consegue ouvir eu?

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- A gente voltou mais cedo da viagem porque a gente tinha uma novidade pra te contar que não podia esperar.

Giovanna pegou a criança no colo, colocando ele sentadinho em seus joelhos.

Alexandre esfregava as mãos uma na outra, nervoso.

- O que foi? Vocês trouxeram presente? - Ele perguntou, curioso.

- Também, amor. - Giovanna riu, beijando a testa dele. - Claro que sim, isso também. Mas é outro tipo de novidade..

- Fala, fala! - Ele pediu, ansioso.

Alexandre se agachou a altura dele, pegando as mãozinhas pequenas dele e balançando pra um lado e pro outro, ansioso.

- O que era a coisa que você mais quer no mundo, assim, piá?

- Humm.. Comer batata frita hoje a noite. - Ele concluiu, animado e sorridente.

Giovanna gargalhou.

- Tá, sem ser comida. Teu maior desejo do coração!

- Hmmm.. - Ele ficou pensativo. - Ah, ter um irmãozinho pra brincar de bola.

- Então, mas aí tu já pediu demais né? - Giovanna riu. - Você sabia que quando uma mulher fica grávida não dá pra escolher se bem um menino ou uma menina?

Noá olhou pra ela confuso.

- Ah, nossa. Não é só pedir pra cegonha? - Ele se chocou.

Giovanna não parava de rir.

- Não, a cegonha pega um bebê enroladinho no pano e trás pra gente, aí pode ser que seja menino, pode ser que seja menina.. A gente só descobre depois de um tempinho na barriga.

- Ah, nossa. - Ele murchou. - Eu queria um irmãozinho pra jogar futebol.

Giovanna riu.

- Ué, o que te impede de jogar futebol com a sua irmãzinha? Da pra fazer um monte de coisa legal com uma menina também. Igual você brinca com a Isabel lá na escola.. Ela é sua melhor amiga, né?!

Alexandre nem sabia disso. Anotou mentalmente, achava que sabia absolutamente tudo sobre o filho mas acabava de perceber que não era bem assim.

- É, tá bem, vai ser legal se for uma menina também. A gente vai pedir pra cegonha trazer um bebê aqui, é? - Ele perguntou, sorridente.

- Não.. - Giovanna olhou para Alexandre, meio nervosa.

- Não, filho. A gente só queria te contar que a cegonha já trouxe o bebê pra gente, e agora ele tá na barriga da Giovanna. - Alexandre levou a mão até a barriguinha dela. Era mínima, mas estava ali. Mas provavelmente só ele que estava acostumado a vê-la nua conseguia perceber e achava que era notável.

- UOOOOOOU. TA AÍ MESMO? EU CONSIGO OUVIR? - Noá se apressou a colocar o ouvido próximo a barriga de Giovanna. - Não, num ouvi nada.

Giovanna riu.

- Quando a gente for no médico escutar o coraçãozinho do bebê você quer ir com a gente? - Ela convidou.

- Sim! Vai fazer tutu tutu tutu? - Ele bateu a mãozinha no peito tentando imitar o batimento.

- Vai! Bem rapidinho assim tututututu. - Alexandre fez no peito dele, rindo.

Noá ficou quieto por um instante.

- Que foi, amor? - Giovanna fez carinho no rosto dele. - Você não gostou?

- Não, eu gostei.. É que.. - Ele coçou a cabeça, nervoso.

- Diz, amor. Diz pro papai o que foi. - Alexandr levantou o rostinho dele para que olhasse para o pai.

- Hummm.. Tipo, você é meu papai. E é papai do bebê. Daí a gente samos irmãos. - Ele raciocinava com dificuldade. - Mas aí eu nasci da mamãe.. Que é outra mamãe.. Não é essa aqui. Então o bebê não é meu irmão?

Giovanna gargalhou.

- Claro que são irmãos. Vocês tem o mesmo pai, então são irmãos.

Noá ficou olhando para ela atentamente, pensativo. Mexia na rodinha do carro de sua camiseta que tinha uma textura engraçada, distraído.

- Mas.. Eu nem.. Eu nem nasci da sua barriga, né? - Ele finalmente falou, incomodado.

Giovanna passou as mãos pelo rosto dele, acariciando.

- Tu não nasceu da minha barriga, nasceu da barriga da Karen, né? A gente se encontrou anos depois. Mas sabe de uma coisa? - Giovanna perguntou, como se tivesse algo pra contar.

- O que? - Ele parecia chateado pela conversa.

Giovanna fez ele colocar a mão esquerda em seu próprio coração, e a mão direita no dela.

- Ta sentindo? - Ele se concentrou em sentir os dois corações batendo ao mesmo tempo. - Tu nasceu daqui, ó. Você é meu filho do coração. A Karen é sua mãe biológica, porque ela quem te fez, ela quem te criou.. Ela quem te amou, muito muito muito! Mas aí ela foi pra estrelinha, e a gente se conheceu, eu e você. Aí ela um dia veio falar comigo quando eu tava sonhando, ela pediu pra eu cuidar de você. E eu disse que cuidava sim! E comecei a te amar tanto quanto ela te amou. Tá bem, meu amor?

Giovanna adoraria ter o controle de suas lágrimas e se mostrar forte para ele enquanto dizia isso, mas as lágrimas escorriam por seu rosto de maneira abrupta. Aquele menino era literalmente o maior ponto fraco que ela tinha.

- Eu não quero substituir sua mamãe, eu nunca vou fazer isso. Mas se tiver um espacinho aí no seu coração pra uma segunda mamãe, eu quero ser essa. - Ela sorriu leve enquanto chorava.

- Tá bem. Não chora não. - Ele apoiou as mãos no rostinho dela, uma mão de cada lado da bochecha. - Você é minha mamãe do coração. Aí eu e meu irmãozinho vamos ter o mesmo papai e a mesma mamãe! Tá resolvido. - Ele voltou a se animar.

- Mas lembra que pode ser irmãozinhO ou irmãzinhA, hein! - Giovanna se preocupava. Não queria decepcionar o menino, e sabia que se ele enfiasse essa ideia na cabeça, seria difícil lidar quando se frustrasse.

- Como vai chamar o bebê? - Ele perguntou, com a mãozinha na barriga dela, se iludindo que iria sentir um chute a qualquer momento.

- Se for menino, vai se chamar Inã. - Alexandre contou. - Se for menina, acho que..

- Oi Inã. - Noá falou direto com a barriga. - Você tá bem aí dentro? Consegue ouvir eu? - Ele beijou a barriga de Giovanna algumas vezes. - Vo bota carros pra tu assistir! É iraaaado.

Giovanna e Alexandre trocaram olhares, com medo.

- Ah meu Deus..

Alexandre se aproximou e beijou a cabeça dela, enquanto assistiam Noá todo serelepe comemorando a novidade que eles trouxeram com tanto carinho.

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