Capítulo Um. - O convite.

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Quase suspirei de alívio quando finalizei a organização dos esboços da nova coleção. Os preparativos para o próximo desfile estão me deixando à beira da loucura. Meu queridíssimo Chef não está movendo um dedo sequer para ajudar na organização; simplesmente jogou tudo nas minhas costas.

— Senhorita Menezes, sua irmã está aqui. — Letícia, minha secretária, falou por detrás da porta.

— Mande-a entrar. 

Não demorou mais do que vinte segundos até a porta ser aberta. Evelyn estava com um sorriso enorme no rosto.

Fiz um gesto para que ela se sentasse.

— Que surpresa boa!

— Queria te entregar algo pessoalmente.

Ela tirou um envelope da bolsa e o colocou sobre a mesa.

— Vou me casar.

— Eu sei, vi no seu Instagram, até comentei com alguns coraçõeszinhos. — Falei enquanto enviava alguns arquivos por email.

Evelyn revirou os olhos.

— Você é tão chata!

— Por quê?

— Não consegue nem fingir que está feliz por mim!

— Não me leve a mal, eu adoro o Ítalo! Só que quando nos casamos com alguém, também nos casamos com a família dessa pessoa.

— Eu sei, mas eu o amo.

— Não é só o amor que sustenta uma relação.

— Não queira comparar as suas experiências com as minhas. Eu e Ítalo estamos juntos há mais de seis anos; se fosse para dar errado, já teria dado.

— Eu entendo, mas...

— Não tem "mas", Eloise. Apenas fique feliz por mim.

Suspirei derrotada.

— Tudo bem, não vou dizer mais nada.

Ela empurrou o convite até que ele encostasse em meu braço.

— Quero que você seja a minha madrinha.

Abri o envelope.

— E quem vai ser o padrinho?

— O Nicolas.

Parei de ler o convite na hora.

— É uma piada?

— Não.

— Você sabe que nós nos odiamos, não é?

— Ódio é uma palavra muito forte.

— Não, não é. É exatamente o que eu sinto por ele.

— Vocês mal se veem.

— E em todas as vezes ele é um completo babaca.

— E você o trata mal.

— Você está do lado dele? — arqueei a sobrancelha.

— Deixa de bobeira.

— Por que não pede para a Cátia ser a sua madrinha?

— Porque você é a minha irmã.

— E ela é a irmã do Ítalo.

— O Nicolas já  vai ser o padrinho, nada mais justo do que você ser a madrinha.

Voltei a ler o convite, e paralisei quando vi o local onde acontecerá a cerimônia.

— Vocês vão se casar em Paris?!

— Um sonho, não é?

— Como vocês vão pagar por isso?

— Os pais dele se ofereceram e...

— Evelyn, eu não acredito! Como você aceita um negócio desses? Aqueles cretinos espalham por aí que você é uma interesseira. O que acha que eles vão dizer agora?!

— Eu não aceitei de primeira, mas eles insistiram tanto que não pude negar. É o primeiro filho de Antônia a se casar, ela quer que seja algo incrível.

— Claro que quer — ironizei.

— Apenas fique feliz por mim, está bem?

— Se é o que você realmente quer, o que mais posso fazer...?

— Aceite ser a minha madrinha, por favor.

— Não sei se tenho condições financeiras de ir à Paris agora.

— A família de Ítalo vai bancar tudo, inclusive a sua passagem.

Neguei com a cabeça.

— Não aceito.

— Por favor, Eloise, eu nunca te peço nada.

— Não se preocupe, vou dar um jeito de pagar a passagem. Eu vou, te prometo.

— Você é igualzinha ao papai.

Apenas resolvi ignorar o seu comentário, porque pra mim, aquilo não era um insulto, de jeito nenhum. O meu pai é uma pessoa admirável, parecer com ele é uma meta de vida.

— A cerimônia já vai ser daqui a um mês? — Li cada linha detalhadamente.

— Estamos planejando isso há um tempo.

A olhei.

— Qual é, Eloise, não é como se você fosse querer participar de cada detalhe.

— Ao menos me conte o que planejaram.

Ela me contou todos os detalhes de como será a cerimônia, e de quanto tempo nós vamos ficar lá. Evelyn está tão empolgada que parece que acabou de ganhar um prêmio Nobel.

— A mamãe pediu pra você ir jantar lá  em casa, faz tempo que não vai lá. — Se levantou da cadeira.

— Ando muito ocupada.

— Tenta aparecer, ela sente a sua falta.

— Vou tentar.

— Espero que consiga.

Evelyn sorriu e fechou a porta ao sair do local, e eu voltei a trabalhar.

Desde que sai de casa o meu foco foi/é cem por cento no trabalho. Não é que eu seja uma obcecada pelo meu emprego, ou algo do tipo, é só que... não tenho mais nada na vida que me dê prazer além de trabalhar. Não tenho motivações para ter uma vida social, então, tudo o que me resta é ficar sentada atrás de uma mesa, criando esboços de roupas maravilhosas. Isso sim é prazeroso. 





Me odeie, mas me ame.Where stories live. Discover now