Capítulo Trinta e um. - Megera.

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Coloquei o lápis em cima da mesa, pegando o papel em minhas mãos. Depois de tanto forçar o meu cérebro, o croqui de um vestido havia saído de lá. Não era um peça maravilhosa, estava boa, mas não boa o suficiente. Suspirei em frustação, amassando o papel, o jogando na lixeira.

Como posso estar tão ruim em algo que sempre fui boa?

Comecei a rodar na cadeira giratória, em busca de algum pensamento inspirador, mas parei quando o enjoou me abateu. Tinha esquecido desse pequeno detalhe antes de começar a girar. Coloquei a mão na barriga, acariciando o local, apenas pensando na vida.

— É bebê, parece que me transformei em um fracassada. Nem um simples croqui consigo fazer!

Nunca tinha parado para falar dessa maneira com o embrião, ao contrário de Nicolas, que fazia isso sempre que podia. Agora entendo porque ele o faz, é estranhamente bom.

— Você vai gostar de mim mesmo se eu não for boa o suficiente? Espero que sim.

— Senhorita Menezes? — A voz de Letícia surgiu por detrás da porta.

— Sim? — Tirei a mão da barriga no mesmo instante em que ela entrou na sala.

— A senhora tem visita. — Minha secretária parecia assustada, tentando me passar alguma mensagem com os olhos.

— Se for Nicolas, mande-o ir embora, não estou com cabeça para ladainhas!

— Não é ele.

Franzi o cenho, completamente confusa. Não costumo receber muitas pessoas no trabalho. Evelyn raramente vem aqui, e Nicolas só vem quando quer resolver alguma coisa. Então, quem seria?

— Deixem de enrolação, quero resolver isso logo! — Quase caí para trás quando vi a minha visita. Antônia estava com uma cara mais amargurada do que de costume, e me encarava com desdém. Ela mandou que Letícia saísse do cômodo, fechando a porta logo em seguida.

— O que a senhora faz aqui? — Foi a única frase que o meu cérebro conseguiu montar, porque eu já sabia a razão daquela ilustre visita.

— Descobri o que anda aprontando, senhorita Menezes.

— Não estou entendendo.

— Estou falando do golpe da barriga que quer aplicar no meu filho.

— Não estou aplicando golpe nenhum!

— Ah, não? — Riu sem humor. — Não é o que parece!

— A senhora me respeite! — Me levantei, alterada.

— Sempre soube que você era ambiciosa, mas nunca pensei que se rebaixaria a este ponto! Quem garante que esse filho é de Nicolas? Você pode muito bem ter engravidado de outro!

— Eu nunca faria isso! Eu nunca quis construir o meu sucesso nas costas de um homem, e nunca vou querer!

— Você seduziu o meu filho, quer mesmo que eu acredite nesse discursinho feminista?!

— A senhora é louca!

— Quanto você quer?

— O quê?

— Quanto você quer para dar um fim nessa criança e sair da vida do meu filho? Vamos lá, diga!

Eu não podia acreditar no que ela estava dizendo. Fiquei paralisada com tamanha insensibilidade daquela mulher.

— Você não pode estar falando sério.

— Nunca fui tão séria em minha vida. — Falou com frieza. — Vamos lá, Eloise, escolha o valor que quiser!

— Não quero nada seu! — Lutei contra as lágrimas que se formavam nos cantos de meus olhos.

— Não faça esse joguinho, eu sei que quer!

— Vai embora daqui, não quero nem mais olhar para a sua cara! — rosnei.

— Você vai se arrepender por isso, Eloise!

Andei até a porta, abrindo-a para que aquela megera pudesse sair.

— Sai daqui! — falei alterada.

Ela me olhou de uma forma odiosa, provavelmente querendo me matar com aquele olhar.

— Depois não diga que eu não avisei! — Falou antes de passar pela porta.

As pessoas que estavam ali olharam em minha direção, cochichando entre si, e aquilo aumentou ainda mais a minha raiva.

— Estão olhando o quê? Vão trabalhar! — Bradei, fechando a porta com força.

Me joguei no chão, libertando as lágrimas que havia prendido. Naquele momento me arrependi profundamente de ter me envolvido com Nicolas. Me arrependi de ter aceitado ser a sua noiva de mentira. Eu tinha fodido com a minha vida, aquela era a verdade. Tudo estava arruinado.

Escutei a porta ser aberta, e logo em seguida dois braços rodearam o meu corpo. Olhei para cima, reconhecendo Letícia. Aquela demonstração de compaixão me fez chorar ainda mais. Sempre odiei que tivessem pena de mim, nunca gostei de ser uma coitadinha. Mas, naquele momento, eu realmente precisava de um abraço.

Não consegui ficar até o fim do expediente, meu psicológico estava abalado demais para isso. Chamei um carro por aplicativo e fui para casa na primeira oportunidade. Respirei aliviada assim quando pus meus pés no hall do meu prédio, me senti segura outra vez.

— Senhorita Menezes — o porteiro me chamou antes que eu entrasse no elevador.

—Sim?

— Deixaram esta encomenda para a senhora!

— Obrigada.

Peguei a caixinha que estava em suas mãos, curiosa para descobrir quem seria o remetente, mas só havia o meu nome nas informações. Curiosa, não aguentei esperar até em casa para descobrir o que era, abri assim que as portas do elevador se fecharam. Um Post-ti, colado no produto, chamou a minha atenção. Nele estava escrito:

 "Para monitorarmos a nossa sementinha.

                                                                                         N. M"

Nicolas...

Ele havia me enviado um monitor fetal. Só de ver o objeto, já dava para ver que tinha custado os olhos da cara, mas eu não me importei com aquilo naquele momento. Já não estava me importando com mais nada naquele dia. Eu estava devastada, completamente acabada.

A primeira coisa que fiz ao entrar em casa foi testar o monitor. Li o manual, coloquei os fones, e procurei o bebê com o aparelho, até achar o seu coraçãozinho. E ali, eu chorei mais uma vez, mas não foi um choro só de tristeza, foi também de emoção. Eu ainda não conseguia acreditar naquilo. Não conseguia acreditar que existia outro coração além do meu, outro coração batendo dentro de mim.

Me odeie, mas me ame.Where stories live. Discover now