Capítulo Dezenove. - Agora que sabe.

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Agradeci aos seus por essa ser uma manhã de sábado. Não estou preparada para encarar a empresa depois de sair carregada de lá. Brenda com certeza deve estar espalhando que desmaiei por nervosismo, que desmaiei porque sei que vou perder pra ela. É melhor ela pensar isso do que saber da verdade.

Ontem, a primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi mandar uma mensagem para Letícia, pedindo para que guardasse segredo sobre o que tinha descoberto. Em troca, disse que a contaria tudo. Ela parece ser uma pessoa confiável.

Já devia ter começado a trabalhar na minha coleção, mas Evelyn insiste que devo contar o quanto antes à ele. Não sei se vou conseguir dizer, é tão difícil.

O meu celular começou a vibrar com a notificação da mensagens de Evelyn, dizendo que já está na frente do meu prédio apenas me esperando. Peguei a minha bolsa e sai da minha moradia, chamando o elevador.

— Achei que teria que ir te pegar a força — minha irmã falou em um tom brincalhão. Obviamente o seu humor está melhor do que estava ontem, totalmente diferente de mim. — Nervosa? — Falou enquanto me observava colocar o cinto.

— Só dirige.

Encostei a cabeça no vidro do carro e observei as paisagens, enquanto um turbilhão de pensamentos dominava a minha mente.

Não contei, e nem pretendo contar, à Evelyn sobre os problemas do meu trabalho. Não quero perturbar ainda mais a sua cabeça, já dei problemas de mais a ela.

— Como vai a vida de casada? — Perguntei, tentando desvencilhar-me de meus pensamentos.

Ela não fez questão de esconder o sorriso bob que tinha nos lábios.

— Ítalo faz tudo parecer perfeito. Tudo é perfeito porque tenho ele ao meu lado.

— Uma boba apaixonada, essa é você!

— Se isso é ser boba, sou a boba mais feliz do mundo. É muito bom se sentir amada, Lise.

— Deve ser.

Acho que ninguém nunca me amou de verdade no sentido amoroso. Sergio foi o meu primeiro namorado, só tive alguns casos curtos antes dele, e a única pessoa a amar era eu.

— Quando começou a ver Nicolas com outros olhos?

— Sempre o olhei com estes olhos, são os únicos que tenho — apontei para os meus olhos. 

— Você me entendeu.

— A primeira vez foi no seu aniversário de três anos de namoro, não foi nada demais, enchemos a cara e acabamos em uma praia.

— Nossa, e eu achando que era algo recente.

— Bom, tecnicamente é, já que só voltamos a fazer isso em Paris.

— Deixe-me adivinhar, no dia em que brigamos?

— Exatamente.

— Sabia que não tinha ficado com um cara qualquer, teria me contado se fosse.

Encarei o trânsito de São Paulo, sem saber como responder àquele comentário.

— Fico feliz que não foi apenas eu a comemorar a minha lua de mel — disse em um tom zombeteiro.

— Evelyn!

— Desculpa, só estou tentando descontrair o clima.

— Porque não é você quem está grávida de um idiota! Não é você quem vai ter que mudar todo o seu projeto de vida.

Aquilo saiu mais grosseiro do que eu esperava, mas o que posso fazer? Estou completamente desesperada! Ainda tenho esperanças de que isso seja um pesadelo louco.

É claro que Nicolas tinha que morar no bairro mais caro de São Paulo, Jardim Europa fica longe de onde moro, demoramos quase duas horas pra chegar aqui por conta daquele maldito trânsito.

O enorme prédio parecia que iria me engolir. Comecei a ficar com falta de ar no momento que lembrei o que tinha que fazer. Minhas mãos ficaram tremulas, simplesmente não tenho coragem. Não tenho.

Evelyn tentava me encorajar com o olhar, mas aquilo não estava adiantando de nada. Como se não já bastasse estar grávida, estou grávida de Nicolas Machado. Isso é terrível.

— Uma hora você vai ter que descer.

— Sei disso.

— O quanto antes fizer, mais rápido vai arrumar uma solução.

Respirei fundo, contei de um até cem, desci do carro e atravessei aquela rua. Parei de frente do prédio e o porteiro pediu para que eu me identificasse e, no impulso, usei o nome da minha irmã para entrar naquele lugar. O senhorzinho me informou que o apartamento de Nicolas fica no vigésimo andar.

Tentei ficar mais calma quando entrei no elevador, mas a cada andar que ele subia o meu coração acelerava mais e mais.

Isso não pode ser real.

Não pode ser real.

Mas é real.

O elevador parou no andar, sai daquela enorme caixa de metal e parei de frente ao apartamento de Nicolas. A minha mão sempre parava no ar quando eu ia tocar a campainha. Fechei meus olhos e finalmente consegui tocar. Ele murmurou um "Já vai" e não demorou nem um minuto até que ele abrisse a porta.

— Oi Eve...Eloise? O que faz aqui?

— Posso entrar?

— Claro...

Entrei no imóvel, tentando controlar a minha tremedeira interna. Acho que nunca estive tão nervosa em toda a minha vida. Os meus olhos se encheram de lágrimas, mas as contive antes que caíssem no meu rosto.

— Já estava estranhando a sua irmã vir aqui, mas você...isso é totalmente surpreendente! Como sabe aonde moro? — Ele falava feito um tagarela.

Precisava que ele calasse a boca. Precisava fazer o que era preciso de uma vez, por isso falei de uma vez por todas.

— Estou grávida, e o bebê é seu. Antes que diga qualquer coisa, eu não fazia sexo a mais de um ano, então não tem como ser de outra pessoa. Não foi a minha intenção engravidar, te juro. Eu nunca quis ter filhos!

Ele estava paralisado, nenhuma parte do seu corpo se mexia, nem mesmo o movimento da respiração, ele parecia uma estátua.

— Não sou nenhuma interesseira, Nicolas. Não precisa se sentir obrigado a assumir essa criança. Existem várias mães solteiras pelo mundo, posso ser uma delas. Se quiser, não conto a ninguém que esse bebê é seu. Eu só precisava que você soubesse. — Ele não se mexia, parecia uma estatua. — Bom, mas agora que sabe, preciso ir embora.

Caminhei para fora do apartamento o mais rápido que pude. Nicolas continuou parado, paralisado. Ele estava em estado de choque. Quando as portas do elevador se fecharam, comecei a chorar freneticamente.

— E aí, o que ele disse? — Evelyn perguntou assim que entrei no carro.

— Nada.



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