VOCÊ SEGUIU SEU CORAÇÃO

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Amanda

Foram quinze dias de espera angustiante ao lado de Henrique, quinze dias em que o tempo parecia se arrastar como se estivesse determinado a nos testar. Nesse período, eu praticamente vivi no hospital. Saí apenas para tomar banho e trocar de roupa em casa, mas o restante do tempo era dedicado a Henrique.

Minhas conversas com Antônio haviam se tornado escassas, pois a maior parte do meu tempo era ocupada pelas visitas a Henrique e pela preocupação constante com sua recuperação. Eu me culpava profundamente por tê-lo feito sofrer e por ter causado esse acidente indiretamente.

Então, naquela manhã, após quinze longos dias de incerteza, finalmente vi os olhos de Henrique se abrirem. Eu estava ao seu lado, segurando sua mão, e as lágrimas encheram meus olhos quando o vi consciente.

— A-Amanda... - ele sussurrou, sua voz fraca, mas repleta de emoção.

— Henrique! - minha voz tremia de alívio e gratidão. - Você finalmente acordou.

Ele tentou sorrir, mas a dor era visível em seu rosto.

— Quanto tempo fiquei fora? O que aconteceu?

— Foram quinze dias, Henrique. Você sofreu um acidente e precisou de uma cirurgia de emergência. Agora, você precisa descansar e se recuperar.

O reencontro com Henrique era ao mesmo tempo um alívio e um lembrete das complicações que nossa história trazia.

— Você se lembra de alguma coisa do acidente?

Ele fechou os olhos por um momento, como se estivesse tentando reunir suas lembranças.

— É tudo um borrão. Lembro-me de estar dirigindo na chuva e, de repente, tudo ficou escuro. Lembro de pedir para o socorrista ligar pra você. Depois disso, apenas flashes desconexos. Apaguei.

Senti um aperto no coração, imaginando o que ele tinha passado durante aqueles momentos de escuridão. Tentei manter a conversa leve para não sobrecarregá-lo.

— Você está bem agora, Henrique. O mais importante é que você está acordado e melhorando.

Ele assentiu com dificuldade, e eu segurei sua mão com carinho.

— Onde você estava quando soube do acidente?

A pergunta de Henrique me pegou de surpresa, e eu me senti encurralada. Não queria esconder a verdade, mas também não queria magoá-lo mais do que já estava.

— Eu... eu estava em Miami, Henrique.

Ele franziu a testa, confuso.

— Em Miami? Mas por quê?

Eu abaixei a cabeça, sentindo-me envergonhada por ter que admitir onde eu estava e com quem.

— Eu estava com Antônio. Nós... estávamos reatando nossa relação.

O silêncio no quarto do hospital tornou-se opressivo, e eu podia sentir o peso da situação. Eu sabia que tinha que explicar mais, mas as palavras pareciam fugir de mim.

— Amanda, eu entendo que você esteja tentando fazer organizar sua vida, entender seus sentimentos. Mas achei que, pelo menos por tudo que tivemos, você teria a consideração de me avisar. Eu não esperava que você estivesse em Miami, com Antônio...

Ele parou por um momento, e havia uma mistura de tristeza e decepção em seu olhar.

— Eu sei que nunca tivemos nada sério, que nunca rotulamos nossa relação, mas descobrir que você estava com ele, sem nem mesmo me dizer... isso doeu, Amanda.

As palavras de Henrique cortaram fundo, e eu senti o peso da minha escolha e da minha falta de comunicação. Eu não tinha como retroceder no tempo, mas sabia que precisávamos conversar sobre tudo o que havia acontecido e encontrar uma maneira de lidar com as complexidades do nosso passado e do nosso presente.

— Henrique, e-eu... - tentei argumentar mais ele tinha o que muito que dizer.

— Amanda, o que Antônio tem que eu não tenho? Eu sempre dei o meu melhor por você, enquanto ele estava do outro lado do mundo com outra pessoa. Eu não entendo, eu não merecia pelo menos uma conversa franca e um aviso?

Ele estava certo em suas palavras, e eu não tinha respostas fáceis para suas perguntas. Henrique sempre esteve ao meu lado, sempre me apoiou, e eu tinha agido de forma egoísta e impulsiva.

— Henrique, eu não tenho desculpas. Eu fui egoísta e insensível, e sinto muito por tudo isso. Eu sei que as palavras não podem desfazer o que aconteceu, mas, por favor, vamos ter essa conversa depois. Você acabou de acordar, precisa descansar.

Henrique assentiu, mas havia um peso em seu olhar que mostrava que as cicatrizes emocionais eram profundas. Quando ele pegou no sono novamente, após alguns remédios para dor, eu saí silenciosamente do quarto do hospital. As palavras da nossa conversa ainda ecoavam na minha mente, e o peso das minhas atitudes pairava sobre mim.

Caminhando pelos corredores do hospital, meus olhos encontraram Larissa, que havia ficado de trazer algumas coisas para mim. Ela percebeu minha expressão cansada e angustiada e me puxou para um canto tranquilo.

— Amanda, o que está acontecendo? Você parece exausta.

Eu me afundei na cadeira e desabei em lágrimas, desabafando sobre tudo que estava acabando com a minha paz. Contei a ela sobre o acidente de Henrique, minha estadia em Miami com Antônio, a confusão dos meus sentimentos e a culpa que estava me corroendo.

— Lari simplesmente não sei o que fazer. Eu magoei o Henrique profundamente, Hugo me contou que na noite do acidente, Henrique estava bebendo com ele e falando sobre mim... e se ele tiver sofrido esse acidente por minha causa? Eu não gosto de causa dor em ninguém.

Larissa ouviu atentamente, oferecendo apoio e conselhos gentis. Ela me lembrou que a vida era cheia de escolhas difíceis e que era importante ser honesta consigo mesma sobre o que eu realmente queria.

— Amanda, para! Foi um acidente, eu nunca fui a favor de você ir atrás do Antônio. Henrique fez muito por você nesse tempo que vocês estão juntos. O sentimento que ele tem por você é genuíno. Mas, eu entendo a sua ligação com Antônio. Você seguiu seu coração e o primeiro passo é se perdoar. Você tomou decisões difíceis, mas é hora de enfrentar as consequências e tentar consertar o que pode ser consertado. Não deixe que a culpa a consuma. Concentre-se em encontrar uma maneira de seguir em frente. Você escolheu estar com Antônio e já sabíamos que isso magoaria Henrique.

Suas palavras eram como um bálsamo para minha alma ferida. Lari estava certa, e eu precisava começar a me perdoar e tomar ações para resolver as complicações que eu havia criado.

— Você está certa, Lari. Eu não posso mudar o que já aconteceu, mas posso escolher como lidar com as consequências.

— Ei calma, você fez a coisa certa voltando para cuidar de Henrique, mas e quanto a Antônio? Como está a situação entre vocês?

Eu suspirei, ciente de que a situação com Antônio também estava complicado.

— Adiada. Sai às pressas para o Brasil no momento que a gente estava acabando de se acertar.

— Calma, vai dar tudo certo. - Larissa me deu um abraço solidário, sabendo que o caminho à frente seria difícil, mas necessário para a minha própria cura. Era hora de enfrentar as verdades desconfortáveis e tentar encontrar um caminho para o perdão e a paz interior.

Seus conselhos me deram algum conforto e clareza em meio à confusão. Era hora de enfrentar as complexidades do meu coração e as consequências das minhas escolhas. E, mais importante, era hora de encontrar um caminho para lidar com tudo isso, da melhor maneira possível.

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CORPO EM CHAMAS (DOCSHOE)Where stories live. Discover now