Capítulo Dois. - Pegue o avião.

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Empurrei as malas para dentro do elevador, e graças a Deus não tinha ninguém. Não demorou muito até que ele parasse no meu andar. Todas as pessoas do meu setor me olharam como se eu fosse louca. Eu não podia julgá-los, afinal, quem leva duas malas de viagem para o trabalho?

— Decidiu se mudar de uma vez pra cá? — Brenda me olhou de cima a baixo com um sorriso debochado nos lábios.

Vagabunda.

Eu odeio rivalidade feminina, mas manter uma relação amigável com essa cobra é uma tarefa impossível. Mesmo tendo o mesmo cargo que eu, ela adora insinuar que é superior a mim. Como se já não bastasse os estragos que causou na minha vida.

— A minha vida pessoal não é do seu interesse. Agora me dê licença.

— Tão mal educada...

— Aprendi com a melhor. — Sorri debochada.

— Senhorita Menezes, deixe-me ajuda-la. — Letícia veio até mim, pegando uma das minhas malas.

— Passar bem, queridinha. — Acenei antes de sair.

Minha rival apenas ignorou o meu gesto e voltou para sua sala, de onde nunca devia ter saído.

— Por que trouxe essas malas pra cá? — Letícia perguntou assim que chegamos em minha sala.

— Depois do expediente vou à Paris.

— Que chique!

— Semana que vem é o casamento da minha irmã, e ela me obrigou a ir antes. Sou a madrinha.

— Continua sendo chique.

— Chique vai ser a fatura do meu cartão de crédito — ironizei.

— Ao menos vai à Paris.

— Tem razão.

Sempre imaginei que a minha primeira vez em Paris seria pra participar da semana de moda, mas olha pra mim, estou indo em outra ocasião.

— O senhor Soares perguntou se já podem começar a fabricar as peças de roupa.

— Ele é um idiota?! Já era pra ter começado há muito tempo!

— Bom... idiota nós sabemos que ele é.

— Como ele não mandou iniciar a produção? Esse é praticamente o único trabalho que ele tem!

— Ele deve ter perdido alguns neurônios enquanto se pegava com a Brenda. — Letícia tapou a boca assim que terminou a frase. — Me desculpe, senhora.

— Não tem problema, já passei dessa fase.

— Vou voltar para o meu posto.

— Tudo bem. Me mande todos os relatórios por email.

— Sim, senhora.

Sentei-me, liguei o computador e comecei a trabalhar. Não há nada na minha vida que eu faça melhor do que isso.

Tudo estava uma loucura por conta do atraso de Sergio. Aquele infeliz é mesmo um irresponsável. Era pra no mínimo as roupas das modelos estarem prontas. O desfile é daqui a um mês, e tudo tem que estar pronto duas semanas antes do prazo.

Sei que é falta de profissionalismo da minha parte viajar em uma época dessas, mas eu não podia perder o casamento da minha única irmã. E além do mais, já fiz tudo o que tinha pra fazer, e eu nem me lembro da última vez em que tirei férias.

E se algo ficar pendente, resolverei quando voltar. Em modéstia parte, sou uma excelente profissional.

Perto do fim do expediente, Evelyn me mandou uma mensagem dizendo, "Pegue o avião, você prometeu!"

Digitei um "ok".

Resolvi sair um pouco antes, afinal, o transito de São Paulo é péssimo, e eu não quero me atrasar. Odeio atrasos.

Desliguei o computador, peguei as minhas duas malas e saí da sala. Por um milagre os corredores não estavam movimentados, o que facilitou a minha vida.

Quando cheguei no térreo fui até a recepção. Ainda não tenho um automóvel, o que me torna dependente de carros por aplicativo. O motorista disse que chegaria a dez minutos.

Me sentei em uma das cadeiras e fiquei mexendo no celular, para passar o tempo, até que um barulho de choro chamou a minha atenção. A mulher de cabelos cacheados estava chorando desesperadamente, por isso não demorei muito até decidir ir lá, falar com ela.

— Ei, o que aconteceu?

— E-eu perdi.

— Perdeu o que?

— A minha vaga de modelo — soluçou.

— Quem te demitiu?

— O senhor Soares.

— Por que ele fez isso?

— Porque ele descobriu que estou grávida. Ele disse que não vou ter mais corpo para ser modelo, que não vou ser mais o que eles procuram.

— Mas que babaca!

— Ser modelo era a minha vida.

— Não se preocupe, tudo vai dar certo!

Meu celular apitou com a notificação dizendo que o motorista já havia chegue.

Pedi para a moça da recepção ajudar a mulher, ela não podia ficar sozinha naquele estado, ainda mais estando grávida. Antes de sair me virei pra ela e perguntei:

— Qual é o seu nome?

— Ivete Costa.

Assenti, e segui meu caminho. Quando eu voltar, Sergio vai levar um sermão pelo modo de como ele trata as nossas modelos. Quem ele pensa que é pra demitir uma pessoa desse jeito!? Ainda mais por um motivo besta. Ah, mas ele vai se ver comigo. E como vai.

                                  ♧

Depois de onze longas horas de voo, finalmente pisei no solo parisiense. Não pensei que até a energia mudaria, e isto não é uma coisa ruim, pelo contrário.

Evelyn me aguardava no portão de desembarque, e assim que me viu começou a pular que nem uma criança. Desse jeito nem parece que ela é a irmã mais velha.

— Finalmente você chegou! — Correu para me abraçar.

— Eu não podia acelerar o avião.

— Chata, como sempre.

— Seja bem-vinda à Paris, cunhadinha. — Ítalo também me deu um abraço.

— Obrigada.

— E aí, rabugenta.

Me virei para ver quem era o dono da voz, e não era nada mais, nada menos do que Nicolas Machado. O ridículo.

— Não me faça dizer quem é o rabugento!

— Bom dia pra você também! — Foi irônico.

— Acho melhor irmos para o hotel, tenho certeza que o seu mau humor é fome. — Evelyn segurou meu braço e saiu me puxando. — Tente ser legal com ele, está bem? — Sussurrou.

— Você viu como ele me cumprimentou? — Sussurrei de volta.

— Esse é o jeito dele.

— De idiota, só se for.

— Eloise, agora ele vai ser oficialmente da minha família, então, por favor, vamos manter a paz.

— Vou fazer isso por você.

— Obrigada.


Me odeie, mas me ame.Where stories live. Discover now