Capítulo Vinte. - A proposta.

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O dia amanheceu chuvoso, o que me permite ficar o tempo inteiro de pijama. Cedi à minha vontade avassaladora e tomei um chocolate quente. Permiti-me assistir a um filme; não estou com cabeça para trabalhar, muito menos para começar uma nova coleção.

Evelyn se ofereceu para vir passar um tempo comigo, mas respondi que ficaria bem e que ela poderia ir para casa. Não quero atrapalhar a rotina da minha irmã, especialmente quando ela está se acostumando com sua nova vida.

O filme estava quase no fim quando escutei o interfone tocar. Andei lentamente até a cozinha; estou com tanta preguiça que não consigo ser mais rápida do que isso. Peguei o aparelho e levei-o até o meu ouvido.

— Senhorita Menezes, um senhor subiu apressado para o seu apartamento; não tive tempo de detê-lo. — O porteiro estava assustado.

— Mas quem é esse homem?

— Eloise, preciso falar com você! — A voz dele, junto com batidas na porta, ecoaram por todo o apartamento. Coloquei o aparelho de volta no lugar, sem me importar se estava desligando na cara do porteiro. Respirei fundo e fui abrir a porta. Nicolas está com algumas mechas de cabelo molhadas por conta da chuva; deve ter se molhado ao atravessar a rua. — Não consegui dormir a noite inteira; preciso que me escute.

— Entra.

Era estranha a visão de Nicolas Machado em minha sala de estar, e o motivo dele estar ali era mais estranho ainda.

— Ontem você foi embora sem me deixar falar.

— Você ficou paralisado; achei que seria melhor te deixar sozinho.

— Fiquei chocado, não esperava por isso.

— Nem eu.

— Ontem você também fez um monte de suposições loucas. Não sei o que pensa de mim, Eloise, mas eu nunca rejeitaria um filho!

Cruzei os braços e ergui meu olhar para a parede atrás de seus ombros. Não tenho coragem de olhá-lo, não nessa situação.

— Essa notícia me pegou desprevenido de fato, mas não deixarei que passe por isso sozinha, de jeito nenhum!

— Não precisa ter pena de mim.

— Tem uma parte de mim dentro de você, Eloise, não estou falando isso por pena, acredite.

— E então, o que vamos fazer? — Naquele momento, tive coragem de olhar em seus olhos, olhos que pareciam tão intensos e preocupados.

— Minha família zela pelas aparências; pregamos a imagem de uma família perfeita. Essa é a marca da nossa empresa. Meus pais nos criaram para não mancharmos o nome da família, e isso seria a gota d'água para eles, Eloise... Por isso... Por isso acho melhor que nos casemos.

— O quê?

— Case-se comigo, Eloise. Posso te dar uma vida de rainha, e essa criança terá uma vida perfeita.

— Não acredito que está falando uma coisa dessas!

— Como?

— Estamos em pleno século vinte e um, Nicolas, e uma mulher não precisa mais se casar por estar grávida!

— Por que é tão teimosa? Não vê que é melhor para nós dois?!

— Melhor para nós dois?! — Bradei. — Melhor para você, né?

— Acha que quero me casar com você? — Riu sem humor. — Estou fazendo isso pela criança!

— Está fazendo isso pelo nome da sua família, isso sim!

— Você é inacreditável! — Andou de um lado a outro da sala, visivelmente perturbado.

— Eu que sou? — Soltei o ar pela boca. — Posso não ser uma pessoa sentimental, Nicolas, mas eu nunca vou me casar por negócios, e além disso, eu nunca me casaria com você!

Ele parou, me olhando incrédulo.

— Não diga bobagens. — Sua voz saiu fraca.

— Vai embora, Nicolas. Vou fingir que não disse nada disso. Você está com a cabeça cheia e não está pensando direito. — Abri a porta, dando passagem para que ele saísse. — Vai embora!

Ele suspirou, completamente indignado. Antes de sair de vez, Nicolas parou e me olhou nos olhos; desviei o olhar e ele foi embora. Bati a porta com força e me joguei no chão, caindo em prantos. Isso é um pesadelo, só pode ser um pesadelo.

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora