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Carter

Ao deparar-me com a majestosa mansão, fiquei boquiaberta. Era simplesmente enorme. Quando a minha mãe mencionou que se casara com o seu primeiro amor do ensino secundário, imaginei que fosse alguém do nosso círculo social, não o proprietário de uma mansão no coração de Londres.

Passei cerca de 30 segundos a admirar toda a fachada daquela que seria a minha nova residência antes de ser envolvida por um abraço cheio de quatro anos de saudades, conforme a minha mãe descreveu, depois de insistir para que me soltasse.

Esta era a minha estreia em Londres, na verdade, era a minha primeira vez fora dos Estados Unidos, e ao que parecia, eu estava aqui para ficar. Depois do casamento da minha mãe, ela começou a pedir-me para me mudar para Londres, para que pudéssemos viver juntas, juntamente com o novo marido e o filho dele, a quem ainda não tive a oportunidade de conhecer. No início, recusei-me a fazê-lo, pois parecia sem sentido. Eu tinha vivido toda a minha vida em Nova Iorque e tinha um relacionamento de seis anos que deixei para trás, após a minha mãe garantir-me uma vaga como professora de Literatura Moderna na Universidade de Londres, onde ela também lecionava economia há cinco anos.

Foi uma escolha difícil, mas a verdade é que minha relação com o Ethan se tornou, no mínimo, monótona. Começamos a namorar quando eu tinha 19 anos, e desde então, nunca mais nos separámos, até o dia em que nos transformámos apenas em parte da rotina um do outro. Não vou mentir e dizer que não chorei, pois chorei bastante, mas creio que o principal motivo das minhas lágrimas, foi quando percebi que já não o via da mesma forma. Era estranho, pois eu o amava, mas não amava a pessoa que estava diante de mim. Então deixá-lo no passado, não foi tão devastador, como imaginei. Se é que isso faz algum sentido...

- Anna, filha! As saudades que tive! – a minha mãe abraçou-me mais uma vez enquanto o motorista tirava as minhas malas de dentro do carro e devo ainda acrescentar... que carrão!

- Mãe, por favor! – resmunguei, sendo envolvida pelos seus braços – Estás a apertar-me.

- São abraços de 4 anos de saudade Anna! Sou tua mãe, deixa-me!

Dei um sorriso mascarado pelo desconforto e deixei-me ser abanada como um fantoche por mais uns segundos, até o bonitão do meu padrasto aparecer, no cimo das escadas, que davam para a entrada da casa.

- Anna! É um prazer finalmente te poder conhecer pessoalmente. – o Michael sorriu-me abertamente, enquanto descia o lanço de escadas que nos separava.

- Olá! – soei tímida.

- Abraça o Michael, filha! – incentivou-me a minha mãe antes do seu marido me puxar para um abraço quase tão apertado como o dela.

Naquela altura, já devia estar completamente despenteada. Detestava ser abraçada, e sabia que se o manifestasse em voz alta seria alvo de julgamentos, mas a verdade é que detestava mesmo e estava a fazer um esforço consideravelmente grande para não revelar o meu desconforto.

Quando o Michael me libertou, pude finalmente ter um vislumbre de quão alto e bonito ele realmente era. O seu cabelo era escuro, com alguns fios grisalhos que lhe conferiam charme. Possuía um perfil forte e angelical, se é que isso é sequer possível, e os seus olhos eram de um verde hipnotizante. Não era difícil perceber por que razão a minha mãe se mostrava tão apaixonada sempre que me falava dele nas nossas videochamadas, e se ele fosse realmente tão amável quanto parecia, a minha mãe tinha ganho na lotaria.

Fui guiada a explorar toda a casa, desde o hall magnífico até ao jardim com piscina, e só isso levou quase meia hora. A minha mãe fez questão de não deixar escapar nenhuma divisão, e quando finalmente chegámos à porta do que seria o meu quarto, ela decidiu criar suspense.

- Devo confessar que passei um bom tempo à procura da decoradora indicada para me ajudar a decorar o teu quarto e sei que estás assoberbada, porque até agora tudo o que viste não tem nem um pouco a ver com a vida que levávamos em Nova Iorque, mas asseguro-te que fiz todos os esforços possíveis e imagináveis para fazer deste quarto o teu lugar especial.

Levantei as sobrancelhas, meio que querendo rir um pouco do seu discurso – Mãe, podes estar tranquila, ok? Eu já não tenho mais 15 anos, e sim! Isto é uma mudança abrupta, mas tu também me deste a oportunidade de uma nova vida aqui e eu pretendo agarrá-la. Eu sei que me mostrei muito relutante a princípio, mas podes estar tranquila, eu vim com intenção de ficar...

Ela sorriu, e inspirou fundo, antes de me abraçar pela vigésima vez naquele dia.

- Mãe... por favor... - sacudi-me do aperto do seu abraço.

- Há coisas que não mudam, não é? – riu do meu desconforto, antes de me soltar – Ah! Este em frente é o quarto do teu irmão, Leonardo. – apontou para a porta na frente do meu novo quarto - Ele não está em casa ainda, só chega mais tarde. Provavelmente só se vão conhecer na festa.

Ah, a festa... quase me esquecia da festa... Hoje o meu padrasto ia celebrar duas décadas de carreira como juiz e tinha convidado uma boa parte da elite londrina para festejar essa data na sua mansão.

- Certo. – concordei, tentando não mostrar a minha falta de entusiasmo. Sem demora, a minha mãe abriu a porta do que seria, a partir de agora, o meu quarto, e não consegui evitar formar um grande "O" de admiração, quando entrei. Estava perfeito.

Ela conhecia-me bem demais, o que era evidente desde a escolha do papel de parede até às almofadas e carpetes claras que conferiam ao meu quarto um aspeto acolhedor e elegante.

- Está perfeito. – assegurei-lhe, com um sorriso nos lábios.

- Gostas mesmo? Se quiseres, posso mudar algumas coisas.

- Não mãe, está perfeito. – repeti, agora olhando para ela – Não há absolutamente nada que eu queira mudar.

Ela mostrou-me o armário, cheio de roupas novas que eu nunca sonhei sequer em ter. Eram marcas caras, algumas eu nem conhecia, mas os preços nas etiquetas revelavam o luxo em todas aquelas peças.

- Eu fiz questão de escolher todas estas roupas, mas como te disse antes, se houver algo que não gostes, sempre podemos comprar roupa nova.

Mesmo que não gostasse de metade das peças que estavam ali, aposto que continuava a ter mais roupa do que alguma vez tive num armário, ou em dois.

Tranquilizei-a sobre tudo e agradeci-lhe mais uma vez. Ela permaneceu no quarto comigo por mais uns vinte minutos, até perceber que eu realmente precisava de descansar um pouco se quisesse estar presente na festa mais tarde. Não saiu sem antes trazer-me um vestido para usar na festa, e depois abraçou-me, como se os abraços dela ainda não tivessem sido suficientes. Finalmente, deixou-me sozinha, e eu deitei-me. 

TouchWhere stories live. Discover now