Capítulo Vinte e Quatro. - Não posso fugir dessa vez.

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Nossos corpos estavam nus, deitados na minha cama, abraçados. Isso não aconteceu da primeira vez, nunca estivemos tão próximos assim. A mão dele passeava pelo o meu cabelo, enquanto a minha traçava um caminho imaginário pelo seu abdômen. O que estávamos fazendo de nossas vidas?

— Você está com medo? — perguntei.

— Medo de que?

— De não ser bom o bastante. Nunca me imaginei sendo mãe; é assustador. Tenho medo de não ser boa o suficiente.

Aquela foi a primeira vez em que me abri de verdade sobre o assunto. Foi bom botar pra fora, estava com aquilo entalado na garganta.

— Também tenho medo. Não sei como ser um bom pai, nunca tive o exemplo de um, mas estou tentando dar o meu melhor.

Saí daquele abraço, me debruçando em cima do seu peitoral, olhando no fundo dos seus olhos.

— O seu pai não foi bom pra você?

— Nem tudo é como parece ser, queridinha. — Acariciou o meu rosto.

— Eu sinto muito.

— Não sinta. Sabe... acho que essa foi a primeira vez em que ficamos juntos sem ser pelo efeito do álcool.

— Tem razão, acho que estou pirando de vez!

Ele riu, o que era raro. Machado sempre manteve um sorriso cínico nos lábios, mas ele nunca ria com sinceridade, era raro de acontecer. Acho que gosto do riso dele. 

— Pelo menos, dessa vez você não vai fugir. — Havia um certo humor na sua voz.

— Nem se eu quisesse. — Ri ao lembrar da minha situação. Nunca mais vou conseguir fugir de Nicolas, estamos ligados agora.

O telefone dele começou a tocar. Machado se esticou, pegando o aparelho no chão. Ele resmungou algumas coisas com a pessoa do outro lado da linha. Ri com a sua irritação. Esse homem se irrita com tudo.

— Tenho que voltar pro trabalho, apareceu um problema que só eu posso resolver.

— Parece que alguém perdeu o seu dia de folga. — O provoquei. 

— Pois é, mas acho que ainda tenho tempo para um banho. — falou em um tom malicioso.

— O banheiro é logo ali! — Apontei para a porta a nossa frente.

— Estou te convidando, Eloise. Não acha uma boa ideia economizar água? — Não pude deixar de rir de seu comentário tosco. Ele não queria economizar água, queria algo a mais do que isso.

Não rejeitei o convite, afinal, não faríamos nada novo, só não estaríamos em cima de uma cama. O pior que podia acontecer já aconteceu; estou grávida. E acho que não há nada de errado em curtir o momento. Evelyn tinha razão, precisava de algo casual.

Passamos cerca de dez minutos debaixo do chuveiro, Machado não podia demorar muito, os compromissos da empresa o esperavam. Ele soltou as suas típicas piadinhas enquanto nos vestíamos, e tudo o que eu fazia era revirar os olhos. Às vezes Nicolas parece um adolescente entrando na puberdade

— Parece que quem vai fugir dessa vez sou eu. — falou em um tom zombeteiro, enquanto ajeitava o blazer no corpo.

— Esse lance de fugir ficou mesmo na sua cabeça, não foi?

— Conhece o meu senso de humor.

— Infelizmente — tentei soar engraçada, mas esse não é o meu forte.

— Bom... preciso ir. Nos falamos por telefone?

— Sim, precisamos planejar os próximos passos.

Ele aproximou o seu rosto do meu, na tentativa de juntar os nossos lábios; virei o rosto rapidamente, desviando o seu beijo para a minha bochecha. Não temos intimidade o suficiente para beijos de despedidas. Não somos um casal, nunca seremos um. Nicolas me lançou um olhar desconcertado, provavelmente sem entender meu gesto. Não fiz questão de explicar, ele não entenderia o que beijos de despedida significavam pra mim. Simplesmente não entenderia.

— Tchau. — falei ao abrir a porta, dando passagem para que o mesmo passasse.

— Nicolas? — A voz aguda da minha irmã ecoou por todo o apartamento.

O que ela faz aqui?

— Oi, Evelyn. — Nicolas tentou usar seu tom mais casual.

Ele passou por nós duas, indo em direção ao elevador, sem falar mais nada. Minha irmã entrou na sala com o cenho franzido. Suspirei ao fechar a porta. Com certeza ela vai me pedir explicações. O que vou dizer? Que propus coisas indecentes ao pai do meu bebê?

— O que aconteceu aqui?

— Ele me levou para fazer a ultrassom.

— E isso incluiu um vale banho juntos? — Ela segurou um risinho em cada palavra.

— Como você...

— Os dois estão com os cabelos molhados. Eu não sou boba, Lise!

— Tá, você está certa, aconteceu, mas não significou nada!

— O que significaria? Que vocês estão tentando colocar outro bebê ai dentro? — Apontou para a minha barriga.

— Você é ridícula!

— Calma aí, só estava brincando! — Disse entre risos. — Não vou te julgar, relaxa.

— O que veio fazer aqui?

— Vim saber da ultrassom.

Peguei a pasta que havia deixado em cima do balcão da cozinha estilo americana e a entreguei. Evelyn pareceu encantada ao ver as imagens do pequeno embrião. Queria que ela também pudesse ouvir o pequeno coração que bate em meu ventre. Tenho certeza que a emocionaria.

— Você realmente está grávida, irmãzinha. — As lágrimas reluziam em seus olhos.

— Quem diria, não é?

— Pra ser sincera, nunca pensei que seria a primeira de nós a ser tia.

— E eu nunca imaginei que um dia seria... mãe. — Estranhei cada palavra que saíra da minha boca.

Eloise Menezes será mãe.

Isso não parece ser real.

Deve ser um surto coletivo.

— Vai se acostumar com o tempo. — Evelyn pareceu ler os meus pensamentos.

— Espero.

— Você vai. Não há nada que Eloise Menezes não possa fazer.




Me odeie, mas me ame.Where stories live. Discover now