PARA DE SER EGOÍSTA

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A noite anterior com Antônio em Miami tinha sido incrível. Depois de meses de desencontros e tensões, finalmente havíamos nos acertado. Nossa conexão estava mais forte do que nunca, e a sensação de estar nos braços dele, naquela cidade cheia de vida, era indescritível. Adormecemos juntos, exaustos e satisfeitos, em meio a risos e segredos compartilhados.

Naquela manhã, a suave luz do sol invadiu o quarto do hotel, e eu me encontrei enrolada nos lençóis, olhando para Antônio enquanto ele dormia. Era uma visão que eu temia nunca mais ter, e agora, ali estávamos, juntos.

No entanto, minha tranquilidade logo foi interrompida pelo toque insistente do celular na mesa de cabeceira. Meu coração deu um salto quando vi a chamada do Brasil e o nome do hospital que trabalha piscando na tela. Corri para atender, sentindo o aperto no peito.

— Alô? - minha voz estava trêmula.

A voz do outro lado da linha era calma, mas a notícia que trazia era avassaladora.

— Amanda, desculpe o horário. Temos uma notícia urgente sobre Henrique. Ele sofreu um grave acidente de carro e está em estado crítico. Você é o contato de emergência dele. Precisamos que você venha imediatamente.

Meu coração afundou. A noite perfeita que tivemos em Miami se transformou em um pesadelo. Eu olhei para Antônio, que estava acordando lentamente, e minha mente girou em busca de respostas. Como eu poderia estar ali, em Miami, com o homem que agora ocupava meu coração, enquanto Henrique, que sempre me tratou como amor, estava em uma situação tão terrível?

Antônio percebeu minha expressão angustiada e perguntou o que estava acontecendo. Sem conseguir segurar as lágrimas, expliquei a situação.

O H-Henrique, m-meu Deus.. ele se acidentou. Preciso ir até lá. - disse chorando enquanto saia correndo atrás da minha mala.

Como assim? O que aconteceu? - Antônio perguntou ainda atordoado de sono - AMANDA!

— Eu não sei... - tentava falar entre o choro. - Só sei que foi grave, e ele precisa de mim lá.

— Como precisa de você, Amanda? - Antônio perguntou, tentando me acalmar - Você está do outro lado do mundo, calma! Ele já está no hospital. Liga para a família dele.

— Os pais dele não são do Rio, ele não tem ninguém lá, só a mim. Não posso deixá-lo sozinho.

— Amanda, você não pode sair assim, nervosa. E nós?

— Antônio, p-por favor, eu preciso ir. Não piora a situação.

- Incrível que é só ele precisar de você e você vai correndo - disse com deboche.

Cala a boca, cara! Ele está numa cama de hospital, acabou de sofrer um acidente. Para de ser egoísta. Eu deixei ele no Brasil, deixei tudo para vir atrás de você - cuspi as palavras entre as lágrimas.

— Amandinha desculpa, me desculpa... - Antônio correu para me abraçar.

— Meu Deus, e se ele morrer, Antônio? Eu nem me despedi; eu nem falei que estava vindo. Eu sou uma pessoa horrível.

O abraço de Antônio me trouxe conforto, mesmo em meio à tormenta de emoções. Minha partida súbita para Miami havia gerado uma confusão inimaginável, e eu não conseguia evitar sentir-me culpada.

Antônio, com empatia genuína, tentou me acalmar.

Não fique se martirizando, Amanda. Você estava fazendo o que seu coração mandou. Vá ver Henrique, e nós vamos lidar com isso, juntos. Estarei aqui quando você voltar.

Ainda cheia de angústia, terminei de fazer as malas e me preparei para pegar o voo de volta ao Brasil.

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O voo de volta ao Brasil foi uma agonia constante, com meu coração pesando a cada minuto que passava. Assim que pousei, não perdi tempo e segui direto para o hospital. Meu estômago estava em nós, e meu corpo estava exausto, mas a necessidade de ver o estado de Henrique era avassaladora.

Ao chegar ao hospital, encontrei Hugo, um médico nosso amigo, que estava visivelmente aliviado por me ver.

Amanda, que bom que você está aqui. A cirurgia do Henrique foi um sucesso, mas as próximas horas são cruciais.

Meu coração apertou com as palavras de Hugo. Eu agradeci a ele com os olhos marejados e fomos juntos até a sala de espera. Minhas mãos tremiam enquanto aguardávamos notícias, esperando que Henrique saísse dessa.

Hugo, o que aconteceu? Como foi o acidente?

Estávamos juntos no bar, bebendo e falando da vida. Fui embora mais cedo e deixei ele. Na volta dele para casa, estava chovendo muito e ele acabou batendo de frente com outro veículo.

Você acha que ele estava bêbado? - perguntei, encarando Hugo.

Amanda, ele tem passado por dias difíceis - suspirou.

O que houve? - perguntei.

— Amanda, Henrique tem passado por um momento muito difícil desde que você decidiu se afastar e reatar com Antônio. Ele não esperava por isso, e a notícia o atingiu em cheio. Ele tem se esforçado para superar, mas não tem sido fácil.

Eu ouvia as palavras de Hugo, e a culpa pesava ainda mais em meu coração. Eu não tinha ideia de que minha decisão tinha causado tanta dor a Henrique.

Hugo, eu não queria que ele sofresse. Eu estava apenas tentando seguir meu coração, mas nunca quis magoar Henrique.

Hugo me olhou com compreensão, sabendo que a vida e o amor eram complicados.

Eu sei, Amanda. Às vezes, as coisas não saem como planejamos. Mas agora ele precisa de você mais do que nunca. Tenha isso em mente quando estiver com ele.

Enquanto esperávamos notícias sobre a condição de Henrique, eu me sentia dividida entre o passado e o presente, entre as promessas que fiz a Antônio e a necessidade de estar ao lado de Henrique. A vida tinha dado uma guinada surpreendente, e agora eu tinha que enfrentar as consequências de minhas escolhas.

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CORPO EM CHAMAS (DOCSHOE)Onde histórias criam vida. Descubra agora