CAPÍTULO 14

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Fiquei quatro dias colocando gelo, tomando remédio para dor e envolvendo gazes ao redor da minha mão

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Fiquei quatro dias colocando gelo, tomando remédio para dor e envolvendo gazes ao redor da minha mão. Pensei que não ia passar, mas passou, assim como os dias que não apareci no apartamento dele. Não tava a fim de falar com o Inácio, mesmo que pensar fosse inevitável.

Canastra.

Seu Venceslau lembrou de mim. Disse que eu parecia estar dias sem dormir. Por dor, por pensar demais, por pensar no Akin. Pra ele eu ainda ficava zanzando na favela.

— Parece que hoje não é meu dia de sorte.

Larguei as cartas na mesa, massageando a mão esquerda. Deveria aceitar a sugestão da Luena e ir à UPA, mas no fundo me parecia bom sentir dor física.

— Três Canastras limpas em dois jogos. — Jogou na minha cara os seus feitos naquela tarde de sexta. — Tá precisando dormir um pouco mais, rapaz.

Concordei com ele.

Estava precisando de muitas coisas.

— Vou levar isso a sério.

Ele sorriu por trás da máscara hospitalar, da maneira mais carinhosa, algo que sempre mexia comigo quando eu estava ali. Amália permanecia sendo a pessoa que mais me conhecia e que me rejeitava. E depois do Seu Venceslau, Luena era a única pessoa que ria comigo.

— Perdeu de novo?

Sônia chegou de mansinho, analisando o jogo.

— E ele achando que podia ganhar de mim. — Aquele homem ia ficar se achando até o momento que infelizmente esqueceria daquele feito.

Troquei olhares com Sônia, enquanto os dedos enrugados e trêmulos voltaram a embaralhar as cartas.

— Melhor de três. — Ele estava bem animado.

— Não, não. — Sônia deu dois tapinhas de leve no seu ombro. — A Suzana já tá colocando a mesa do café. — Informou. O homem revirou os olhos de um jeito dramático. — Não faz assim. — A mulher o repreendeu.

Por trás das lentes, o senhor piscou os olhinhos para mim.

— Eu vou, mas por você. — Juntou as cartas em uma pilha. — E porque tô com fome.

Como sempre levantou da mesa e no passo dele atravessou a área externa. Ele parecia bem. Guardei as cartas na caixinha, me preparando pra ir embora, mas a presença da Sônia no lugar que era do Seu Venceslau mostrou que havia assunto para tratar.

— Será que podemos conversar? — Apoiou os cotovelos no piso entalhado no cimento da mesa.

— Depende.

Ela sorriu por trás do tecido florido da máscara.

— Não é nada de mais. — Cruzou a mão no ar fazendo pouco caso do provável assunto. — Só queria saber se você pensou na minha proposta. Como já estamos chegando em Novembro, soube que talvez as inscrições fiquem para o início do ano que vem.

🏳️‍🌈| O Mar que Aqui RetornaWhere stories live. Discover now