Capítulo Trinta e quatro - O casaco.

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O barulho do alarme do meu celular me trouxe de volta a realidade. Resmunguei por ter que sair daquela cama maravilhosa.  Demorei um pouco para raciocinar que não estava em casa, e a culpa foi cem por cento daquela cama  que apurou ainda mais a minha preguiça. Acho que aquele colchão era um pedaço do céu.

Resmunguei baixinho enquanto me levantava, indo em direção ao banheiro. Só comecei a me acordar de verdade quando me sentei na privada para fazer xixi. Aquele dia estava com cara de sábado, mas ainda estava longe de ser final de semana. Peguei a escova de dentes que havia usado na noite passada, colocando o creme dental em cima. Até os simples produtos odontológicos eram dos mais caros. Nicolas realmente gostava de ostentar. Cuspi a pasta fora quando acabei de escovar os dentes, lavei o rosto e arrumei o cabelo em um rabo de cavalo.

Saí do banheiro, pegando o meu celular e indo em direção à sala. Nicolas teria que me levar para casa o quanto antes, já que eu ainda teria que me arrumar para ir trabalhar. Eu não poderia chegar atrasada, de modo algum.

Machado estava na cozinha, fritando alguns ovos. Ele ainda estava do mesmo jeito que estava ontem, apenas com uma calça moletom. Imaginei que ele já estaria arrumado, já que aquele dia era como qualquer outro.

— Bom dia. — Falei ao me aproximar.

— Bom dia, estou preparando algo para comermos.

— Não precisava, eu podia comer em casa.

— Está preocupada com horário, não é?

— Bingo!

— Não se preocupe, posso te levar direto daqui.

— Mas eu não tenho roupa, Nicolas! E nem chegue a cogitar que eu repita a de ontem, isto está fora de cogitação!

— Eu não ia cogitar.

Sentei-me no balcão com as pernas fechadas, o famoso "sentar como moça", para não revelar coisas demais. Nicolas ficava estranhamente atraente com o aspecto "dono de casa", aquilo o deixava mais sério, mais gentil, mais sexy... não sei ao certo explicar, mas, de alguma forma, aquilo atiçava o meu corpo.

— Então, como vamos fazer? — Perguntei.

— Você acha que pode se virar com as roupas do meu closet?

— Roupas masculinas?

— São as únicas que tenho.

— Tudo bem, posso dar uma olhada.

Ele acabou o que estava fazendo, colocando a frigideira em cima da mesa que ficava naquela cozinha. O observei organizar as coisas, me sentindo uma das mulheres mais feministas do mundo por não estar fazendo nada enquanto um homem me servia. E quem diria que Nicolas Machado seria este homem...? Absolutamente ninguém! Isso pareceu ser tão irreal, toda a nossa situação parecia, na verdade.

Dei um pulo para descer do balcão e acabei me desequilibrando. Por sorte, Nicolas conseguiu me segurar a tempo. Naquele momento me senti como uma criança que tinha acabado de traquinar. Eu realmente havia me tornado uma pessoa azarada, não era possível! Me afastei dele, envergonhada, indo me sentar à mesa.

— Você tem que ser mais cuidadosa, Eloise, tem outra vida dentro de você. — Sentou-se do outro lado.

— Eu só me desequilibrei, não foi nada demais!

— Mas não é só disso que estou falando... você não pode ficar sem comer!

— Ontem foi um lance emocional, um misto de acontecimentos.

— Me perdoa pelo o que a minha mãe fez — colocou a mão sobre a minha —, eu não imaginava que ela fosse ser tão cruel a este ponto.

— Tudo bem, a culpa não é sua. Eu que não tomei aquela maldita pílula.

Me odeie, mas me ame.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora