Capítulo Catorze. - Lágrimas do passado.

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Eram sete horas da manhã quando cheguei na empresa. Estou esperando por Sergio, preciso trocar umas palavrinhas com ele. Esse embuste anda me causando muitos problemas ultimamente, e preciso colocar tudo em seu devido lugar.

— Senhorita Menezes, o senhor Soares chegou. — Letícia adentrou em minha sala.

— Ótimo, já estou indo na sala dele.

Me levantei, ajeitei meu blazer no corpo, e caminhei até o corredor da sala de Sergio. Ele liberou a minha entrada na terceira batida que dei na porta.

— A que devo o prazer? — Disse com um sorriso cínico nos lábios.

Ainda me pergunto como um dia já fui perdidamente apaixonada por ele. Me pergunto como permiti que ele me cegasse, como permiti que ele me traísse. A cada vez em que olho no seu rosto tenho certeza que jamais irei perdoa-lo por tudo que fez. Jamais irei o perdoar por me partir em pedaços.

— Você anda fazendo muitas besteiras, não acha?

— Só porquê esqueci dos seus tecidos? Desencana, Eloise, você não é o centro do meu mundo!

— Eu nunca achei isso, Sergio, você nunca me deu motivos para pensar em algo do tipo.

— Se já resolveu o problema dos tecidos, não vejo motivos para estar aqui, me importunando.

— Estou aqui pra mandar você parar de querer me sabotar, não irei deixar barato da próxima vez!

— Claro, claro... — Disse sem dar o mínimo para o que acabei de falar.

— Por que demitiu a Ivete Costa?

— A grávida? Ela não seria atrativa aos olhos com uma barriga enorme.

— Você é um babaca!

— Me agradeça depois.

— Esse nem é o seu cargo, você não podia demiti-la!

— Nessa pequena empresa todos nós temos mais de um cargo, sabe disso.

— Mas você não tinha esse direito!

— Se gosta tanto de grávidas, deveria se candidatar para ser design de roupas para recém-nascidos.

— Vai à merda! Nem sei porquê ainda acho que adianta alguma coisa vir aqui falar com você.

— Creio que ainda não me superou, minha cara. Mas sabe... pode me ligar sempre que quiser esquentar a cama. 

— Tenho nojo de você!

— Mas não tinha à um ano atrás.


O olhei incrédula, e sai de lá batendo a porta com força. Fui direto para a minha sala, contendo a vontade de gritar. Como ele ainda consegue mexer tanto com a minha cabeça?

Não sei como perdi três anos da minha vida com esse cara!

Estava no fim dos meus vinte e dois anos quando nos conhecemos no acolhimento aos estagiários, ele tinha sido gentil e educado a noite inteira, e aquilo chamou a minha atenção. Não era todos os dias em que achávamos um cara bonito e educado. Me apaixonei logo na primeira semana. Os seus cabelos caídos na altura dos ombros me enlouqueciam. Estava tão perdidamente apaixonada que nunca tinha percebi do o seu verdadeiro caráter. Então começamos a namorar, na época eu não podia estar mais feliz. Tão feliz que nem percebi os indícios de um relacionamento tóxico.

Eu tinha me entregue por completo aquela relação, por isso foi tão devastados quando descobri a traição.

Naquele dia cheguei um pouco atrasada na empresa, Sergio havia me atrasado com os seus beijos, e todos me olhavam com pena e cochichavam entre si. Perguntei a Soares se tinha acontecido alguma coisa, e ele apenas negou com a cabeça. Quando cheguei na minha sala, decidi olhar no grupo da empresa, para ver se algo havia acontecido. Um dos funcionários tinha mandado um PDF, e dizia: Olha o anexo que me mandaram por email. Eram um monte fotos de Brenda e Sergio em um motel. O meu celular caiu no chão e as minhas mãos ficaram tremulas. Eu não esperava que um dia ele fosse me trair, não esperava.

Todos presenciaram quando fui, chorando, até a sala de Sergio para terminar o nosso relacionamento. Brenda passou rindo de mim quando tudo acabou, e por pouco não avancei em seu pescoço. 

Passei uma semana sem conseguir sair de casa, não podia encarar as pessoas depois de ser humilhada publicamente. Fiquei sabendo que o garoto que recebeu o email tinha sido demitido da empresa por ter enviado um conteúdo inapropriado no grupo do trabalho, mas eu tinha certeza que Brenda tinha enviado aquele anexo. Eu tinha certeza.


— Senhorita Menezes, temos que falar sobre o... A senhora está bem? — Letícia parecia assustado.

— Só estava me lembrando de um filme triste que assisti. — Limpei as lágrimas que caíram.

— Você é uma péssima mentirosa!

— Funciona com os meus pais. — Tentei sorrir.

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora