BEM-VINDO

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Amanda

Duas semanas haviam se passado desde o acidente de Henrique, e minha vida estava focada em ficar ao lado dele no hospital. As noites insones e os dias de incerteza me pareciam intermináveis, mas eu sabia que era onde eu precisava estar.

Enquanto observava Henrique dormir, um enfermeiro se aproximou de mim com um sorriso gentil.

— Dra. Amanda, tenho boas notícias. O estado do Dr. Henrique melhorou significativamente, e a equipe médica decidiu que ele está pronto para ter alta nos próximos dias.

Meu coração se encheu de alívio. A jornada difícil de Henrique estava finalmente chegando ao fim, e ele estava se recuperando. Aquela notícia trouxe um raio de esperança a um período tão sombrio em nossas vidas.

— Isso é maravilhoso! Eu mal posso esperar para compartilhar essa notícia com ele. - disse animada.

O enfermeiro assentiu com um olhar encorajador.

— Tenho certeza de que ele ficará feliz em ouvir. É notável a quantidade de apoio que você tem dado a ele durante esse tempo. Isso fez toda a diferença.

Aquela notícia de que ele estava prestes a deixar o hospital era um sinal de esperança e recomeço. Eu mal podia esperar para compartilhar essa notícia com ele e vê-lo se recuperar completamente.

Após a conversa com o enfermeiro sobre a alta de Henrique, decidi sair do quarto do hospital por um momento para ligar para Antônio. Eu estava transbordando de alegria com a notícia, mas algo dentro de mim me fez hesitar antes de discar seu número.

Antônio atendeu a ligação, e eu não consegui conter minha empolgação ao compartilhar as boas notícias.

- Antônio, você não vai acreditar! Henrique vai ter alta em breve. Ele está se recuperando muito bem. - disse aliviada.

No entanto, a resposta de Antônio não foi tão entusiástica quanto eu esperava.

— É ótimo, Amandinha. - murmurou. - Afinal, já faz mais de um mês desde que você foi para o Brasil por conta do acidente de Henrique. Eu entendo a gravidade da situação, mas você também precisa considerar o que deixou para trás.

Eu me senti desconfortável com a reação de Antônio e perguntei o motivo.

— Antônio, o que está acontecendo? Por que você não parece animado com essa notícia?

Ele suspirou antes de responder, com uma expressão séria em sua voz.

— Amanda, eu entendo que a situação com Henrique foi complicada, mas você não pode querer abraçar o mundo inteiro. Durante esse tempo, amigos próximos me contaram que Henrique ficou mal desde que foi para Miami atrás de mim, deixando-o para trás. E que você estava se sentindo culpada por isso. Foi por isso que ficou aí ao lado dele esse tempo todo?

Minhas palavras ficaram presas na garganta, e uma sensação de culpa começou a me invadir.

— Antônio, eu... eu não tinha ideia de que Henrique estava sofrendo tanto. Eu me sinto terrivelmente culpada por tudo isso.

Ele permaneceu em silêncio por um momento antes de responder com calma.

— Amanda, você precisa parar de tentar resolver todos os problemas do mundo. Ficou claro que Henrique precisa de apoio, mas também temos nossa própria vida para lidar. Precisamos conversar seriamente sobre isso quando você voltar para Miami.

Aquelas palavras me fizeram refletir sobre minhas ações e a importância de enfrentar as consequências.

— Eu sei, sei que não poderia ter deixado você aí também. Mas, não posso voltar para Miami agora.

A conversa com Antônio estava se transformando em um confronto de emoções, e a tensão era palpável através do telefone. Ele estava claramente frustrado com a situação, e suas palavras saíram em um tom áspero.

— Não posso acreditar que você pegou férias para cuidar de Henrique e agora está me dizendo que não pode voltar para Miami para resolver nossa vida. Você parou tudo por ele.

Eu respirei fundo, tentando manter a calma.

— Antônio, eu moro no Brasil, e minha vida aqui também é importante. Eu preciso organizar minhas coisas, voltar ao trabalho, e...

Ele interrompeu com raiva.

— Você já largou tudo antes e veio correndo para Miami. Passou apenas quatro dias aqui, e bastou uma ligação sobre o acidente de Henrique para você voltar correndo para o Brasil e se prender a ele.

Suas palavras cortaram fundo, e eu me senti desesperada. Eu tinha feito escolhas difíceis, e agora estava sendo confrontada por elas. Meu coração doía diante da situação, e eu lutei para encontrar uma resposta que aliviasse a tensão entre nós.

— Antônio, eu... eu não sabia o quão grave era o estado de Henrique quando parti. Eu fiz o que meu coração mandou naquele momento. Nós precisamos encontrar uma maneira de resolver isso, mas eu não posso simplesmente largar tudo de novo.

Nossa conversa havia atingido um ponto crítico, e eu sabia que teríamos muito o que discutir quando nos encontrássemos pessoalmente. O confronto de emoções era um sinal de que havia questões profundas a serem resolvidas em nosso relacionamento.

— Por favor, vem para o Brasil. Preciso de você. — pedi, tentando aliviar a tensão.

No entanto, Antônio respondeu com raiva e desapontamento.

— Não, Amanda, não posso fazer isso agora. Estou focado na minha luta, e o nosso acordo era que você passaria um tempo comigo em Miami. Você fez o oposto de tudo que combinamos.

Suas palavras atingiram meu coração com força, e eu sabia que ele tinha razão. Eu tinha quebrado o acordo que tínhamos feito, e não havia como negar isso.

— Eu sei que fiz errado. Mas eu estava agindo com o coração e com a melhor das intenções.

Ele respirou fundo, tentando se acalmar.

— Amanda, eu entendo a sua preocupação por Henrique, mas você já reparou que sempre que está próxima dele, você se distancia de mim?

Nossa conversa terminou com um senso de desentendimento e distância entre nós. As palavras de Antônio tinham deixado claro que nossas ações haviam afetado nosso relacionamento, e não havia solução fácil à vista. Eu sabia que teríamos que enfrentar nossos problemas pessoalmente, e isso significaria confrontar nossas escolhas e a gravidade da situação.

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No dia da alta Henrique estava animado para retornar à sua vida, mas ainda precisava de assistência em casa durante os primeiros dias. Com um sorriso no rosto, ele olhou para mim e disse:

— Amanda, eu não sei como agradecer por tudo o que você fez por mim durante esse tempo. Minha recuperação deve muito a você.

Eu assenti, com os olhos marejados de emoção, sabendo que estava fazendo a diferença na vida de Henrique.

— Você não precisa agradecer, Henrique. Estou feliz por estar aqui para apoiá-lo.

Ele então hesitou por um momento, e sua expressão ficou mais séria.

— Sabe, eu estava pensando... Como ainda preciso de ajuda em casa, não tenho minha família aqui. E eu estava pensando... Será que eu poderia ficar na sua casa por um tempo? Eu não queria pedir, mas seria uma grande ajuda.

Fiquei surpresa com a proposta, mas compreendi a situação de Henrique. Minha casa era mais adequada para sua recuperação do que a dele, e eu também sentia que devia algo a ele.

— Claro. Você é mais que bem-vindo na minha casa.

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CORPO EM CHAMAS (DOCSHOE)Where stories live. Discover now