Saí daqui.

— Por que que eu te incomodo tanto, Joana?

— Os problemas que você trás estão bem aí, no seu rosto. — Gesticulou para mim.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaWhere stories live. Discover now